São Paulo, segunda-feira, 22 de março de 2010

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COMPORTAMENTO

Entre parentes

Primos ficam, namoram e até se casam em família; pais nem sempre apoiam a ideia

HELOÍSA NEGRÃO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Você é louco, a gente é primo!" Essa frase interrompeu o primeiro beijo de Tatiane Trindade, 19, e Julielton Trindade, 26, primos de primeiro grau.
Ele respondeu que não tinha problema. Hoje, estão casados.
Pela lei, primos podem namorar e se casar no Brasil. Mas, quando o tema entra no aspecto moral, fica mais complexo.
Para Nazli Setton, 14, primos são como melhores amigos.
Ela diz confiar mais nos parentes porque os conhece "desde sempre". Mas, "apesar de ter primos lindos", Nazli diz que não "conseguiria nem imaginar" namorar um deles.
Tatiane, a casada com o primo, diz que se sentiu "confusa e culpada" por beijar alguém do mesmo sangue. A saída que encontrou foi separar o parente do amante. "Eu meio que esqueci, por um tempo, que ele era meu primo."
Antes de namorarem, Tatiane e Julielton eram quase estranhos. "Era só oi e tchau", diz ela. As coisas mudaram quando ela voltou de uma viagem. "A gente conversou melhor e eu gostei dela", diz Julielton.
Mas nem o pai de Tatiane nem a mãe de Julielton aceitaram o enlace. Para apaziguar os ânimos, o casal contou com a ajuda da avó, também casada com um primo.
Já Basílio*, 17, preferiu terminar o namoro de três meses com a prima. A família proibiu, com o argumento de que os filhos podem nascer com problemas e que Deus não permite.
Segundo Gláucia Marcondes, antropóloga e demógrafa familiar da Universidade Federal da Bahia, o medo de que os filhos nasçam com deficiência mental é o "principal mito sobre essas relações".
Hugo Balboni, 20, conhece bem os problemas genéticos. Seus pais são primos de primeiro grau, e seu irmão morreu logo após nascer, em razão de uma doença genética.
Hugo é saudável e namora a prima de terceiro grau há mais de um ano. Quer ter filhos, mas visitará um geneticista antes.
Para ele, há mais respeito entre namorados-primos. Afinal, se o romance acabar, os dois vão "ter de continuar se vendo para o resto da vida", diz.
Respeito também é o argumento de Heloísa Guimarães, 20, que namora o primo Lucas Hirayama, 23, há seis anos.
"Se um dia a gente terminar, ele vai ter de respeitar quando eu apresentar um novo namorado para a família."
Lucas é o primeiro namorado de Heloísa e vice-versa. O carinho entre os dois vem desde o berço e, para conquistar o único primo homem da família, ela teve de disputar com três primas que tentavam roubar beijo quando ele estava dormindo.
Os dois não são primos consanguíneos. Lucas foi adotado quando criança, o que não evitou problemas quando assumiram o romance. "O pai dela nem me cumprimentava", diz Lucas, que, com o tempo, conquistou o tio-sogro.
No caso de Amanda Albuquerque, 17, uma tia interferiu para que ela ficasse com o primo durante uma festa familiar.
Ela beijou o garoto quando tinha 14 anos e hoje fica com "um pé atrás" quando o vê. Decidiu-se: não quer mais saber "desse negócio" de ficar com parente.


* Nomes fictícios


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