São Paulo, segunda-feira, 23 de setembro de 2002

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DROGAS

Usuários julgam ecstasy seguro; especialistas alertam dos riscos

Êxtase de excessos

FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL

Não tem cheiro, não faz fumaça nem dá bandeira. Sorrateira, a droga que promete, já no nome, uma das sensações mais cobiçadas pela humanidade ganha cada vez mais adeptos, tanto pela proliferação da oferta e pela facilidade de consumo quanto por contar com o atrativo slogan "a droga do amor".
É essa aparente inocência que levou 65,6% dos usuários de ecstasy entrevistados em uma pesquisa realizada pelo Cebrid (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas) a afirmar que consideram a droga "segura" quando comparada a outros entorpecentes. A idéia de segurança também está ligada ao fato de os usuários considerarem que os efeitos da droga podem ser disfarçados em uma situação de emergência, como uma batida policial.
Para Murilo Baptista, 27, psicólogo autor da pesquisa, o conceito de segurança e o uso de7 ecstasy são duas coisas que não se encaixam. "A descoberta é grave. A falsa impressão de que o ecstasy é seguro minimiza os problemas causados pela droga e banaliza a questão."
Como 50% dos entrevistados mencionaram apenas efeitos "positivos" do uso de ecstasy, como sensação de bem-estar, aguçamento dos sentidos e euforia, o problema fica ainda mais evidente.
Por conta disso, os usuários frequentemente incorrem em um abuso no consumo da droga: 25% ingerem mais de dois comprimidos de ecstasy por ocasião e 100% são usuários de outras drogas como maconha, LSD e cocaína.
Para Ronaldo Laranjeira, diretor da Unidade de Álcool e Drogas da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), o jovem subestima os efeitos do ecstasy. "Esse descompasso entre a percepção de risco do ecstasy e as evidências de sua toxicidade é perigoso. O ecstasy é mais tóxico para o cérebro humano que a própria cocaína", alerta.
Na Inglaterra, reino do ecstasy por excelência, os casos de morte por consumo da droga não são novidade e vêm sofrendo aumentos galopantes. Em 2001, foram 40 -o dobro em relação ao ano anterior. Isso significa praticamente uma morte a cada dez dias.
Segundo Laranjeira, o que pode levar um usuário à morte é uma hipertermia (febre), uma hepatite fulminante, uma desidratação e, paradoxalmente, uma intoxicação por água (quando consumida em quantidades descomunais).
Outro problema apontado pela pesquisa do Cebrid é que grande parte dos profissionais da saúde não estão preparados para lidar com a droga. Um dos entrevistados do estudo teve de recorrer ao pronto-socorro devido a um mal-estar provocado pelo uso de ecstasy e identificou que os profissionais não sabiam como ajudá-lo nem o que fazer com ele.
Para Baptista, é preciso articular uma política de redução de danos em relação á droga. "O ecstasy é consumido quer queiramos quer não. O que não podemos é ficar de braços cruzados esperando o problema acontecer."


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