São Paulo, segunda-feira, 23 de abril de 2007

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música

Discos, discos, discos...

Conheça os discos que marcaram a adolescência de dez músicos brasileiros; rock, pop, rap, MPB e jazz estão na lista

LETICIA DE CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL

JÁ TEVE a sensação de que alguma coisa mudou na sua vida após ter escutado determinada música? O Folhateen foi atrás de dez artistas brasileiros para saber quais foram os discos que eles ouviram durante a adolescência que mudaram a vida deles.
Do rock à MPB, passando pelo jazz e pelo hip hop, confira os discos responsáveis pela formação musical de Pitty, Jorge Mautner, Chorão, Céu, Maria Rita, Charles Gavin, Dado Villa-Lobos, Marcelo Campello, Japinha e Paulo Ricardo.

"Bom, de imediato me veio à cabeça o "Refavela" (1975), do Gilberto Gil. Foi um disco que me marcou muito pelo jeito de cantar, pelas levadas de violão... Sou muito fã. Outro disco que dispensa apresentações e que não saiu da minha vitrola foi o "Catch a Fire" (1973), do Bob Marley. Clássico master que me acompanhou dos 15 até hoje. Lembrei também de um vinil que eu ouvia muito por influência da minha irmã que é o "Stronger than Pride" (1988), da Sade Adu. Se não me engano é o segundo da carreira dela, menos pop que o primeiro, com mais influência africana. E lá pelos 16, 17 anos, o "The In Sound from Way Out" (1996), instrumental dos Beastie Boys, fez a trilha sonora dos meus dias de adolescente."
Céu, 27, cantora

"É meio difícil me lembrar, ainda mais vindo de uma família de músicos onde se ouvia de tudo desde sempre... E com a influência dos meus irmãos mais velhos, sabe como é.... A gente ouvia muito os discos do Michael Jackson, principalmente "Dangerous" (1991) que, na minha adolescência, era o mais recente porém não necessariamente o melhor. Fui ao show no estádio do Morumbi. Enfim, era fã de verdade. Mas me lembro, nos meus momentos sozinha, de escutar um disco do Milton Nascimento que tinha a música "Bola de Meia, Bola de Gude". Foi a primeira canção que causou paixão em mim. Ouvia sem parar, me emocionava, lia e relia a letra, prestava muita atenção mesmo. Tá no disco "Miltons" (1988). Me impressionou a parte da canção que diz "e ele me fala de coisas bonitas/que eu acredito/que não deixarão de existir/amizade, palavra, respeito, caráter, bondade, alegria e amor/pois não posso, não devo, não quero/viver como toda essa gente insiste em viver/e não posso aceitar sossegado qualquer sacanagem ser coisa normal". Eu devia ter uns 12 anos..."
Maria Rita, cantora

"Os discos que marcaram minha adolescência foram:
1. "Mutantes e seus Cometas no País dos Baurets", dos Mutantes (1972)
2. "Secos & Molhados" (1973)
3. "Academia de Danças", de Egberto Gismonti (1974)
4. "Fruto Proibido", da Rita Lee (1975)
5. "Falso Brilhante", da Elis Regina (1976)
Na adolescência, a gente não sabe direito o quer, mas sabe muito bem o que não quer. Essa fase de minha vida aconteceu nos anos 70, período em que o país atravessou o pior momento da história: a ditadura militar. No auge daquele conservadorismo, repressão, caretice e violência, os discos e artistas que citei foram decisivos e me orientaram. Quando os ouvia, sentia coragem e disposição para lutar contra um modelo de vida que eu não queria para mim. Deu certo, minha paixão se tornou minha profissão!"

Charles Gavin, 46, baterista dos Titãs

"Na minha adolescência, em primeiro lugar vinha um disco de Aracy de Almeida cantando Noel Rosa. Ele foi um grande compositor, e ela, uma intérprete fantástica. Noel me fazia lembrar do Rio de Janeiro, e, nessa época, eu já morava em São Paulo, então tinha uma coisa saudosista. Depois vem o Little Richards, a música folk e gospel. O jazz também foi importante, principalmente discos como "Chet Baker Sings" (1953), do Chet Baker, "Kind of Blue" (1959), do Miles Davis. Essas músicas me acompanham até hoje"
Jorge Mautner, 66, cantor e compositor

"Depois de uma infância recheada de Beatles, Bill Haley e Chuck Berry vem a adolescência, com "Ramones - It"s alive", em 1979. Esse disco mudou minha vida, descobri que era possível tocar um instrumento e vibrar muito com isso. A versão de "Do You Wanna Dance" abriu as portas de um novo mundo, uma nova linguagem e muita atitude. Na seqüência, entram os discos do The Clash, como "London Calling" (1979), álbum duplo obrigatório com o rock absorvendo o melhor do reggae, rockabilly e até um quê de jazz. "The Guns of Brixton" é uma das minhas músicas favoritas. E tem mais o primeiro disco do Gang of Four, "Entertainment" (1979), do qual a música "Damaged Goods" era obrigatória em qualquer festa. Seco, simples, rascante e dançante. Quer mais? O primeiro do Talking Heads, "77" (1977). Passei um período da vida adolescente ouvindo ininterruptamente esse disco. Toda sexta-feira partíamos pra quebrada da UnB (Universidade de Brasília) para ouvir esse disco sem parar. O novo som de Nova York chegava definitivamente abrindo novos horizontes no universo musical, comportamental etc. Não podem faltar os discos "Seventeen Seconds" (1980) e "Faith" (1981), do The Cure, excelentes pra andar de carro à noite em Brasília. Aquilo mudou a vida de muita gente, uma gangue contaminada com aquele som, acalmava os ânimos e te levava pra outra dimensão. Adolescência pura..."
Dado Villa-Lobos, 42, ex-guitarrista da Legião Urbana

