São Paulo, segunda-feira, 20 de novembro de 2006

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Música

Mercado indie

Rough Trade, lendária loja de discos londrina, completa 30 anos

MANUELA MINNS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM LONDRES

Imagine uma clássica loja de música, com muitos pôsteres nas paredes, discos espalhados pelas prateleiras, garotos fanáticos por bandas e vendedores apaixonados por som.
Um clima meio "Alta Fidelidade", o cultuado livro do inglês Nick Hornby sobre um sujeito viciado em música e dono de uma loja de discos.
Esse é o espírito da Rough Trade, uma pequena loja no coração de Notting Hill, bairro badalado de Londres, que acaba de completar 30 anos.
"Na verdade, o livro foi inspirado em outra loja, mas o filme teve a gente como modelo. Um dia, o diretor Stephen Frears, que mora aqui perto, apareceu com o ator John Cusack e falou: "Então, é isso o que eu quero'", conta Nigel House, um dos donos da Rough Trade.
"Mas não somos tipos metidos que vão enxotar quem não gosta das mesmas coisas que a gente", esclarece House, que entre uma frase e outra informa a um cliente que o álbum que ele encomendou chegará no dia seguinte e ao mesmo tempo passa os fones de ouvido para outro ouvir uma música.
O que move a Rough Trade é a busca pelos melhores sons, coisas novas e exclusivas, e o repasse dessas descobertas para as outras pessoas. "Você já ouviu falar no grupo CSS (sigla para a banda brasileira Cansei de Ser Sexy)?", dispara Nigel. "São incríveis, jovens e têm uma vibração muito forte. Já vendemos muitos CDs deles." O funk carioca e Os Mutantes também se somam aos CDs de rock, punk, jazz e outros mil estilos que têm boa saída por lá.

Túnel do tempo
A Rough Trade foi fundada em 1976 por Geoff Travis. Na época, vendia principalmente álbuns de punk e de reggae.
Dois anos depois, Travis expandiu seus domínios com o selo Rough Trade Records, que lançou uma das mais importantes bandas britânicas da década de 80, os Smiths. Aztec Camera e The Fall foram outras apostas do selo, que fechou temporariamente na década de 90, mas já voltou à ativa.
Má administração e apostas em álbuns caros e com pouca saída levaram Travis a decidir fechar a loja, em 1982. Mas, antes de liquidar tudo, ele conversou com o time de vendedores para dar a notícia.
"Dissemos: "Peraí, a gente compra a loja de você'", lembra Nigel House, que começou como vendedor em 1981. A equipe que trabalhava na loja reunia jovens recém-saídos da faculdade, sem filhos nem financiamento de apartamento para pagar. Não tinha hora melhor.
Compraram tudo por preço de banana e recolocaram o negócio para funcionar.
Por causa de encanações do proprietário do imóvel onde funcionava a loja, tiveram que deixar a casa. Com os discos embaixo do braço, mudaram-se para a esquina, no número 130 da Talbot Road, onde estão até hoje. O entra-e-sai de cantores, novos músicos e seguidores de novidades é constante, principalmente aos sábados, quando a loja fica lotada.
Em 1987, o grupo abriu uma segunda loja em parceria com a Slam City Skates, em Covent Garden, também em Londres.
A história da Rough Trade, a loja, pode ser acompanhada pelo CD duplo que eles acabam de lançar. "The Record Shop: 30 Years of Rough Trade Shops" traz faixas das três últimas décadas selecionadas por clientes famosos como Bobby Gillespie, vocalista do Primal Scream, Jarvis Cocker, fundador do Pulp e Björk, entre outros.


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