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O preço da meia-entrada
Distante do cotidiano dos estudantes e criticada por militantes e professores,
UNE quer se mostrar útil nos dias de hoje e elege a reforma universitária como sua próxima prioridade
LETICIA DE CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL
Você só se lembra da
existência da UNE
(União Nacional dos
Estudantes) no momento de fazer a
carteirinha para ter direito à
meia-entrada em cinemas e
shows? Será que essa é a única
função da entidade?
Distante do dia-a-dia dos estudantes, a UNE tem nas carteirinhas seu único vínculo
com a maioria dos universitários. Antes conhecida por ter
combatido a ditadura militar
nos anos 60 e por ter exigido o
impeachment do presidente
Collor nos 90, hoje é vista como
governista por setores do próprio movimento estudantil.
Criada no final da década de
30 pelo então presidente Getúlio Vargas para representar politicamente os estudantes universitários, hoje ela não atrai o
mesmo interesse do passado.
O último evento da união, o
Congresso Nacional de Entidades de Base (Coneb), em abril,
teve a participação de 5.158 estudantes, número nanico em
comparação às 215 mil carteirinhas emitidas no primeiro semestre deste ano.
Atualmente qualquer identificação estudantil, não necessariamente a da UNE, dá direito à meia-entrada.
Mas, para o atual presidente
da instituição, Gustavo Petta,
25, a distribuição de carteirinhas está longe de ser a principal atribuição da UNE. "Nossa
função é representar os interesses dos estudantes nos debates políticos e educacionais."
Mas quais seriam os interesses dos estudantes de hoje? Segundo Petta, o principal é a reforma universitária. Por isso a
UNE participou da discussão
do projeto de lei enviado ao
Congresso Nacional.
Formada por muitos grupos
com visões políticas e filiações
partidárias diferentes, a UNE
também enfrenta oposição interna. Um desses grupos, a
Frente de Oposição de Esquerda, discorda, por exemplo, do
apoio à reforma universitária.
"Ela não amplia o acesso à
universidade e aumenta a privatização", diz Antônio David,
26, estudante da Filosofia da
USP que é diretor de políticas
educacionais da UNE e membro do grupo oposicionista.
Outra integrante, Julia Chequer, 22, aluna de jornalismo
na PUC-SP, vai além. "Uma das
nossas principais críticas é o
atrelamento da UNE com o governo federal", diz.
Para Petta, a existência de
opiniões divergentes reforça a
democracia da entidade. "Tanto não somos atrelados ao governo que apresentamos
emendas à reforma."
Fraudes
Com a venda das carteiras, a
UNE espera arrecadar R$ 2,1
milhões neste ano. A entidade,
no entanto, não garante que
apenas os estudantes terão
acesso ao documento.
Em março, a Folha comprou
uma carteira de estudante na
Blockbuster -fruto de um convênio da UNE com a rádio Jovem Pan- sem apresentar
comprovante de matrícula.
O convênio foi mantido, apesar da denúncia. "Determinamos por contrato que todos os
parceiros exijam comprovante
de matrícula, mas sempre há o
risco de ter uma pessoa mal
treinada", defende-se Petta.
Como nem só de política vivem os estudantes, a UNE
criou um serviço que tira dúvidas sobre os direitos e encaminha denúncias ao Procon (tel.
0/xx/ 11/5082-4341 ou
ouvidoriadoestudante@
hotmail.com).
O equivalente à UNE para os
secundaristas é a UBES (União
Brasileira dos Estudantes Secundaristas), que também emite carteirinhas e tem se empenhado em outra causa: a do
passe livre dos estudantes no
transporte público.
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