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comportamento
Papo maluco
Jovens quebram a cabeça e inventam linguagens próprias para conversarem com os amigos ou darem voz a personagens de histórias fantásticas
DIOGO BERCITO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A
cordo ortográfico?
Que nada. Enquanto
alguns quebram a
cabeça para se adequar a novas regras
da língua portuguesa, outros
estão preocupados mesmo é
em criar idiomas e modificá-los
como bem entenderem. Para
essa gente, tanto faz se a linguiça vai perder o trema. Por
exemplo, no teuto, língua inventada por Leonardo Antonini, 23, a palavra para linguiça é
outra, inclusive -"vorste".
Leonardo começou a criar o
teuto em fevereiro de 2008.
Hoje, o glossário do idioma já
tem mais de mil palavras. "É
uma língua do tronco indo-europeu", explica. "E a completei
com um pouco de protogermânico, sânscrito, protocelta, protoiraniano, grego e outras línguas antigas. É claro, houve
também muita imaginação para combinar tudo isso."
O mu lanc, criado por João
Paulo Berrêdo, 21, teve outra
origem -veio da mistura das
línguas latinas, com as quais ele
teve contato quando participava de um coral. O interesse resultou não só no novo idioma
mas também no aprendizado
dos que já existiam. Hoje, João
fala espanhol, francês, inglês e
alemão e pesquisa na internet
sobre romeno, latim e italiano.
Na prática, a língua tem pouca utilidade. "Uso para fazer
anotações no meu diário", revela o inventor. "Meus amigos
sabem, mas não se interessam.
Mas eu também não me interesso em ensinar, é uma coisa
minha, para exercitar minha
criatividade", explica.
Já o maladês, língua criada
há quatro anos por José Luiz
Freitas Aléo, 19, teve resultados
indiretamente proveitosos ao
estudante de letras. "Ajudou,
por exemplo, nas notas em linguística", comemora.
O número de falantes do maladês é, hoje, baixo -apenas
um. "Só eu falo, é um passatempo solitário", confessa.
"Uso para escrever lembretes
ou coisas que ninguém mais
pode ler", exemplifica. "Meus
amigos acham que é loucura
[criar uma língua], mas é um
hábito comum pra quem já
criou um mundo imaginário",
conclui José Luiz.
É o caso de J.R.R. Tolkien,
que escreveu "O Senhor dos
Anéis" e é a estrela guia dos
criadores de novos idiomas
(leia mais na pág. 8).
E é também o caso do estudante André Mattana, 20, que
inventa palavras para a "língua
antiga" falada pelos povos que
habitam o mundo do romance
que está escrevendo.
Mas André não concentra
seus esforços em criar uma língua, como Leonardo ou João:
"O que eu faço é inventar palavras a partir de um conjunto de
estruturas em comum, para
que elas pareçam relacionadas". Por exemplo, usa a letra
"i" no final para indicar plural.
As palavras novas, assim como as demais anotações do escritor, preenchem as páginas
do caderninho surrado em que
registra as ideias.
Pouco a pouco
A criação de uma nova língua, para Ygor Coelho Soares,
20, "é um processo". "Inventei
o lissemês aos 13 anos e até hoje
trabalho em cima dele", relata.
Em vez de buscar inspiração
nas línguas que já existem,
Ygor procurou justamente
afastar-se delas. "Quis criar alguma coisa diferente, a partir
do zero".
Para se inspirar, o jovem gosta de navegar pelos verbetes da
Wikipedia escritos em idiomas
que não conhece. "Descobri
que há várias maneiras de se
expressar", explica.
O inventor desenvolveu uma
gramática própria para seu
idioma, mas conta que se diverte mesmo é na hora de engordar o vocabulário. "Cada palavra tem sua própria história."
Quanto ao futuro do lissemês, Ygor não faz muitos planos. "O que sei é que criar me
dá prazer", diz Ygor.
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