São Paulo, segunda-feira, 24 de abril de 2006

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Álvaro Pereira Júnior

Ser sexy dá certo nos EUA

Julho vai ser histórico para o pop/rock brasileiro. Nesse mês começará a turnê de uma jovem banda paulistana, o Cansei de Ser Sexy, por EUA e Canadá.
O CSS está no elenco da gravadora Sub Pop, uma das mais bem estruturadas da cena alternativa americana. Foi na Sub Pop que o Nirvana começou, e é na Sub Pop que estão, hoje, bandas independentes muito importantes, como Love as Laughter, Sleater-Kinney e Postal Service.
Diante desse momento tão bacana surgem dois sentimentos opostos -e bem brasileiros. Primeiro: ufanismo. Achar que a hora é do Brasil, que o mundo se curva diante da criatividade e da irreverência dos nossos músicos.
Segundo: ressentimento. Dizer que o CSS vai tocar em um monte de pulgueiros americanos para meia dúzia de jecas embriagados.
Nenhum dos extremos é real.
O ufanismo não se justifica. O CSS é só uma entre, literalmente, centenas de bandas independentes que excursionam toda semana pelos EUA. Aqui do Brasil é difícil ter noção de como o mercado americano é gigantesco. São muitos eventos, bandas, clubes e mais clubes. O CSS -como qualquer outro grupo iniciante- é um ponto minúsculo nesse cenário.
Já os ressentidos... também erram. A excursão do CSS é para valer. Não vão tocar em meia dúzia de lugares para bandos de brasileiros saudosos. Vão realmente percorrer a América, se arriscando em lugares onde, talvez, não haja um único brazuca na platéia. E os clubes podem não ser o Madison Square Garden, mas também não são pocilgas desprezíveis.
Em San Diego, por exemplo, o show vai ser no Casbah, clube indie supertradicional. Em San Francisco, será no Mezzanine, lugar novo onde muita gente bacana se apresenta (Ladytron, Editors e, ironicamente, nesta semana, os Paralamas do Sucesso).
O CSS vai estourar nos EUA? Provavelmente não. Com muita, muita sorte mesmo, vai ganhar menções elogiosas na imprensa e vender pouco mais de 5 mil cópias do CD. A turnê do CSS é insignificante? Também não. Os clubes podem ser pequenos, o dinheiro pode não jorrar aos tubos. Mas nunca uma banda brasileira tão jovem chegou tão longe: entrou no mercado americano visando ao público americano. Não é pouca coisa. Parabéns ao CSS.

CD PLAYER

PLAY - "Show Your Bones", Yeah Yeah Yeahs
Se eu não tiver tempo de ouvir mais nada em 2006, vou votar nesse CD como o melhor do ano e vou acertar. YYYs são os Banshees (da Siouxsie) do século 21.

PAUSE - "At War with the Mystics", Flaming Lips
Um crítico disse que é "o som de uma banda que se esgotou". Triste, mas também tive essa impressão.

EJECT - "Sidney Magal - Ao Vivo", DVD
Nada contra o grande Magal, figura divertida e com zero de pretensão. Mas essa onda de saudosismo dos anos 80 não dá mais para agüentar.


@ - cby2k@uol.com.br

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