São Paulo, segunda-feira, 20 de novembro de 2006

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movimento

Baladinha hip hop

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Desde a sua inauguração, em 2004, a Galeria Olido -que fica na av. São João, 473, no Centro- tornou-se ponto de encontro da galera engajada ou simpatizante do hip hop, que vem de todas as regiões da cidade para curtir as apresentações nas noites de quinta-feira.
Das 19h às 22h, jovens assistem às apresentações gratuitas de grupos de rap iniciantes. "É um público cativo. Muitos saem do trabalho e vêm assistir aos shows antes da primeira aula da faculdade", afirma Marcelo Silva, conhecido como Max B.O., funcionário da galeria e ele próprio um MC de destaque na modalidade freestyle, que exige a capacidade de improvisar rimas.
Por causa do teor politizado das letras, os encontros vão além da diversão. São também momentos de intercâmbio cultural. Entre os DJs e os MCs é rotina, por exemplo, a troca de CDs, com músicas garimpadas em discos, em lojas especializadas ou pesquisadas na internet. "Desde os meus 15 anos, época da fita cassete, eu pesquiso rap underground dos Estados Unidos e de outros países, além de r&b, jazz, funk e samba, e faço conexão com pelo menos uns 20 camaradas do hip hop", conta Evandro Pereira, o MC Nego Vando, 29, de Pirituba.
Um desses camaradas é Valter Marcelino, o MC Romer Attack, 25, do Itaim Paulista, que já gravou um CD independente. "Quando não estou trabalhando, aproveito para ouvir músicas novas", conta.
Os primeiros versos podem surgir durante as aulas. "Meu primeiro rap eu escrevi para apresentar um seminário de literatura portuguesa", conta Valter de Souza Júnior, 25, o MC Phantom, do Jaraguá.
Ele, que já era bom aluno e gostava de usar metáforas, tirou nota dez nas provas e não parou mais de rimar. Mais tarde, conheceu Erasmo Magalhães, o MC Indião, 21, morador de Pirituba, que aos 13 anos também já rimava por diversão.
"Vi as letras compromissadas do Phantom e gostei. Aí misturei o que eu já fazia com assuntos sérios." Juntos, os dois MCs formam o Andrômeda, grupo que gravou seu primeiro CD independente no ano passado.
As baladas servem também como oportunidade de distribuição dessas produções independentes. É uma via alternativa para disseminar o trabalho de quem está começando. Os discos são vendidos a R$ 3 ou até mesmo dados.
DJs, por exemplo, têm preferência, pois, se gostarem do som, podem executá-lo nas pistas e passar a outros DJs.
Foi com essa distribuição que o CD do Andrômeda, "Boca do Lixo", chegou às mãos de KL Jay, DJ do Racionais, e teve algumas faixas executadas na rádio FM 105, dedicada ao rap. O disco também rendeu convites para o grupo integrar duas coletâneas. (DENISE BRITO)


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