São Paulo, segunda-feira, 26 de abril de 2010 |
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FAMÍLIA de geração em geração
Heranças de valor mais sentimental do que financeiro são cultuadas por jovens que as recebem
heranças sentimentais HELOISA NEGRÃO DA REPORTAGEM LOCAL A o contrário do que acontece nos filmes, na vida real as heranças nem sempre envolvem milhões de dólares e uma viúva gananciosa. Muita gente herda, em vez de grana, objetos cujo valor sentimental é maior do que o de mercado. As heranças mais valiosas de Thaís de Almeida, 22, estão em uma caixa abarrotada de papéis. Ela guarda um recorte de jornal que fala sobre a morte de seu pai, os poemas que ele fez para a mãe dela e a carta escrita por ele um dia antes de morrer, vítima de enfarte. "Isso me marcou muito. Eu fui a última a vê-lo com vida e tive a sorte de pegar essa carta, que ele tinha acabado de escrever", conta Thaís. Na carta, o pai falava o quanto amava e confiava nos filhos, e se desculpava por não ter se dedicado mais. "Ele trabalhava muito", diz Thaís, que tinha 14 anos quando o perdeu. Em vez de guardar, Nicholas Vallone, 17, preferiu expor sua herança logo na entrada de casa. Ele pendurou na parede o bastão de madeira com um cavalo de prata na ponta que o avô ganhou de Tancredo Neves, na época (1985) recém-eleito presidente da República. "Meu avô sempre me conta as histórias antigas dele e eu sou o neto que mais se interessa. Eu sempre pergunto", diz. E foi durante uma dessas conversas que Nicholas soube que Tancredo ficou hospedado na casa do avô em Uberaba (MG). O bastão foi dado como agradecimento pela estadia, e repassado ao neto interessado. "Fiquei muito orgulhoso, quero guardar isso para mostrar para todas as gerações da minha família", diz. Juliana Annes Erbolato, 17, também pretende mostrar para os filhos a máquina de costura que pertenceu a sua avó. "Não quero me desfazer dela. Ela é linda e ficou muito tempo com a minha avó", afirma. "Quando eu era pequena, ia na casa dela e ficava costurando à mão, enquanto ela costurava nesta máquina", lembra Juliana, que ganhou a herança de aniversário. Já Tamiris Moraes, 17, não chegou a ver a avó usar os três óculos de sol que ela herdou. "Mas, pelo o que meu pai conta, minha avó era muito vaidosa na juventude." Como os acessórios já têm mais de 40 anos, Tamiris é supercuidadosa e não os empresta. "Eles são velhinhos e têm valor sentimental." Quando herança vira briga A partilha dos bens quando alguém da família morre pode ser bem mais complicada. Caio Rossi, 22, levou quase um ano para receber o dinheiro deixado pela avó, morta em 2006. Para ter direito à herança, a mãe dele, que é filha adotiva, recorreu à Justiça. O caso foi resolvido por meio de um acordo com a família. Quando o dinheiro foi liberado, Caio o administrou pela mãe, que estava em Portugal. "Paguei contas, comprei um carro, mandei dinheiro para minha mãe e guardei o resto." Ele também mobiliou o apartamento em que mora. "A vontade da minha avó sempre foi nos dar uma casa. O dinheiro não dava para tanto, mas deu um empurrãozinho." Próximo Texto: Convivência deixa legado vitalício, diz sobrinho de Ayrton Senna Índice |
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