São Paulo, segunda-feira, 24 de julho de 2006

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O preço da meia-entrada

Distante do cotidiano dos estudantes e criticada por militantes e professores, UNE quer se mostrar útil nos dias de hoje e elege a reforma universitária como sua próxima prioridade

LETICIA DE CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Você só se lembra da existência da UNE (União Nacional dos Estudantes) no momento de fazer a carteirinha para ter direito à meia-entrada em cinemas e shows? Será que essa é a única função da entidade?
Distante do dia-a-dia dos estudantes, a UNE tem nas carteirinhas seu único vínculo com a maioria dos universitários. Antes conhecida por ter combatido a ditadura militar nos anos 60 e por ter exigido o impeachment do presidente Collor nos 90, hoje é vista como governista por setores do próprio movimento estudantil.
Criada no final da década de 30 pelo então presidente Getúlio Vargas para representar politicamente os estudantes universitários, hoje ela não atrai o mesmo interesse do passado.
O último evento da união, o Congresso Nacional de Entidades de Base (Coneb), em abril, teve a participação de 5.158 estudantes, número nanico em comparação às 215 mil carteirinhas emitidas no primeiro semestre deste ano.
Atualmente qualquer identificação estudantil, não necessariamente a da UNE, dá direito à meia-entrada.
Mas, para o atual presidente da instituição, Gustavo Petta, 25, a distribuição de carteirinhas está longe de ser a principal atribuição da UNE. "Nossa função é representar os interesses dos estudantes nos debates políticos e educacionais."
Mas quais seriam os interesses dos estudantes de hoje? Segundo Petta, o principal é a reforma universitária. Por isso a UNE participou da discussão do projeto de lei enviado ao Congresso Nacional.
Formada por muitos grupos com visões políticas e filiações partidárias diferentes, a UNE também enfrenta oposição interna. Um desses grupos, a Frente de Oposição de Esquerda, discorda, por exemplo, do apoio à reforma universitária.
"Ela não amplia o acesso à universidade e aumenta a privatização", diz Antônio David, 26, estudante da Filosofia da USP que é diretor de políticas educacionais da UNE e membro do grupo oposicionista.
Outra integrante, Julia Chequer, 22, aluna de jornalismo na PUC-SP, vai além. "Uma das nossas principais críticas é o atrelamento da UNE com o governo federal", diz.
Para Petta, a existência de opiniões divergentes reforça a democracia da entidade. "Tanto não somos atrelados ao governo que apresentamos emendas à reforma."

Fraudes
Com a venda das carteiras, a UNE espera arrecadar R$ 2,1 milhões neste ano. A entidade, no entanto, não garante que apenas os estudantes terão acesso ao documento.
Em março, a Folha comprou uma carteira de estudante na Blockbuster -fruto de um convênio da UNE com a rádio Jovem Pan- sem apresentar comprovante de matrícula.
O convênio foi mantido, apesar da denúncia. "Determinamos por contrato que todos os parceiros exijam comprovante de matrícula, mas sempre há o risco de ter uma pessoa mal treinada", defende-se Petta.
Como nem só de política vivem os estudantes, a UNE criou um serviço que tira dúvidas sobre os direitos e encaminha denúncias ao Procon (tel. 0/xx/ 11/5082-4341 ou ouvidoriadoestudante@ hotmail.com).
O equivalente à UNE para os secundaristas é a UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas), que também emite carteirinhas e tem se empenhado em outra causa: a do passe livre dos estudantes no transporte público.


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