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OS ECLÉTICOS
Eles tocam rock na guitarra e piano clássico; escutam metal e lêem filosofia francesa; conheça jovens que adoram coisas aparentemente incompatíveis
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Mundos contraditórios
LUCRECIA ZAPPI
DA REPORTAGEM LOCAL
"Eu me inspiro em tantas coisas
que nem sei dizer de onde vêm
minhas idéias", diz Fernanda
Manzo Ceretta, 18. Se serve de pista, de sua
cabeça brotam cabelos loiros que ela pinta
de cor-de-rosa. E, sob os cabelos, ela divide
seus pensamentos entre duas paixões: a
banda de heavy metal Kiss e o filósofo francês iluminista Voltaire.
O gosto eclético de Fernanda, ou Lana,
como a chamam seus amigos, não pára por
aí. Ela sempre pinta os olhos de preto e, no
corpo, coleciona cinco tatuagens, entre elas
um dragão, uma cruz egípcia e a palavra
"rock"n roll".
"Eu sou difícil para livro, mas gosto muito de Voltaire. Adoro "Dicionário Filosófico" e "Cartas Inglesas". Não sou grande conhecedora do assunto, mas gosto dele porque é meio sarcástico."
Lana estuda rádio e TV e diz que quer ser
roteirista de seriados de humor, mais voltado para animação. E, na TV, assiste a desenhos como "Os Simpsons" e "South Park".
"Dos antigos vejo pouco, mas gosto de
"Tom & Jerry" e de "As Meninas Superpoderosas". Também assisto ao seriado "Chaves", que é um negócio meio manjado, mas
é agradável de ver", conta Lana, que divide
uma quitinete nos Jardins, em São Paulo,
com mais três adolescentes.
Enquanto Lana cuida das contas do apê,
quem comanda a cozinha é Maitê Guadalupe,18, amiga de Lana "desde a sexta série". Mal chegou de Santa Maria (RS), há
três semanas, já veste o avental para fazer
arroz, que, segundo Lana, faz muito bem.
Enquanto Lana põe para tocar Kiss "e outras bandas animadas dos anos 80", Maitê
diz preferir o compositor erudito Richard
Wagner. Com gostos musicais tão ecléticos
em uma quitinete, alguém tem que ceder:
"Esqueci meus CDs e LPs em Santa Maria",
explica Maitê.
A teen aproveitou que a faculdade está
em greve para tentar fazer uns bicos como
modelo. "Já estou em uma agência em São
Paulo, só falta fazer o book", conta e emenda: "Viajei 23 horas lendo Nietzsche! Estudo teatro, talvez por isso goste tanto dele,
porque ele escrevia teorias sobre a tragédia
grega", conta Maitê.
"Gosto de Wagner porque, além de ser
bom compositor, ele também era encenador, coisa que está muito ligada ao teatro.
Gosto de "Parsifal" e, lógico, de "Tannhäuser'", diz, citando dois clássicos de Wagner.
Sobre ser modelo, diz que é um "bico legal" porque é bom ganhar dinheiro rápido
tirando foto. "Mas meu lance é o teatro",
deixa claro Maitê.
Enquanto Moacir Fernandes da Silva, 18,
se prepara para o vestibular de educação física, ouve rock progressivo, música clássica
e jazz. Há três anos toca guitarra elétrica,
mas, quando senta ao piano, dos acordes só
sai música erudita.
"Toco piano clássico, estudei quando
criança. Gosto muito de Bach porque me
ajuda na técnica. Mas gosto também por
causa da tranqüilidade, é bem relaxante",
conta o adolescente, que também joga futebol, como atacante.
Marcela Caetano Moisés, 17, é uma eclética temperamental. Diz que adora comédia
mas, em um estalo, pode se emocionar com
qualquer coisa. "Eu me acho meio dramática. Choro por qualquer coisa", conta rindo
ao telefone.
Em sua casa, diz que gosta de tudo no lugar. Assiste até a programas de decoração.
"Gosto de decorar. Sou meio patricinha até.
Eu me arrumo combinando", conta a teen
que está no segundo colegial.
Mas suas roupas ficam espalhadas em todas as partes da casa, e não é raro Marcela
atravessar a cozinha, passar pela sala e ir para seu quarto carregando as compras do supermercado. "Sou meio distraída, perdi milhões de vezes as chaves de casa", ri.
Em meio a tantas distrações, Marcela decidiu reinventar a regra de três, quando o
assunto é cozinha. "Tudo o que faço só tem
três ingredientes. Assim não dá para errar,
como o doce de Bis: misturo Bis, creme de
leite e doce de leite", conta Marcela.
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