São Paulo, segunda-feira, 20 de agosto de 2007

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comportamento

Neo-sertanejos

Novo sertanejo conquista universitários e atrai jovens para rodeios e festas country na capital

Joel Silva/Folha Imagem
Danilo, 17, Jader, 16, e Raphael, 17, disputam rodeio júnior da Festa do Peão de Barretos, que vai até domingo


LETICIA DE CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Eles se vestem a caráter, freqüentam rodeios e não perdem um show de música sertaneja. Embora morem na capital e não dispensem o agito da cidade grande, sentem falta da tranqüilidade do interior. Embalados por um novo subgênero da música caipira, o dançante sertanejo universitário, esses estudantes estão fazendo do country uma nova preferência nacional.
Em São Paulo, essa cena tem baladas e códigos específicos. Villa Country, Estância Alto da Serra e Rancho do Serjão são casas que chegam a reunir até 10 mil pessoas por noite para ouvir country americano e sertanejo nacional.
O figurino - "traia" para os iniciados (veja glossário)- é o mesmo para meninos e meninas: chapéu de boiadeiro, camisa xadrez, cinto com fivela, bota de caubói. Minissaias e sandálias de salto alto são para iniciantes. "É uma galera mais discreta; as garotas se vestem quase como meninos", diz Mônica Sampaio, 19, que vai aos shows devidamente traiada.
Diferente de outras baladas, as neo-sertanejas são conhecidas pelo clima "família". Nada de pegação. O que vale é a paquera respeitosa e sem malícia, que começa na pista de dança e avança, depois de alguns rodopios, para o beijo na boca.
"É um clima mais comportado. As pessoas costumam ficar juntas a noite inteira. Não tem essa história de sair beijando um monte de gente", diz o estudante Marcelo Walton, 19, que começou a gostar de música sertaneja aos sete anos, por influência dos primos que moram no interior.

Preferência universitária
Para ele, o atual boom country nas universidades tem a ver com a renovação musical promovida por duplas como César Menotti & Fabiano (leia entrevista na pág. 8), Edson & Hudson e Bruno & Marrone, os grandes expoentes do chamado sertanejo universitário. "É um som mais animado, romântico e bem-humorado, sem tantas referências à vida no campo", diz o garoto, que também é fã da música caipira de raiz de artistas como Tião Carreiro & Pardinho e Tonico & Tinoco.
A pegada pop e as letras de amores frustrados dos novos artistas atraíram a estudante Luísa Galvão, 19, para o novo sertanejo. "Comecei a curtir depois de uma desilusão amorosa. Me identifiquei muito com as letras", confessa.
Para ela, o sertanejo já substitui o pagode e o forró na preferência universitária.
Paulistana "da gema", ela não se imagina morando no cenário bucólico retratado na música caipira clássica. "Sou muito urbana, não agüento muito tempo no interior", diz.
Já o estudante Edvaldo Araboni, 19, não agüenta ficar longe da roça por muito tempo.
Mineiro do interior, ele veio para São Paulo para estudar e, sempre que pode, foge para o mato para visitar os pais. "Vou aos shows e às baladas sertanejas aqui em São Paulo para matar as saudades de casa", diz.
Nascida em Boituva, Thaís Sarubbi, 22, veio para a capital para estudar arquitetura mas pretende voltar para o interior assim que terminar a faculdade. "Quando cheguei a São Paulo, as pessoas ficavam muito curiosas sobre o interior, me faziam umas perguntas absurdas, tipo se a gente andava de carroça", diz a garota, que matou as saudades do campo no show do Bruno & Marrone na quinta passada, na Villa Country.
A pecha de caipira divide os novos adeptos da cultura sertaneja. "Sou caipira com muito orgulho. Arrasto o "erre" e como tudo com farinha", diz Fernanda Miranda, 19. Já Marcelo Walton, apesar de adorar uma cavalgada e ir regularmente para o interior, não curte o termo. "Não me considero caipira. É um termo pejorativo".

Comitivas
Os adeptos dessa cena costumam se organizar em comitivas, grupos de amigos que freqüentam festas e shows sertanejos juntos e organizam viagens para rodeios no interior. Na balada, são reconhecidos pelo uniforme: traia e camiseta com o logo da comitiva.
Jéssica Branco, 21, está há dois meses na comitiva Travados e Furiosos. "Para entrar, você precisa ser convidado e passar por uma avaliação. Nesse período, eles prestam atenção para saber se você não é do tipo que bebe muito e dá escândalo", explica a estudante.
Ações beneficentes, como arrecadação e distribuição de alimentos e de cobertores, também estão entre as atribuições das comitivas. Mas o mais importante é organizar fartos churrascos, festas e arrasar nas coreografias country.
"Não tem concorrência entre as comitivas, é todo mundo amigo", diz Fernanda Miranda, fundadora da Galera Coração.


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