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02 NEURÔNIO
Quem consegue ser moderno o tempo inteiro?
JÔ HALLACK
NINA LEMOS
RAQ AFFONSO
Quando tínhamos 18 anos, ser moderno era
assim, você podia ficar gostando só de uma
banda por 36 meses que tudo estava ótimo.
Tipo você só ouvia Pixies e isso era considerado cool. Hoje não. Se manter em dia com a
0 modernidade virou uma chatice, algo que
toma todo o seu tempo e torra a sua paciência. Afinal, você começa a gostar de uma banda incrível nova e três dias
depois é praticamente cafona dizer que gosta daquilo. Os
quinze minutos de fama de Andy Warhol já se transformaram em cinco segundos de hype e olhe lá. Tem suas
vantagens. Porque se você não sabe quem é a nova banda-mais-cool-do-mundo-da-última-semana, não precisa se sentir diminuído. Afinal, isso já será considerado cafona no domingo. Mas querer ficar se sentindo "moderno" é que é cafona?! Bom, não vamos discutir o óbvio.
Uma dos fenômenos mais engraçados dos últimos tempos foi o hype das pulseiras de borracha beneficentes. Como vocês sabem, tudo começou com a pulseirinha amarela do Lance Armstrong, cuja renda era revertida para a
pesquisa da cura do câncer. No começo era uma coisa para poucos. Você tinha que conhecer o parente de um vizinho que tivesse viajado para os EUA e comprado uma saca de pulseiras para ter uma. Sempre achamos um pouco
cafona, mas o fato é que a coisa virou febre. Dois meses
depois, foi decretado que o novo hype era a pulseira branca e preta para combater o racismo nos esportes. Lutar
pela cura do câncer já tinha virado brega. Hoje, se você
for na 25 de março vai encontrar dúzias e dúzias de pulseiras de borracha da cura do câncer, das vítimas do tsunami, dos portadores de joanete ou de outra tragédia.
Sim, são beneficentes: a renda é revertida para a família
do cara que cuida da banquinha. O que até é justo. Afinal,
se podemos colaborar com a cura do câncer, porque não
podemos também ajudar com o leite das crianças?!
Pensando nisso, resolvemos propor a criação de uma
pulseira de borracha para ajudar pessoas que perderam o
bonde da modernidade. A renda seria revertida para pessoas que como nós ainda não têm um Ipod. Só assim poderíamos continuar "nos sentindo moderninhas".
Afinal, como disse nosso amigo Vladimir Cunha, do
Ressaca Moral, parafraseando o amado Wander
Wildner... "Eu não consigo ser moderno o tempo
inteiro."
Momentos de histeria
Quem persegue o bonde da modernidade pega o bonde errado
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