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música
Vampiros das neves
Da terra de Papai Noel vem a cena mais
sombria do rock atual, a finlandesa; leia nestas páginas o que pensam seus principais expoentes
MAYRA DIAS GOMES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Se Papai Noel for realmente finlandês, vai
deixar muitos CDs de
rock em chaminés
nesta quinta-feira.
Pelo menos no lugar de onde
ele vem, é um plano infalível.
No Rio talvez causasse desprezo; desdenhariam o presente e
se jogariam no pagodinho e nas
belas praias, a fim de celebrar a
vida na cidade maravilhosa.
Cada cultura com seu mérito,
a finlandesa tem se provado
uma das mais rock'n'roll do
mundo. Em um papo com alguns músicos de lá, dá para entender o cenário melhor.
Por exemplo, o humor dos
finlandeses é oscilante, assim
como sua sorte. Suécia e Rússia
lutaram por 450 anos pelo controle do Mar Báltico, e as conseqüências dessa disputa estão
impressas na personalidade
nacional: uma combinação da
melancolia eslava com o liberalismo escandinavo.
A Finlândia, país do norte da
Europa, é principalmente conhecida pelos seus invernos
longos, gélidos e escuros, quando a luz do sol radia no céu por
três ou quatro horas somente.
A estação é deprimente e solitária, pois isola os jovens e os
obriga a manter amizades virtuais. Muitos entram e saem da
escola em plena escuridão,
muitos enfrentam a depressão,
e muitos formam bandas- o
país esteve por muito tempo no
topo da lista de maior incidência de suicídio e consome por
ano dez litros de álcool por pessoa. Recentemente, um jovem
de 22 anos matou dez estudantes numa escola e se suicidou.
Há seis anos, outro jovem tirou
a própria vida em um shopping
de Helsinque, capital do país,
depois de explodir uma bomba.
A Finlândia é o terceiro país
mais armado do mundo, mas
tem uma das taxas de homicídio mais baixas. O padrão de vida é alto.
"A Finlândia é melancólica,
mas os finlandeses não são", diz
Pete Honkamaki, nascido em
Helsinque, mas atual residente
de Londres. "Os invernos são só
entediantes. Há tempo de sobra para escrever músicas e tocar numa banda." Pete é baixista do grupo punk The Vibrators
e vocalista e baixista de um novo projeto, o No Direction. "Eu
comecei a amar a música em
1976, quando o rockabilly atingiu a Finlândia. Depois veio o
punk e o Hanoi Rocks. Eles
acenderam o pavio para mim."
Hanoi Rocks, influenciado
por New York Dolls e Rolling
Stones, foi o primeiro grupo de
rock finlandês a quase atingir o
sucesso internacional. A jornada ao estrelato, porém, foi interrompida pela trágica morte
do baterista Razzle. Ele estava
embriagado em um carro com
Vince Neil, vocalista da banda
californiana Motley Crüe,
quando Neil bateu em outro
veículo e tirou a vida de Razzle.
O baixista Sami Yaffa então
deixou a banda, e tudo começou a desmoronar.
Depois do Hanoi Rocks, outros músicos finlandeses chegaram ao holofote mundial:
Nightwish, HIM, Children of
Bodom, 69 Eyes. E o país não
parou mais de se destacar pelas
suas bandas de rock. "Somos o
elo perdido entre o Hanoi
Rocks e o HIM. Somos
goth'n'roll", gaba-se Jyrki69,
vocalista do 69 Eyes.
A banda, que se autodenomina "os vampiros de Helsinque",
iniciou uma campanha ambiental para salvar o Mar Báltico da poluição e conta com a
ajuda de Michael Monroe, vocalista do Hanoi Rocks.
Também está se preparando
para tocar no Helldone, tradicional festival organizado pelo
HIM, realizado nos últimos
dias do ano, no famoso Tavastia
Klubi, na capital. "A Finlândia é
100% rock'n'roll."
"Todos são apresentados à
música na escola", conta Marco
Hietala, baixista da banda
Nightwish, que mistura heavy
metal melódico com música
clássica. "Eu não era como os
outros. Comecei a estudar de
verdade no segundo grau. Fiz
teoria musical, guitarra, e voz.
A música me cativou de tal maneira que comecei a seguir a
carreira na adolescência. Se tivesse ficado na beira do mar, teria sido um pescador."
Marco adiciona que o frio e o
escuro talvez possam ter influência no grande número de
bandas de rock que existem no
país. Contudo deixa claro que
isso é algo bom e que mora na
Finlândia até hoje.
"Passei algum tempo em Benin, na África, para encontrar a
verdadeira escuridão", conta
Jyrki69. "Você pode ouvir as vibrações do vodu no nosso álbum "Devils". O vocalista detesta responder perguntas sobre o
clima de seu país.
"A escuridão nunca incomodou a mim ou a outro finlandês.
Além disso, eu toco heavy metal. Estou no negócio de espalhar a escuridão, não estou?",
finaliza Marco.
FINLANDESES NO MYSPACE
>> No Direction: myspace.com/nodirectionhq
>> Nightwish: myspace.com/nightwish
>> 69 Eyes: myspace.com/theofficial69eyes
>> Helldone: myspace.com/helldone
Frases
"Somos o elo
perdido entre
o Hanoi Rocks
e o HIM. Somos
goth’n’roll"
Jyrki69, vocalista do 69 eyes
"Os invernos são
só entediantes. Há
tempo de sobra para
escrever músicas e
tocar numa banda"
Pete Honkamaki, vocalista e baixista do No Direction
"A escuridão nunca
incomodou a
mim ou a outro
finlandês. Além disso,
eu toco heavy metal.
Estou no negócio de
espalhar a escuridão,
não estou?"
Marco, baixista do Nightwish
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