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Preta Gil desafia os padrões de beleza atuais ao assumir suas curvas a mais
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando estreou como cantora, com
o disco "Prêt-à-Porter", lançado no
mês passado, Preta Gil -filha do ministro da Cultura, Gilberto Gil-
surpreendeu o público não por dar
início à mesma carreira do pai,
mas por desafiar os padrões de
beleza ao tirar a roupa e posar
nua para as fotos do encarte
de seu CD.
Sem querer, garante Preta, seu disco criou polêmica. Foi alvo de aplausos e
de vaias. Levantou discussões sobre as imperfeições do corpo real e evidenciou o preconceito
que a estética da magreza
embutiu na cabeça de
pessoas comuns. Leia, a
seguir, trechos da entrevista concedida por Preta
Gil ao Folhateen.
(FM)
Folha - Você sempre foi gordinha?
Preta Gil - Não. Era uma
adolescente normal. Tenho a
formação física de uma mulata:
com bunda, com coxa etc. Engordei mesmo depois de engravidar, aos 20 anos. Estava casada, acomodada, e minha rotina de trabalho
fazia com que eu comesse mal. Engordei muito. Quando me separei do meu
segundo marido [Preta já teve três], aos
26 anos, foi que achei que tinha de
emagrecer. Estava a fim de um garoto
muito bonito e achei que ele só ficaria
com uma mulher magra.
Folha - O que você fez?
Preta - Entrei nesses regimes, tomei
bola e fiz essas dietas barra-pesada.
Terminei fazendo uma lipoaspiração e
emagreci 25 quilos. Pesava dez quilos a
menos do que peso hoje [70 kg].
Folha - E você conquistou o cara?
Preta - Sim. E, aí, ele me disse que,
quando eu era mais gordinha, era mais
bonita. Isso depois de mil sacrifícios, de
eu estar toda mutilada e cheia de plásticas. Foi aí que comecei a repensar essa
questão do corpo.
Folha - Seu corpo a incomodava?
Preta - Não. Mas comecei a achar que
o magro é que era bonito. As pessoas
viviam me falando: "Preta, você é tão
linda. Por que você não emagrece?".
Ou: "Poxa, você tem um rosto lindo...".
Ai, que podre ouvir isso!!! Claro, meu
corpo é gordo, mas nem por isso ele é
feio. Fiquei bem, bem magra, só que,
nem assim, fiquei feliz. Aquela não era
a minha realidade. Não conseguia
manter aquele peso. Tomava remédio.
E foi aí que comecei a ter uma compulsão por compras.
Folha - Há uma relação entre uma coisa
e outra?
Preta -Olha, é importante que as meninas saibam de uma coisa: remédio
para emagrecer deveria ser proibido
que nem droga. Entrei na minha compulsividade por causa do remédio, que
me deixava ligada, louca. Foi terrível.
Ficava com o maxilar travado e a boca
seca. Ficava ansiosa e, quando via, já
estava brigando com alguém. E acho
que foi esse remédio que me jogou na
depressão e na compulsividade.
Folha - Como você saiu dessa?
Preta -Foi com muita terapia. Descobri que seria feliz quando assumisse
que queria cantar. Que não há problema nenhum em eu querer ser a mesma
coisa que meu pai, porque eu sou diferente dele. Ele tem o dom dele, eu tenho o meu. Eu não sou o Gilberto Gil.
Sou um fruto dele, com minhas características e meu colorido próprios. Hoje tenho equilíbrio. Peso 70 quilos e tenho o corpo perfeito. Acho meu corpo
lindo porque eu o assumo com todas as
suas imperfeições. Tenho que conviver
com ele para o resto da minha vida. Tenho de fazê-lo sensual e bonito. Tenho
de conquistar os homens com ele também. E o que eu vou fazer? Mutilá-lo de
novo? Não tenho o que fazer a não ser
aceitá-lo e descobrir sua beleza.
Folha - É. Mas há muita menina que
tem uma gordurinha a mais e fica...
Preta - Aí faltou tapa na bunda quando era criança. É excesso de revista. O
que acontece com a menina adolescente? Ela passa na banca e só vê aquelas
mulheres lindas. Mas, e daí? Ela vai se
identificar com aquilo? Ver aquela modelo esquálida, com o cabelo supersedoso, com a pele maravilhosa, se ela
tem espinha e não tem dinheiro para o
dermatologista nem grana para a academia... Ou é nordestina e come farinha, dendê e aipim. Ou trabalha muito
e precisa se alimentar bem. Não dá para se basear nesse padrão maluco.
Folha - Foi essa a discussão que você levantou com a foto do CD.
Preta -Tenho recebido várias cartas
depois do disco. Acho que é importante a gente botar a boca no trombone.
Senão, continuaremos nessa ditadura,
continuaremos nos anulando. As mulheres não se assumem como elas são,
não só a gordinha, mas a do nariz torto,
a da canela fina etc. Não atraímos os
outros só pelo físico, mas porque somos bacanas, inteligentes, amigas etc.
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