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Segunda hora
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O ser humano pode passar até cinco dias sem
beber água, dependendo das condições de clima, altura e metabolismo individual.
No shopping, sob o ar-condicionado, falando, falando e falando, o grupo suportou 60 minutos. Da livraria direto para o
bebedouro e do bebedouro para um banco, olhando para a
sorveteria. O lugar ideal para
discutir a relação: a relação deles com o consumo.
Com o olhar lânguido característico dos que passam por
uma grande privação, e contemplando sorvetes na vitrine,
Laura Capelhuchnic, 13, discorria sobre a tentação: "Vou ao
shopping todo fim de semana.
Nunca faço grandes compras.
Mas, só em pensar que eu não
posso comprar nada, vai dando
vontade de comer. E o tempo
demora demais pra passar".
Tortura
Tomás complementou enfático: "Nem a aula de história demora tanto". Beatriz propôs
mudar de cenário: "Falar disso
na frente da sorveteria é uma
tortura", concluiu.
O abatimento da primeira
hora mudou de figura na loja de
eletroeletrônicos, dessas que
têm iMac, celulares e TVs de
plasma estrategicamente posicionadas em frente a sofás convidativos.
Nos iMacs eles adulteravam
seus auto-retratos, criando situações insólitas. Podiam filmar-se ali, entediados no shopping, e ver suas imagens, em
movimento, descendo por uma
montanha-russa.
Quando enjoaram do iMac,
cotaram preços de celulares, dizendo uns aos outros quais modelos eles tanto queriam. Até
que o próprio "querer" cansou.
Enquanto Pedro Levorin, 12,
inalava vapor do purificador de
ar soltando "fumaça" pela boca
como se estivesse fumando,
Tomás Estima apareceu com
um cafezinho fresco, conseguido inteiramente grátis, sem
custo adicional, no estande de
cafeteiras de espressos.
"Eu disse a vocês que sou perito em vir ao shopping e não
gastar nada", explicou.
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