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DROGAS
Usuários julgam ecstasy seguro; especialistas alertam dos riscos
Êxtase de excessos
FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL
Não tem cheiro, não faz fumaça
nem dá bandeira. Sorrateira, a
droga que promete, já no nome,
uma das sensações mais cobiçadas
pela humanidade ganha cada vez
mais adeptos, tanto pela proliferação da oferta e pela facilidade de
consumo quanto por contar com o
atrativo slogan "a droga do amor".
É essa aparente inocência que levou 65,6% dos usuários de ecstasy
entrevistados em uma pesquisa
realizada pelo Cebrid (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas) a afirmar que
consideram a droga "segura"
quando comparada a outros entorpecentes. A idéia de segurança
também está ligada ao fato de os
usuários considerarem que os efeitos da droga podem ser disfarçados em uma situação de emergência, como uma batida policial.
Para Murilo Baptista, 27, psicólogo autor da pesquisa, o conceito de
segurança e o uso de7 ecstasy são
duas coisas que não se encaixam.
"A descoberta é grave. A falsa impressão de que o ecstasy é seguro
minimiza os problemas causados
pela droga e banaliza a questão."
Como 50% dos entrevistados
mencionaram apenas efeitos "positivos" do uso de ecstasy, como
sensação de bem-estar, aguçamento dos sentidos e euforia, o problema fica ainda mais evidente.
Por conta disso, os usuários frequentemente incorrem em um
abuso no consumo da droga: 25%
ingerem mais de dois comprimidos de ecstasy por ocasião e 100%
são usuários de outras drogas como maconha, LSD e cocaína.
Para Ronaldo Laranjeira, diretor
da Unidade de Álcool e Drogas da
Unifesp (Universidade Federal de
São Paulo), o jovem subestima os
efeitos do ecstasy. "Esse descompasso entre a percepção de risco do
ecstasy e as evidências de sua toxicidade é perigoso. O ecstasy é mais
tóxico para o cérebro humano que
a própria cocaína", alerta.
Na Inglaterra, reino do ecstasy
por excelência, os casos de morte
por consumo da droga não são novidade e vêm sofrendo aumentos
galopantes. Em 2001, foram 40 -o
dobro em relação ao ano anterior.
Isso significa praticamente uma
morte a cada dez dias.
Segundo Laranjeira, o que pode
levar um usuário à morte é uma hipertermia (febre), uma hepatite
fulminante, uma desidratação e,
paradoxalmente, uma intoxicação
por água (quando consumida em
quantidades descomunais).
Outro problema apontado pela
pesquisa do Cebrid é que grande
parte dos profissionais da saúde
não estão preparados para lidar
com a droga. Um dos entrevistados do estudo teve de recorrer ao
pronto-socorro devido a um mal-estar provocado pelo uso de ecstasy e identificou que os profissionais não sabiam como ajudá-lo
nem o que fazer com ele.
Para Baptista, é preciso articular
uma política de redução de danos
em relação á droga. "O ecstasy é
consumido quer queiramos quer
não. O que não podemos é ficar de
braços cruzados esperando o problema acontecer."
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