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movimento
Estilo chega à universidade
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"A juventude de classe média quer falar igual a gente,
vestir, dançar igual, só não
quer ser a gente, ter a nossa
vida. Nem nós queremos a
deles. Nós sabemos nos divertir sem grana, eles não.
Queremos apenas ampliar
nosso campo de trabalho, ganhar dinheiro com isso." A
afirmação de Thaíde ganha
respaldo em vários estudos
acadêmicos que vêem no
movimento do hip hop nacional uma força de proporções ainda subestimada.
"O rap colocou a periferia
na moda", afirma Pedro
Guasco, antropólogo da USP
e autor de tese de mestrado
sobre o assunto. Na análise
do pesquisador, esse é um
dos resultados da exaltação
da origem negra, pobre e de
periferia, não só nas letras,
mas também na estética das
roupas, acessórios, cabelos.
A ênfase nesses elementos
de origem, segundo ele, trouxe à tona e construiu uma
identidade que é motivo de
orgulho. "É uma forma de inverter o discurso dizendo "se
o lugar de onde venho é tão
ruim, então quem vem desse
mundo tem capacidade e valor; é um herói"."
Vários aspectos da qualidade da produção artística e
de críticas do rap são abordados pelo meio acadêmico.
Segundo alguns desses estudos, a violência como tema
provoca uma equivocada interpretação.
"Quem ouve só uma parte
da letra pode dar um sentido
diferente. É verdade que eles
narram muito o tema, mas a
apologia ao crime não está ligada aos fundamentos do
rap. Os grupos que defendem a violência não andam
junto com eles nem são bem
aceitos pelos mais politizados", diz Guasco.
Afora isso, há o componente artístico de grande peso na propagação das mensagens. "Há uma construção
tão rica, a condição psicológica dos personagens, a forma como as histórias vão se
cruzando, toda uma ambientação sonora de fundo muito
bem preenchida, que parece
uma experiência cinematográfica", observa Guasco.
Ele cita a faixa "Tô Ouvindo Alguém Me Chamar", do
Racionais, em que há um encaixe perfeito da letra com os
sons de fundo, como a batida
do coração do personagem
que conta a história.
Para Bruno Zeni, mestre
em teoria literária pela USP,
"a denúncia do Racionais
MCs não poderia ser mais
grave: "Nós, pretos e pobres
da periferia, vivemos segundo a lei da selva, lei que, apesar de absurda e violentadora, já foi incorporada à cultura brasileira, em que é normal ver os negros pobres
presos ou mortos'".
A história do movimento
está apenas começando a ser
organizada em estudos que
comportam diversas áreas
do conhecimento, como a
sociologia, a antropologia, a
pedagogia, a psicologia, o
jornalismo e as letras. "A
abrangência de abordagens e
de enfoques dá a medida da
riqueza e da complexidade
do fenômeno", diz Zeni.
(DB)
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