Novo CD de Bruce Springsteen não diz nada para quem não é americano

IVAN FINOTTI
EDITOR DO FOLHATEEN

Nos anos 80, a Rede Globo passava quase todo dia na "Sessão da Tarde" um filme chamado "Sete Noivas para Sete Irmãos". Era a história de sete lenhadores que moravam numa floresta nos confins dos EUA que raptavam sete moças do vilarejo próximo para se casar.
Não, não se tratava de um filme pesado. Era um musical, e as moças adoravam ser raptadas por aqueles homens ruivos -sim, os sete eram ruivos-, que usavam camisas coloridas e cintilantes -sete cores para sete irmãos. E logo elas estavam flertando em forma de cantoria e sapateando em meio a serrotes, machados e martelos.
Por que tudo isso numa crítica do novo CD de Bruce Springsteen? Porque o 21º CD do cara, "We Shall Overcome - The Seeger Sessions", parece ter sido encomendado como trilha sonora para um filme de butique como "Sete Noivas para Sete Irmãos". Veja se dá para entender: banjos, pianolas, gaitas, acordeons, banjos de novo, tudo parece ter sido gravado pelos ursos cantores da Disneylândia.
Agora, por que todo mundo está dizendo que o disco é ótimo? Os críticos americanos, dá para entender. Afinal, é uma cultura deles essa, a dos caipiras de saloon.
Mas e no Brasil, onde músicas assim não dizem patavina? Talvez o pessoal fale bem porque "We Shall Overcome" é um disco de covers que contém exclusivamente músicas de Pete Seeger. Vejamos de quem se trata: nascido em 1919, informa a Wikipedia. Cantor folk, ativista político, ainda vivo. Um compositor de músicas sociais de esquerda...
Não pega bem falar mal do cara. Mas nem precisa. Vamos pinçar um trecho de sua "Erie Canal", repetida pelo lenhador Bruce no novo disco: "Tenho uma mula chamada Sal/ Ela é uma boa trabalhadora/ E boa companheira". Agora imagine isso com os banjos...


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