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Ouro no Pan, esporte ensaia popularidade fora das escolas
Washington Alves/COB/ Divulgação
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Bruno Souza ataca argentinos no Pan |
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma equação torta domina a relação entre
os adolescentes e o handebol. Durante o
período escolar, o esporte está presente nas
aulas de educação física e é um dos favoritos
entre os alunos. Envolve contato físico e força, é fácil de ser praticado e é intenso. Só
que, do portão da escola para fora, o handebol praticamente desaparece. Poucos sabem quais são os campeonatos, quem são
suas estrelas e seus principais times.
Foi preciso uma dobradinha de medalhas
de ouro das seleções masculina e feminina
durante os Jogos Pan-Americanos -o que
garante duas vagas para a Olimpíada de
Atenas, em 2004- para que o brasileiro
percebesse que há potência e desempenho
do Brasil nesse esporte.
Há pesquisas que apontam o handebol
como o terceiro esporte mais praticado entre estudantes (atrás apenas do futebol de
campo e do de salão). Outro estudo, da
Confederação Brasileira de Handebol, destaca-o como o mais praticado nas escolas
públicas entre jovens de 15 a 18 anos.
Foram esses os números que chamaram a
atenção de um patrocinador de peso como
a Petrobras, que passou a investir no esporte neste ano. E tudo isso faz com que o Brasil
do futebol possa virar também o país do
handebol nos próximos anos.
"A tendência é que o esporte cresça ainda
mais. Ele não é caro e vamos destacar recursos para fomentar sua prática em escolas e
em projetos sociais", afirma Manoel Luiz
Oliveira, 56, presidente da confederação.
Seleções
Para chegar à posição em que estão agora,
os atletas das seleções brasileiras de handebol tiveram de passar por anos e anos de
treinamento pesado e de pouca grana. Até
hoje, nenhum jogador brasileiro ficou rico
como os craques do gramado. Para quem
faz gol com as mãos, o amor pelo esporte
tem de falar mais alto que o bolso, e o jogo de
cintura aprendido nas quadras também tem
de ser posto em prática na vida real.
"O clube paga um salário e me dá moradia. Para estudar, tenho uma bolsa e, em troca, jogo no time de handebol da faculdade",
conta Alexandra do Nascimento, 21, ponta
da seleção campeã, que joga no São Paulo-Guaru e veio do Espírito Santo para São
Paulo por causa do esporte.
É pensando no futuro que tanto Alexandra como sua colega Sílvia Pinheiro, 22
-que veio do Maranhão para jogar-, têm
de conciliar cerca de quatro horas de treino
diário com cursos em faculdades que possam garantir um futuro depois que a idade
interromper a carreira de atleta.
Daniel Baldacin, 26, que joga na seleção e
no time da Metodista de São Bernardo do
Campo (SP), pensa da mesma maneira. "Fiz
faculdade de administração de empresas e
larguei um emprego para me dedicar somente ao esporte. Mas o handebol não é algo que dê muito retorno financeiro, apesar
de isso estar melhorando."
Baldacin conta que, há alguns anos, era raro o atleta que ganhava R$ 500 do seu clube. Hoje, atletas de elite, em certos times, ganham até R$ 3.000. "Ainda
vou fazer uma pós-graduação. Não
quero chegar a uma certa idade e
não ter o esporte nem mais nada.
Falta apoio para desenvolver e divulgar mais o handebol", avalia.
Com a rotina pesada de treinos e
campeonatos, Alexandra conta que quase se
arrependeu por tanta dedicação. "Tive uma
adolescência diferente, não ia ao cinema
nem passeava com os amigos. Treinava
muito. Agora, com o ouro no Pan, não me
arrependo mais de ter passado por isso."
As viagens internacionais que a seleção faz
e a imagem de glamour que ziguezaguear
pelo mundo pode passar não são, ao contrário do que se pensa, ma vantagem da vida de
atleta profissional. "Se viajamos dez dias,
realizamos 20 treinos. Não podemos sair, temos de descansar no hotel. Aí, quando tudo
acaba e alguém nos chama para um passeio,
pensamos duas vezes de tão quebradas que
estamos", conta Alexandra.
Ela e Sílvia foram descobertas por olheiros
de clubes e, por conta disso, não negam que
a sorte tenha sido um fator essencial para
que chegassem aonde estão.
"Se não tivesse sido descoberta, estaria casada, com uma porção de filhos, lá em Vila
Velha (ES)."(FERNANDA MENA)
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