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PRAZERES OCULTOS
Um guia completo para você tirar suas dúvidas sobre masturbação
JAIRO BOUER
COLUNISTA DA FOLHA
Acreditem: masturbação continua a gerar polêmica.
Quase 250 anos depois que o médico suíço Samuel
Auguste Tissot (1728-1797) escreveu, em 1758, um trabalho devastador sobre os supostos efeitos maléficos da
masturbação. Segundo ele, a prática podia levar até
mesmo à loucura -o que virou uma espécie de verdade científica até meados do século 20. Muita gente continua a achar que ela é mesmo um vício preocupante,
capaz de isolar as pessoas e de trazer graves consequências para a saúde.
Essa teoria vai na contramão do que pensa hoje a
maioria dos especialistas que trabalham com sexualidade humana. No mundo todo, eles pesquisam e escrevem trabalhos que mostram que a masturbação representa o começo da vida sexual das pessoas. É explorando o próprio corpo e o prazer que o jovem começa a
construir seu aprendizado sexual.
Depois de quase dez anos escrevendo sobre sexo e
saúde para adolescentes aqui no Folhateen, tendo
abordado o tema dezenas de vezes, eu imaginava que as
pessoas estivessem mais tranquilas quanto a essa questão. Engano! Uma coluna publicada há algumas semanas recebeu críticas de alguns leitores, inconformados
com a abordagem dada ao assunto.
Na coluna, um garoto que se sentia mal depois de se
masturbar pedia uma fórmula para parar com o ato.
Explicamos que a questão não era a interrupção, e sim a
tentativa de entender o porquê de se sentir culpado depois de entrar em contato com o próprio prazer.
Aliás, a dificuldade de lidar com a masturbação e com
o prazer é histórica. Na Inglaterra da era vitoriana (século 19), os pais usavam uma espécie de gaiola peniana
com pregos para evitar que seus filhos se masturbassem. Nos EUA, na virada do século 19 para o século 20, o
Escritório de Patentes registrava quase 500 aparelhos
antimasturbação. As religiões tradicionais, durante séculos, proibiram a masturbação, considerando o ato
um pecado e carregando de culpa a experiência do prazer.
Uma leitora escreveu: "A masturbação, no meu entender, só serve para isolar a pessoa e centrar seu "estar
consigo mesma" no prazer do próprio corpo... O que dizer de um jovem que, ao ficar só, já sente o apelo da esfregação, da lidação com o próprio corpo e faz disso
mais uma fuga da necessidade maior de repensar o
mundo?".
Outra leitora perguntou: "Será que essa humilhação
relatada pelo rapaz tão novo não tem origem no fato de
que os segundos de prazer por ele conseguidos tenham
seu início, meio e fim num cubículo forrado de azulejos
e com um vaso sanitário servindo de espectador? Pense
no que suas palavras de "conforto" podem significar para um garoto de 12 anos que, aos poucos, se vê cada vez
mais enredado na prática da masturbação".
Ou ainda um leitor: "Acho que o senhor perdeu uma
excelente oportunidade de ajudar muitos jovens que
decidiram "viver bem com seus desejos e com os prazeres" da masturbação, que precisam de orientação para
largar esse hábito".
É importante lembrar que, em geral, a masturbação
não traz nenhuma repercussão grave para a saúde e para a cabeça das pessoas. E que sua prática, mesmo que
regular, não significa problemas para lidar com o mundo ou a fuga de grandes dificuldades emocionais. É certo que algumas pessoas exageram e podem até mesmo
precisar de uma ajuda profissional, mas esse não é nem
de longe o retrato da maioria dos jovens.
Resolvemos então elaborar um dossiê com as dúvidas
mais frequentes que chegam ao Folhateen sobre masturbação. As respostas foram elaboradas a partir dos
conceitos atuais com que os especialistas trabalham a
sexualidade humana. São dúvidas de meninos e de meninas que podem ser as suas dúvidas. Trazendo o tema
mais uma vez para o foco das discussões, a intenção não
é chocar ou provocar. É mostrar o que se passa com a
moçada hoje e tentar tornar a sexualidade uma questão
mais clara e mais tranquila para as pessoas. Aproveite!
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