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"Capitão Nascimento não é herói"
Ex-Bope, o roteirista Rodrigo Pimentel fala o que você precisa saber
DA REPORTAGEM LOCAL
Ex-capitão do Bope,
Rodrigo Pimentel,
36, é um dos autores
do livro "Elite da
Tropa", que originou o filme, e um dos roteiristas de "Tropa de Elite". O Folhateen insistiu para entrevistar também o diretor José Padilha, mas sua agenda lotada
não permitiu.
(LETICIA DE CASTRO)
FOLHA - Para muitos adolescentes,
o capitão Nascimento é um herói. O
que você pensa sobre isso?
RODRIGO PIMENTEL - Quando eles
assistirem a esse filme de novo,
daqui a 20 anos, quando o país
tiver mais segurança, menos
corrupção, eles vão entender
que o Nascimento não é herói.
FOLHA - Por quê?
PIMENTEL - Porque um herói
não executa e não tortura.
Quando o país estiver melhor,
eles vão entender que o capitão
Nascimento é uma pessoa com
problemas.
FOLHA - Quem é o capitão Nascimento, na sua opinião?
PIMENTEL - Ele é uma pessoa
cheia de dramas pessoais. Não é
herói nem assassino. Entendo
que o ponto de vista dos adolescentes -aliás, não é só dos adolescentes; muita gente teve essa
interpretação- é fruto do momento do país, em que todas as
instituições estão dilaceradas.
As pessoas vêem no Nascimento o vingador, o justiceiro.
FOLHA - Mas você não acha que o
filme contribui para que o público
tenha essa interpretação? No filme,
por exemplo, o Bope não erra, não
mata inocentes nem é corrupto.
PIMENTEL - O roteiro teve nove
tratamentos. Em um deles, havia a morte de um inocente. Isso não apareceu porque tínhamos uma hora e 50 minutos para contar a história. Eu tinha
que mostrar a eficácia de um
batalhão e a corrupção do outro. É assim que se constrói roteiros, eu preciso desses antagonismos. É lógico que a PM
não é tão corrupta e o Bope não
é tão honesto quanto no filme.
Mas eu precisava dessa licença
poética para que ele funcionasse como entretenimento.
FOLHA - Gírias como "bota na conta do Papa" e "pede pra sair" foram
incorporadas pelos adolescentes. O
que você acha disso?
PIMENTEL - Acho que existia
uma demanda reprimida de ver
a polícia na tela. Aquelas falas
são fora do comum, são inusitadas, repetidas à exaustão. Não
vejo isso como algo negativo
para o filme nem para o adolescente. O que me deixa preocupado são as simulações de violência, adolescentes representando tortura, saco na cabeça.
FOLHA - Você chegou a ver algum
desses vídeos no YouTube?
PIMENTEL - Vi e fiquei horrorizado, chateado.
FOLHA - No filme fica clara a opinião do capitão Nascimento sobre o
problema do tráfico: os usuários são
os responsáveis pela violência que
ele gera. Você concorda?
PIMENTEL - Essa visão não é do
José Padilha [diretor do filme]
nem do capitão Pimentel; é do
personagem. Ela é correta no
momento em que o usuário
compra maconha de uma pessoa que estabelece uma ditadura num território. O errado é o
Nascimento explodir com
aquele garoto e dizer que ele é o
culpado por tudo, porque ele
não é o único. Existem muitos
outros: a desigualdade social, o
desemprego, a ausência de políticas públicas eficazes, a corrupção policial e a impunidade.
É uma visão preconceituosa a
do capitão Nascimento.
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