São Paulo, segunda-feira, 22 de junho de 2009 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
COMPORTAMENTO "Eu amo igual"
Grupo de gays, lésbicas e transexuais teens se reúne uma vez por mês para se ajudar e dançar
CHICO FELITTI DA REPORTAGEM LOCAL A três quarteirões do ponto onde tradicionalmente acaba a Parada Gay, no centro de São Paulo, há uma casa onde a diversidade sexual é bem-vinda. Ao menos nas tardes dos primeiros domingos de cada mês, quando até 70 adolescentes gays lá se reúnem. Faz dois anos que esse grupo existe: é o Projeto Purpurina -ou "Purps", para entendidos. Nas sessões do "Purps", rolam vídeos educativos (sobre como a homossexualidade não é doença, por exemplo) e bate-papos entre os teens, com pitacos de psicólogos monitores. O final dos encontros é sempre festivo: afastam-se os colchonetes e as cadeiras que ocupavam a sala e o chão vira uma pista de dança, tocando de Britney Spears a Tim Maia. Uma das pessoas que não arreda pé da pista é a fundadora do evento, Edith Modesto, 71. Chamada pelos "purpurinos" de "mocinha sênior", tia Edith soube há 14 anos que um dos seus filhos era gay. Para entendê-lo, buscou mães e pais em situação igual. Nascia, na sala de sua casa, o GPH (Grupo de Pais de Homossexuais). Os pais se encontram uma vez por mês até hoje, e cerca de 20 de seus filhos formaram a primeira geração do "Purps", em 07. Se o GPH é marcado pelas agruras de quem tenta aceitar a diferença, o Purpurina é a sua celebração. E não é só isso. "É praticamente uma UTI para eles", diz o psicólogo Klecius Borges. Ele foi a reuniões do "Purps" e diz ter encontrado histórias "impressionantes". É o caso de Dália, 15, uma loira de cabelos longos que não dispensa o salto alto e que se chateia quando alguém a chama por seu nome masculino. O problema é que Dália nasceu menino, recebeu um nome masculino (que está em seu RG) e o manteve até se dar conta, aos 11 anos, de que se considerava menina. Dália é transexual: uma pessoa que nasce com a "cabeça" de um sexo e o corpo de outro. Atualmente, ela faz exames para poder tomar hormônios femininos e, aos 21 anos, fazer a cirurgia de mudança de sexo. Mas, enquanto espera, ela sofre: passou por sete colégios no último ano. Em todos teve problemas, como não poder entrar no banheiro das garotas ou ser motivo de chacota de alunos. Neste mês, ela começa a frequentar uma escola pública que prometeu deixá-la ter nome feminino na chamada. "Vai dar certo", sorri. Outros conceitos Cravo, 17, e Goivo, 19, também acham que tudo na vida vai dar pé. Os dois levantaram as mãos, que até então estavam dadas, quando Edith perguntou quem ali queria se casar. Não um com o outro, que fique claro. Eles se acariciam e trocam beijos no rosto o tempo todo, mas são só amigos. "Todo o mundo acha que gay tem que ser promíscuo. São bobos, porque eu amo igual!", diz o mais velho. "Chamam a gente de "bolachinha", porque dizem que ser fofo é coisa de lésbica. Mais preconceito", diz o outro. Acácia, 17, namorada de Azaleia, 25, também sofre uma forma diferente de preconceito. Ela assumiu gostar de meninas na escola, há duas semanas e diz que se arrepende um pouco. É que, desde então, meninos a procuraram com segundas intenções. "Acham que podem entrar no meio. É triste!" Triste foram os dois anos em que Girassol, 22, ficou sem TV e internet -um "castigo" porque sua mãe descobriu, mexendo em suas coisas, que ele era gay. Ele tentou se matar depois de ser levado a um psicólogo para "endireitar" sua libido. "O "Purps" foi um jeito de ver que não preciso de correção." Os nomes dos teens são fictícios Texto Anterior: Internets - Ronaldo Lemos: Software livre é punk Próximo Texto: Sexo & Saúde - Jairo Bouer: O preconceito está aí Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |