LUÍS AUGUSTO FISCHER

COLUNISTA DA FOLHA

Se existe um assunto em que não há como entrar sem desagradar às pessoas, este assunto é a luta entre palestinos e israelenses. Trata-se de um daqueles casos em que cada detalhe pode ser lido de duas maneiras diferentes e opostas. Duas, pelo menos, porque as posições são variadíssimas.
Olhando daqui de longe, as distintas opiniões e os debates podem assumir um aspecto de coisa bacana, de vida democrática, cada qual cultivando sua maneira de pensar e de ver o mundo. Ocorre que o buraco é mais embaixo, ou melhor, é outro: vidas estão em jogo a cada variação de opinião. Vidas que se vão mesmo, com a morte em um atentado ou com um tiro de fuzil, ou vidas que quase se vão, com as prisões, os campos de refugiados, o medo constante e o pavor dos ataques.
Pessoalmente, acho que os palestinos têm direito a um Estado organizado ali mesmo. E idealmente isso deve acontecer mediante acordo com Israel, cujo povo também tem direitos históricos. O triste é saber que posições como a minha não contam muito, porque lá as tensões estão tão acirradas que parece não haver negociação viável para uma paz duradoura que envolva acordos racionais.
O que fazer, então? Uma pequena compensação é ler as reportagens do quadrinista norte-americano Joe Sacco, que foi lá visitar os campos de refugiados palestinos e que conversou com todo mundo, de todos os lados. Ouviu, cheirou e apalpou o horror no local em que ele ocorre, e escreveu seus belos e pungentes livros com a linguagem dos quadrinhos, mas sempre fazendo altíssimo jornalismo.
É leitura comovente, que dá uma boa notícia da enorme variedade das posições palestinas e israelenses, religiosas e leigas, de gente que sofre e que quer a paz, à sua maneira.