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Música
Mercado indie
Rough Trade, lendária loja de discos londrina, completa 30 anos
MANUELA MINNS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM
LONDRES
Imagine uma clássica loja de música, com muitos pôsteres nas paredes, discos espalhados
pelas prateleiras, garotos fanáticos por bandas e vendedores apaixonados por som.
Um clima meio "Alta Fidelidade", o cultuado livro do inglês Nick Hornby sobre um sujeito viciado em música e dono
de uma loja de discos.
Esse é o espírito da Rough
Trade, uma pequena loja no coração de Notting Hill, bairro
badalado de Londres, que acaba de completar 30 anos.
"Na verdade, o livro foi inspirado em outra loja, mas o filme
teve a gente como modelo. Um
dia, o diretor Stephen Frears,
que mora aqui perto, apareceu
com o ator John Cusack e falou:
"Então, é isso o que eu quero'",
conta Nigel House, um dos donos da Rough Trade.
"Mas não somos tipos metidos que vão enxotar quem não
gosta das mesmas coisas que a
gente", esclarece House, que
entre uma frase e outra informa a um cliente que o álbum
que ele encomendou chegará
no dia seguinte e ao mesmo
tempo passa os fones de ouvido
para outro ouvir uma música.
O que move a Rough Trade é
a busca pelos melhores sons,
coisas novas e exclusivas, e o repasse dessas descobertas para
as outras pessoas. "Você já ouviu falar no grupo CSS (sigla para a banda brasileira Cansei de
Ser Sexy)?", dispara Nigel. "São
incríveis, jovens e têm uma vibração muito forte. Já vendemos muitos CDs deles." O funk
carioca e Os Mutantes também
se somam aos CDs de rock,
punk, jazz e outros mil estilos
que têm boa saída por lá.
Túnel do tempo
A Rough Trade foi fundada
em 1976 por Geoff Travis. Na
época, vendia principalmente
álbuns de punk e de reggae.
Dois anos depois, Travis expandiu seus domínios com o
selo Rough Trade Records, que
lançou uma das mais importantes bandas britânicas da década de 80, os Smiths. Aztec
Camera e The Fall foram outras apostas do selo, que fechou
temporariamente na década de
90, mas já voltou à ativa.
Má administração e apostas
em álbuns caros e com pouca
saída levaram Travis a decidir
fechar a loja, em 1982. Mas, antes de liquidar tudo, ele conversou com o time de vendedores
para dar a notícia.
"Dissemos: "Peraí, a gente
compra a loja de você'", lembra
Nigel House, que começou como vendedor em 1981. A equipe
que trabalhava na loja reunia
jovens recém-saídos da faculdade, sem filhos nem financiamento de apartamento para
pagar. Não tinha hora melhor.
Compraram tudo por preço
de banana e recolocaram o negócio para funcionar.
Por causa de encanações do
proprietário do imóvel onde
funcionava a loja, tiveram que
deixar a casa. Com os discos
embaixo do braço, mudaram-se para a esquina, no número
130 da Talbot Road, onde estão
até hoje. O entra-e-sai de cantores, novos músicos e seguidores de novidades é constante,
principalmente aos sábados,
quando a loja fica lotada.
Em 1987, o grupo abriu uma
segunda loja em parceria com a
Slam City Skates, em Covent
Garden, também em Londres.
A história da Rough Trade, a
loja, pode ser acompanhada pelo CD duplo que eles acabam de
lançar. "The Record Shop: 30
Years of Rough Trade Shops"
traz faixas das três últimas décadas selecionadas por clientes
famosos como Bobby Gillespie,
vocalista do Primal Scream,
Jarvis Cocker, fundador do
Pulp e Björk, entre outros.
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