|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
EMPREGO
Robôs da montadora Volkswagen são programados por jovens da geração joystick
Garotos comandam "brinquedos" milionários
Fabiana Beltramin/Folha Imagem
|
Leandro Nishikawa e Evandro Análio, garotos que controlam com joysticks os robôs da fábrica da Volks |
DA REPORTAGEM LOCAL
Na adolescência, eles
eram aqueles garotos
que passavam horas jogando videogame, brincando com carrinhos de
controle remoto e fuçando no computador. Um
pai desavisado poderia
muito bem pensar que o
destino natural de seu filho seria mofar num subemprego. Ledo engano.
Hoje, por conta da habilidade no uso do joystick
(controle de jogos) e da
atenção visual que os videogames proporcionam,
existem jovens que estão
conseguindo bons empregos.
Na fábrica da Volkswagen, em Taubaté, no interior de São Paulo, vários
garotos conseguiram, antes mesmo de fazer 20
anos, trabalhar em áreas
da fábrica que pagam um
salário bem acima da média para essa faixa etária.
Em comum, eles têm
entre as suas tarefas saber
controlar os 130 robôs da
montadora por meio do
joystick e do computador.
Para Marco Aurélio de
Castro, 37, gerente de administração e desenvolvimento pessoal da fábrica,
esses jovens ganharam espaço com as mudanças
tecnológicas. Contudo,
para conseguir um emprego como esse, não basta ser apenas um ás do videogame.
Tudo começa pela vontade de estudar. "Por
obrigação legal, temos de
ter aprendizes de 14 a 16
anos na fábrica. Isso é feito por meio de uma parceria com o Senai (Serviço
Nacional de Aprendizagem Industrial). Eles começam a fazer seus cursos de mecânica ou de elétrica e vão adquirindo esse conhecimento", explica Castro.
Quando esses garotos
começaram a chegar à fábrica, após passarem esse
período como aprendizes, logo foi identificado
neles um potencial para
mexer com os robôs.
"Percebemos que toda
essa garotada tem uma
agilidade muito maior. O
que demorava muito
tempo passou a ser mais
rápido pela habilidade
dos garotos em lidar com
o joystick", comenta Castro.
Na fábrica, o joystick é
hoje uma ferramenta fundamental. Para ter uma
idéia, 45% dos 6.000 pontos de solda que são necessários para fabricar
um carro como o Gol são
feitos por robôs.
A programação dos robôs pode ser feita de duas
formas. A mais tradicional é ajustá-los por meio
de um sistema de coordenadas, feito no computador, o que demanda um
tempo enorme.
A outra forma, mais fácil, é traçar os movimentos dos robôs com o joystick e depois fazer os ajustes finos no computador.
E é aí que aqueles anos e
anos passados jogando
videogame começam a
valer a pena.
Só que, no trabalho, o
conhecimento tem de ir
além das habilidades naturais de um viciado em
games. "Os garotos não
só programam como fazem a manutenção dos
robôs. Todos sabem o que
têm de fazer para garantir
o funcionamento do robô. Sabem mexer com
hardware, mecânica e elétrica. Eles não aprendem
a jogar, mas a programar
o jogo", diz Castro.
Mesmo "jogando" no
trabalho, a atividade desses jovens não é brincadeira. "É uma atividade
de responsabilidade, mas
esses garotos são preparados pelo Senai para ter
uma visão profissional
muito forte. Aqui não dá
para brincar. Qualquer
brincadeira pode levar a
um risco até físico."
Segundo Evandro Bottossi Análio, 18, que hoje é
eletricista eletrônico na
fábrica da Volks, a atividade pode ser divertida.
Seu trabalho é consertar e
fazer a manutenção das
partes elétricas e eletrônicas dos robôs, o que inclui
programação.
"É divertido usar os robôs. Uma vez me tranquei
numa sala com um deles
um dia inteiro e fiquei testando as suas funções",
diz o garoto.
Evandro credita o seu
emprego de hoje às horas
de videogame. "Desde os
oito anos eu jogava de tudo: jogos de corrida, de
estratégia, simuladores de
vôo. Era viciado", conta.
Hoje, além de trabalhar
na Volks, ele cursa o primeiro ano de engenharia
em telecomunicações.
Leandro Nishikawa, 22,
é outro que diz ter aprendido com os games de
corrida e de estratégia.
Hoje ele é eletricista de
manutenção e passa o dia
percorrendo a fábrica
sempre que algum dos robôs apresenta problemas.
"Jogava bastante videogame e adorava carrinhos
de controle remoto. Hoje
não dá mais. Quando tenho tempo, ainda jogo um
game de estratégia, como
Age of Empires", conta o
garoto, que está no quinto
ano do curso de engenharia elétrica e divide seu
tempo entre os estudos e a
fábrica. "Estou sempre
aqui no domingo", diz.
(GUILHERME WERNECK)
Texto Anterior: Fique atento Próximo Texto: Escuta aqui: O som glacial de uma Nova York que já viu tudo Índice
|