São Paulo, segunda-feira, 20 de junho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

02 NEURÔNIO

Quem consegue ser moderno o tempo inteiro?

JÔ HALLACK
NINA LEMOS
RAQ AFFONSO


Quando tínhamos 18 anos, ser moderno era assim, você podia ficar gostando só de uma banda por 36 meses que tudo estava ótimo. Tipo você só ouvia Pixies e isso era considerado cool. Hoje não. Se manter em dia com a 0 modernidade virou uma chatice, algo que toma todo o seu tempo e torra a sua paciência. Afinal, você começa a gostar de uma banda incrível nova e três dias depois é praticamente cafona dizer que gosta daquilo. Os quinze minutos de fama de Andy Warhol já se transformaram em cinco segundos de hype e olhe lá. Tem suas vantagens. Porque se você não sabe quem é a nova banda-mais-cool-do-mundo-da-última-semana, não precisa se sentir diminuído. Afinal, isso já será considerado cafona no domingo. Mas querer ficar se sentindo "moderno" é que é cafona?! Bom, não vamos discutir o óbvio.
Uma dos fenômenos mais engraçados dos últimos tempos foi o hype das pulseiras de borracha beneficentes. Como vocês sabem, tudo começou com a pulseirinha amarela do Lance Armstrong, cuja renda era revertida para a pesquisa da cura do câncer. No começo era uma coisa para poucos. Você tinha que conhecer o parente de um vizinho que tivesse viajado para os EUA e comprado uma saca de pulseiras para ter uma. Sempre achamos um pouco cafona, mas o fato é que a coisa virou febre. Dois meses depois, foi decretado que o novo hype era a pulseira branca e preta para combater o racismo nos esportes. Lutar pela cura do câncer já tinha virado brega. Hoje, se você for na 25 de março vai encontrar dúzias e dúzias de pulseiras de borracha da cura do câncer, das vítimas do tsunami, dos portadores de joanete ou de outra tragédia.
Sim, são beneficentes: a renda é revertida para a família do cara que cuida da banquinha. O que até é justo. Afinal, se podemos colaborar com a cura do câncer, porque não podemos também ajudar com o leite das crianças?!
Pensando nisso, resolvemos propor a criação de uma pulseira de borracha para ajudar pessoas que perderam o bonde da modernidade. A renda seria revertida para pessoas que como nós ainda não têm um Ipod. Só assim poderíamos continuar "nos sentindo moderninhas".
Afinal, como disse nosso amigo Vladimir Cunha, do Ressaca Moral, parafraseando o amado Wander Wildner... "Eu não consigo ser moderno o tempo inteiro."

Momentos de histeria
Quem persegue o bonde da modernidade pega o bonde errado

Texto Anterior: Humilhação também vem pela internet
Próximo Texto: Cinema: Rebeldia indomável
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.