São Paulo, segunda-feira, 22 de novembro de 2004

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Exagero é perigoso, dizem especialistas

DA REPORTAGEM LOCAL

Os psicólogos ouvidos pelo Folhateen concordam em um ponto: não há o menor problema em ter objetos da sorte, desde que isso não se transforme em um comportamento obsessivo.
Para a psicóloga Magdalena Ramos, coordenadora do Núcleo de Casal e Família da PUC-SP, os adolescentes costumam recorrer a "objetos mágicos" por causa da insegurança comum nessa faixa etária. "Esse tipo de amuleto dá mais tranqüilidade para enfrentar as descobertas."
A psicóloga Mariana Marcondes Klafke, do Centro de Aprendizagem e Desenvolvimento, afirma que um prejuízo no desempenho do estudante por causa da ausência do amuleto pode ser um sinal de alerta. "Também pode ser uma forma de tirar de si a responsabilidade pelo resultado ruim. Se a culpa for do amuleto que não estava lá, fica mais fácil de digerir."
Para a psicanalista Gislene Jardim, presidente do Departamento de Saúde Mental da Sociedade de Pediatria de São Paulo, esses amuletos são "objetos de passagem" da adolescência, da mesma forma que as crianças pequenas utilizam paninhos ou chupetas para suportar a ausência da mãe. "Não há nenhum problema se o objeto funcionar como um empurrão, até que o jovem possa dispensá-lo. Mas, se isso não acontecer, pode até gerar o TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), em que as ações ficam sempre condicionadas a um tipo de pensamento ou ritual."
O psicanalista Roberto Graña, autor de "A Atualidade da Psicanálise de Adolescentes", chama esses objetos de "transicionais". "Todo objeto transicional se modifica com o tempo. Quando ele deixa de se transformar, converte-se em um objeto de fetiche, o que pode denotar distúrbios do desenvolvimento, como idéias fixas e comportamentos repetitivos. Se o objeto passa a funcionar para o adolescente como a única salvaguarda existente, isso evidencia um possível colapso psíquico."
Mas, segundo ele, o uso moderado de talismãs não oferece perigo. "O uso salutar dos objetos transicionais pode ilustrar claramente o esforço realizado em condições normais pelo adolescente no sentido de se assegurar imaginariamente."
É como diz a atriz Fernanda Montenegro, 75, que, desde jovem, costuma segurar os pregos que encontra: "Não sou fanática, não ando por aí catando pregos. Mas, se um atravessar o meu caminho... Não creio nas bruxas, mas elas existem".
De qualquer forma, a única maneira infalível de dar uma mãozinha para a sorte nas provas de final de ano ainda é a mais tradicional: estudar! (AK)

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