"Os discos que marcaram a minha adolescência são vários e por diversos motivos. "Black Album", do Metallica (1991), "Ill Communication", dos Beastie Boys (1994), "Nevermind", do Nirvana (1991), "Surfer Rosa" (1988), do Pixies, "Velvet Underground & Nico" (o da banana) (1967), "Roots" (1996), do Sepultura, "Bad Brains" (1982). Esses são os discos de que mais me lembro agora. São discos que ou foram lançados ou eu os conheci na década de 90, auge da minha adolescência. E aí cada um deles falou muito alto pra mim em termos de sonoridade, estilo de vida e letra. Continuam sendo alguns dos meus álbuns prediletos até hoje."
Pitty, 29, cantora

"Mais Podres do que Nunca" (1985), primeiro disco dos Garotos Podres, me marcou pelas letras com crônicas e críticas sociais com um tom de humor, ironia mas com muita verdade. Acompanhei o surgimento do punk nos anos 80 e tinha discos como "Grito Suburbano" (1982, coletânea com as bandas Cólera, Olho Seco e Inocentes), e "O Começo do Fim do Mundo" (1983) que relata um show antológico no Sesc Pompéia, onde tocaram também os Garotos Podres. "License do Ill" (1986), dos Beastie Boys, me marcou pela genialidade, pela inovação e principalmente por ser uma das primeiras fusões de rock e rap muito bem feitas."
Chorão, 37, vocalista do Charlie Brown Jr

"1- "Roberto Carlos em Ritmo de Aventura" (1967). Eu tinha 5 anos quando esse disco, que é a trilha sonora do filme homônimo, saiu e mudou a minha vida. Quando vi o filme, pensei: "esse é um bom emprego'! E passei boa parte da minha infância cantando essas canções em frente ao espelho.
2- "Help" (1965), dos Beatles. O primeiro disco que eu comprei. A mesma coisa: trilha do filme, mudou minha vida etc. A partir daí, meu sonho passou a ser membro de uma banda de rock.
3- "Led Zeppelin IV" (1971). A partir daí, meu sonho passou a ser membro de uma banda de rock pesado.
4- "Transa" (1972), do Caetano Veloso. A partir daí meu sonho passou a ser membro de uma banda de rock pesado, mas antes morar em Londres.
5- "The Dark Side of the Moon" (1973), do Pink Floyd. A partir daí meu sonho... o que é mesmo que eu estava dizendo?..
6- "Regatta de Blanc" (1979), do Police. Afinal, não era mais tão difícil montar uma banda de rock!"

Paulo Ricardo, 44, cantor

"Quando adolescente, aos 13,14 anos, eu pirava nos anos 70. Ouvia muito, por exemplo, "Strange Days" (1967), do Doors, e "Houses of the Holy" (1973), do Led Zeppelin, que são discos conturbados e melancólicos. Nessa época conheci também "Blood Sugar Sex Magik" (1991) e "One Hot Minute" (1995), ambos do Red Hot Chili Peppers, e "Evil Empire" (1996), do Rage Against the Machine. Ficava tentando decorar aquelas letras rápidas mesmo sem entender direito, só pela instigação de cantar. Sem falar nos discos de Pernambuco... é difícil dizer como mudaram minha vida, são tantas formas, está tudo aí o tempo inteiro mas a gente só enxerga quando pode."
Marcelo Campello, violonista do Mombojó

"Tive a sorte de ter sido adolescente na década de 80, quando a produção musical era extraordinária, tanto no Brasil como no exterior. As letras de contestação sociológica do "Cabeça Dinossauro" (1986), dos Titãs (como "Igreja", "Homem Primata", "Polícia'); o fundo emotivo e político dos discos "O Passo do Lui" (1985) e "Dois" (1986), dos Paralamas do Sucesso e da Legião Urbana, respectivamente. Isso sem contar Camisa de Vênus e Ultraje a Rigor, que contagiavam a todos. Isso tudo me motivou e me ensinou a apreciar a boa música cantada em português. Dos estrangeiros, ouvi muito o "Creatures of the Night" (1983), do Kiss, "Back in Black" (1980), do AC/DC, e "5150" (1986), do Van Halen. Esses três discos são bons exemplos de como a música e o rock podiam me fornecer entretenimento com melodias, peso, músicos performáticos, capas de disco com artes lúdicas (na época eram maiores, as de vinil), enfim... todo um circo completo, no bom sentido. Esses discos e essas bandas influenciaram muito o meu modo de ser como artista e como músico, além de me motivarem a tocar, montar uma banda."
Japinha, 33, baterista do CPM 22


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