São Paulo, segunda-feira, 21 de outubro de 2002

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FOLHATEEN EXPLICA

Era FHC não reduziu o problema social mais grave do Brasil

Diminuição da pobreza não disfarça má distribuição da renda

MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Com Fernando Henrique Cardoso na Presidência (1995-2002), o Brasil conseguiu reduzir a pobreza. Mas a concentração de renda, problema mais grave do país, não mudou.
A estabilização da moeda não foi suficiente para que o país deixasse de gerar injustiça social, e a economia brasileira concentra nas mãos de 10% da população metade de toda a riqueza produzida no país.
O índice Gini mostra pouca mudança nos últimos dez anos. O indicador -uma das principais ferramentas para medir a desigualdade- vai de 0 (igualdade perfeita) a 1 (maior desigualdade possível).
Em 1990, o índice brasileiro era de 0,62. Em 1993, havia caído para 0,60, permanecendo o mesmo até o ano passado. Apenas três países africanos muito pobres (Serra Leoa, República Centro-Africana e Suazilândia) são mais desiguais que o Brasil.
Para ter idéia do que isso representa, um brasileiro do grupo dos 10% mais ricos ganha, em média, mais de 30 vezes o que recebe outro brasileiro que esteja entre os 10% mais pobres. Essa relação, segundo o Ipea, não tem precedentes no mundo. Em apenas quatro países, incluindo o Brasil, ela é maior do que 20 vezes, e só no nosso país ela ultrapassa as 30 vezes.
Ainda segundo o Ipea, apenas um terço da população mundial vive em países com renda per capita maior do que a do Brasil. Mais: 64% dos países para os quais há estatísticas têm renda per capita menor do que a brasileira. E, em praticamente todos, a concentração de renda é menor do que a do Brasil.
Se, por um lado, o problema da má distribuição de renda persiste, por outro, os níveis de pobreza diminuíram nas duas gestões de FHC. A economia estabilizada tirou da miséria cerca de 10 milhões de brasileiros que, em 1994, não ganhavam nem o suficiente para comprar itens mais básicos de sobrevivência.
Mas a redução da pobreza foi quase um efeito colateral do Plano Real, cujo objetivo era controlar a escalada da inflação.
O primeiro efeito positivo da estabilização ocorreu entre 1993 e 1995, de acordo com o Ipea. Os brasileiros que estavam entre os 10% mais pobres da população viram a sua renda dobrar, pois os salários deixaram de ser corroídos pela alta frequente de preços.
Depois, em 1995, o aumento do salário mínimo para R$ 100 ajudou ainda mais no resgate de miseráveis. Na época, essa alta foi de cerca de 40%, generalizada para todos os pensionistas da Previdência, o que fez aumentar também os salários da economia informal.
O resultado foi que a proporção de pobres caiu de 41,7% da população em 1993 para 33,5% em 1999, último ano para o qual o IBGE tem dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios).



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