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COMPORTAMENTO
Entre parentes
Primos ficam, namoram e até se casam em família; pais nem sempre apoiam a ideia
HELOÍSA NEGRÃO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"Você é louco, a gente
é primo!" Essa frase
interrompeu o primeiro beijo de Tatiane Trindade, 19, e Julielton Trindade, 26,
primos de primeiro grau.
Ele respondeu que não tinha
problema. Hoje, estão casados.
Pela lei, primos podem namorar e se casar no Brasil. Mas,
quando o tema entra no aspecto moral, fica mais complexo.
Para Nazli Setton, 14, primos
são como melhores amigos.
Ela diz confiar mais nos parentes porque os conhece "desde sempre". Mas, "apesar de ter
primos lindos", Nazli diz que
não "conseguiria nem imaginar" namorar um deles.
Tatiane, a casada com o primo, diz que se sentiu "confusa e
culpada" por beijar alguém do
mesmo sangue. A saída que encontrou foi separar o parente
do amante. "Eu meio que esqueci, por um tempo, que ele
era meu primo."
Antes de namorarem, Tatiane e Julielton eram quase estranhos. "Era só oi e tchau", diz
ela. As coisas mudaram quando
ela voltou de uma viagem. "A
gente conversou melhor e eu
gostei dela", diz Julielton.
Mas nem o pai de Tatiane
nem a mãe de Julielton aceitaram o enlace. Para apaziguar os
ânimos, o casal contou com a
ajuda da avó, também casada
com um primo.
Já Basílio*, 17, preferiu terminar o namoro de três meses
com a prima. A família proibiu,
com o argumento de que os filhos podem nascer com problemas e que Deus não permite.
Segundo Gláucia Marcondes,
antropóloga e demógrafa familiar da Universidade Federal da
Bahia, o medo de que os filhos nasçam com deficiência mental
é o "principal mito sobre essas
relações".
Hugo Balboni, 20, conhece
bem os problemas genéticos.
Seus pais são primos de primeiro grau, e seu irmão morreu logo após nascer, em razão de
uma doença genética.
Hugo é saudável e namora a
prima de terceiro grau há mais
de um ano. Quer ter filhos, mas
visitará um geneticista antes.
Para ele, há mais respeito entre namorados-primos. Afinal,
se o romance acabar, os dois
vão "ter de continuar se vendo
para o resto da vida", diz.
Respeito também é o argumento de Heloísa Guimarães,
20, que namora o primo Lucas
Hirayama, 23, há seis anos.
"Se um dia a gente terminar,
ele vai ter de respeitar quando
eu apresentar um novo namorado para a família."
Lucas é o primeiro namorado
de Heloísa e vice-versa. O carinho entre os dois vem desde o
berço e, para conquistar o único primo homem da família, ela
teve de disputar com três primas que tentavam roubar beijo
quando ele estava dormindo.
Os dois não são primos consanguíneos. Lucas foi adotado
quando criança, o que não evitou problemas quando assumiram o romance. "O pai dela
nem me cumprimentava", diz
Lucas, que, com o tempo, conquistou o tio-sogro.
No caso de Amanda Albuquerque, 17, uma tia interferiu
para que ela ficasse com o primo durante uma festa familiar.
Ela beijou o garoto quando tinha 14 anos e hoje fica com "um
pé atrás" quando o vê. Decidiu-se: não quer mais saber "desse
negócio" de ficar com parente.
* Nomes fictícios
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