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FOLHATEEN EXPLICA
Era FHC não reduziu o problema social mais grave do Brasil
Diminuição da pobreza não disfarça má distribuição da renda
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Com Fernando Henrique Cardoso na Presidência (1995-2002), o Brasil conseguiu reduzir a pobreza. Mas a concentração de renda, problema mais grave do país, não mudou.
A estabilização da moeda não foi suficiente
para que o país deixasse de gerar injustiça social, e a economia brasileira concentra nas
mãos de 10% da população metade de toda a
riqueza produzida no país.
O índice Gini mostra pouca mudança nos
últimos dez anos. O indicador -uma das
principais ferramentas para medir a desigualdade- vai de 0 (igualdade perfeita) a 1
(maior desigualdade possível).
Em 1990, o índice brasileiro era de 0,62. Em
1993, havia caído para 0,60, permanecendo o
mesmo até o ano passado. Apenas três países
africanos muito pobres (Serra Leoa, República Centro-Africana e Suazilândia) são mais
desiguais que o Brasil.
Para ter idéia do que isso representa, um
brasileiro do grupo dos 10% mais ricos ganha,
em média, mais de 30 vezes o que recebe outro brasileiro que esteja entre os 10% mais pobres. Essa relação, segundo o Ipea, não tem
precedentes no mundo. Em apenas quatro
países, incluindo o Brasil, ela é maior do que
20 vezes, e só no nosso país ela ultrapassa as
30 vezes.
Ainda segundo o Ipea, apenas um terço da
população mundial vive em países com renda
per capita maior do que a do Brasil. Mais:
64% dos países para os quais há estatísticas
têm renda per capita menor do que a brasileira. E, em praticamente todos, a concentração
de renda é menor do que a do Brasil.
Se, por um lado, o problema da má distribuição de renda persiste, por outro, os níveis
de pobreza diminuíram nas duas gestões de
FHC. A economia estabilizada tirou da miséria cerca de 10 milhões de brasileiros que, em
1994, não ganhavam nem o suficiente para
comprar itens mais básicos de sobrevivência.
Mas a redução da pobreza foi quase um
efeito colateral do Plano Real, cujo objetivo
era controlar a escalada da inflação.
O primeiro efeito positivo da estabilização
ocorreu entre 1993 e 1995, de acordo com o
Ipea. Os brasileiros que estavam entre os 10%
mais pobres da população viram a sua renda
dobrar, pois os salários deixaram de ser corroídos pela alta frequente de preços.
Depois, em 1995, o aumento do salário mínimo para R$ 100 ajudou ainda mais no resgate
de miseráveis. Na época, essa alta foi de cerca
de 40%, generalizada para todos os pensionistas da Previdência, o que fez aumentar também os salários da economia informal.
O resultado foi que a proporção de pobres
caiu de 41,7% da população em 1993 para
33,5% em 1999, último ano para o qual o IBGE
tem dados da Pnad (Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios).
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