São Paulo, segunda-feira, 26 de maio de 2008

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Segunda hora

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O ser humano pode passar até cinco dias sem beber água, dependendo das condições de clima, altura e metabolismo individual. No shopping, sob o ar-condicionado, falando, falando e falando, o grupo suportou 60 minutos. Da livraria direto para o bebedouro e do bebedouro para um banco, olhando para a sorveteria. O lugar ideal para discutir a relação: a relação deles com o consumo.
Com o olhar lânguido característico dos que passam por uma grande privação, e contemplando sorvetes na vitrine, Laura Capelhuchnic, 13, discorria sobre a tentação: "Vou ao shopping todo fim de semana. Nunca faço grandes compras. Mas, só em pensar que eu não posso comprar nada, vai dando vontade de comer. E o tempo demora demais pra passar".

Tortura
Tomás complementou enfático: "Nem a aula de história demora tanto". Beatriz propôs mudar de cenário: "Falar disso na frente da sorveteria é uma tortura", concluiu.
O abatimento da primeira hora mudou de figura na loja de eletroeletrônicos, dessas que têm iMac, celulares e TVs de plasma estrategicamente posicionadas em frente a sofás convidativos.
Nos iMacs eles adulteravam seus auto-retratos, criando situações insólitas. Podiam filmar-se ali, entediados no shopping, e ver suas imagens, em movimento, descendo por uma montanha-russa.
Quando enjoaram do iMac, cotaram preços de celulares, dizendo uns aos outros quais modelos eles tanto queriam. Até que o próprio "querer" cansou.
Enquanto Pedro Levorin, 12, inalava vapor do purificador de ar soltando "fumaça" pela boca como se estivesse fumando, Tomás Estima apareceu com um cafezinho fresco, conseguido inteiramente grátis, sem custo adicional, no estande de cafeteiras de espressos.
"Eu disse a vocês que sou perito em vir ao shopping e não gastar nada", explicou.


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