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São Paulo, segunda-feira, 25 de agosto de 2003

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Ouro no Pan, esporte ensaia popularidade fora das escolas

Washington Alves/COB/ Divulgação
Bruno Souza ataca argentinos no Pan


DA REPORTAGEM LOCAL

Uma equação torta domina a relação entre os adolescentes e o handebol. Durante o período escolar, o esporte está presente nas aulas de educação física e é um dos favoritos entre os alunos. Envolve contato físico e força, é fácil de ser praticado e é intenso. Só que, do portão da escola para fora, o handebol praticamente desaparece. Poucos sabem quais são os campeonatos, quem são suas estrelas e seus principais times.
Foi preciso uma dobradinha de medalhas de ouro das seleções masculina e feminina durante os Jogos Pan-Americanos -o que garante duas vagas para a Olimpíada de Atenas, em 2004- para que o brasileiro percebesse que há potência e desempenho do Brasil nesse esporte.
Há pesquisas que apontam o handebol como o terceiro esporte mais praticado entre estudantes (atrás apenas do futebol de campo e do de salão). Outro estudo, da Confederação Brasileira de Handebol, destaca-o como o mais praticado nas escolas públicas entre jovens de 15 a 18 anos.
Foram esses os números que chamaram a atenção de um patrocinador de peso como a Petrobras, que passou a investir no esporte neste ano. E tudo isso faz com que o Brasil do futebol possa virar também o país do handebol nos próximos anos.
"A tendência é que o esporte cresça ainda mais. Ele não é caro e vamos destacar recursos para fomentar sua prática em escolas e em projetos sociais", afirma Manoel Luiz Oliveira, 56, presidente da confederação.

Seleções
Para chegar à posição em que estão agora, os atletas das seleções brasileiras de handebol tiveram de passar por anos e anos de treinamento pesado e de pouca grana. Até hoje, nenhum jogador brasileiro ficou rico como os craques do gramado. Para quem faz gol com as mãos, o amor pelo esporte tem de falar mais alto que o bolso, e o jogo de cintura aprendido nas quadras também tem de ser posto em prática na vida real.
"O clube paga um salário e me dá moradia. Para estudar, tenho uma bolsa e, em troca, jogo no time de handebol da faculdade", conta Alexandra do Nascimento, 21, ponta da seleção campeã, que joga no São Paulo-Guaru e veio do Espírito Santo para São Paulo por causa do esporte.
É pensando no futuro que tanto Alexandra como sua colega Sílvia Pinheiro, 22 -que veio do Maranhão para jogar-, têm de conciliar cerca de quatro horas de treino diário com cursos em faculdades que possam garantir um futuro depois que a idade interromper a carreira de atleta.
Daniel Baldacin, 26, que joga na seleção e no time da Metodista de São Bernardo do Campo (SP), pensa da mesma maneira. "Fiz faculdade de administração de empresas e larguei um emprego para me dedicar somente ao esporte. Mas o handebol não é algo que dê muito retorno financeiro, apesar de isso estar melhorando."
Baldacin conta que, há alguns anos, era raro o atleta que ganhava R$ 500 do seu clube. Hoje, atletas de elite, em certos times, ganham até R$ 3.000. "Ainda vou fazer uma pós-graduação. Não quero chegar a uma certa idade e não ter o esporte nem mais nada. Falta apoio para desenvolver e divulgar mais o handebol", avalia.
Com a rotina pesada de treinos e campeonatos, Alexandra conta que quase se arrependeu por tanta dedicação. "Tive uma adolescência diferente, não ia ao cinema nem passeava com os amigos. Treinava muito. Agora, com o ouro no Pan, não me arrependo mais de ter passado por isso."
As viagens internacionais que a seleção faz e a imagem de glamour que ziguezaguear pelo mundo pode passar não são, ao contrário do que se pensa, ma vantagem da vida de atleta profissional. "Se viajamos dez dias, realizamos 20 treinos. Não podemos sair, temos de descansar no hotel. Aí, quando tudo acaba e alguém nos chama para um passeio, pensamos duas vezes de tão quebradas que estamos", conta Alexandra.
Ela e Sílvia foram descobertas por olheiros de clubes e, por conta disso, não negam que a sorte tenha sido um fator essencial para que chegassem aonde estão.
"Se não tivesse sido descoberta, estaria casada, com uma porção de filhos, lá em Vila Velha (ES)."(FERNANDA MENA)

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