São Paulo, segunda-feira, 21 de julho de 2008

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Balada

Uma rua chamada Augusta

Abertura de novas casas noturnas atrai cada vez mais jovens para a rua Augusta, que tem hoje uma das noites mais animadas de SP

Leandro Moraes/Folha Imagem
Punks, skinheads, emos e roqueiros em geral se cruzam na Augusta

DANIEL SOLYSZKO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Em meio a prostitutas e tipos sinistros, uma horda de adolescentes usando jeans e tênis começa a surgir. Em meio a risadas e burburinhos, entre uma bebida e outra, decidem o que fazer e onde ir. As calçadas lotam, e o trânsito, já lento, fica praticamente paralisado.
Assim tem início uma típica noite em um dos lugares mais boêmios de São Paulo, a rua Augusta. Popularizada nos anos 60 graças ao hit da Jovem Guarda que falava em subir a rua "a 120 por hora" -algo impossível nos dias de hoje- o local já passou por tantas transformações desde então que é difícil associá-lo a esse antigo charme nostálgico.
Após anos em decadência, quando era conhecida apenas por suas casas de prostituição, a rua começou a atrair casas noturnas descoladas e acabou conquistando um público jovem e diferente.
Para quem passou a freqüentar a região mais recentemente ou veio de outro estado, porém, a impressão é de que ela sempre foi agitada.
"Para mim, ela sempre foi uma rua do rock. O primeiro show que eu fiz aqui foi há cinco anos, e já tinha uma galera jovem. Eu sentia que era uma rua especial", diz Pedro Pelotas, 24, tecladista do Cachorro Grande.
O músico circula pelas casas de indie rock, o primeiro estilo musical a concentrar seguidores na região. O movimento nos bares, que começou nas proximidades do Espaço Unibanco de Cinema, está se expandindo cada vez mais em direção ao centro. Uma das maiores concentrações está atualmente na esquina com a rua Fernando de Albuquerque, onde os jovens lotam as calçadas nos finais de semana.
O jornalista Humberto Finatti, que organiza uma festa mensal no clube Outs, diz: "o que eu chamo de "Baixo Augusta" está concentrando todas as baladas agora. Acho que a concorrência entre as casas acaba ajudando. O lugar tem um apelo que atrai o pessoal mais jovem, com um jeito singular de se vestir e de falar. A molecada quer uma coisa diferente do que vê na televisão, na vida normal, e se sente naturalmente atraída."
Por ser de fácil localização, muitos jovens de periferias e de bairros distantes freqüentam a rua, onde é comum ver turmas de adolescentes virando a madrugada. "A Augusta é legal porque tem mais gente bonita. Moramos na zona leste, saímos de lá justamente para procurar coisas legais aqui", afirma Camila Roque, 18, que costuma freqüentar as casas de rock e alguns bares da região em companhia dos amigos.
Além de servir como ponto de encontro, a rua reúne jovens com gostos musicais e estéticos diferentes, funcionando como uma espécie de pólo cultural onde é possível encontrar todos os tipos de turmas.
Há quem acredite que por atrair tantos tipos diferentes, é natural que surjam conflitos. O ataque de grupos de skinheads vem se tornando comum nos últimos meses. Entre suas vítimas favoritas estão os gays e emos que freqüentam a região.
Para Finatti, se há um problema na Augusta, ele se resume aos skinheads. "É uma das facções mais intolerantes que existem", observa. Já o skatista Mateus Volkova, 16, tem uma opinião diferente: "eles não vão brigar se não forem provocados. Se você ficar tranqüilo não vai arranjar confusão".
"Aqui é movimentado, mas está ficando perigoso. Acho que vai chegar uma hora em que a gente não vai poder mais vir", afirma a estudante Bianca Saavedra, 17. Bianca é fã de bandas como Le Tigre e Cansei de Ser Sexy, mas costuma sair com amigos de visual emo.
Há os que acreditam que a região está ficando saturada. Mesmo assim, novas casas noturnas continuam sendo inauguradas, atraindo cada vez mais público, o que mostra que a rua Augusta ainda tem uma longa vida pela frente.


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