|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TRABALHO
Conheça o que levou os estudantes ouvidos pelo Folhateen a tentar relações internacionais
Nobel da Paz inspira opção por RI
DA REPORTAGEM LOCAL
"Queria o cargo de Mohamed el
Baradei", conta o estudante do
segundo ano do ensino médio
Ricardo Tenório, 16. Ele sonha um dia ocupar o cargo de diretor-geral da AIEA
(Agência Internacional de Energia Atômica), braço das Nações Unidas para questões
de não-proliferação nuclear, ocupado hoje
pelo vencedor do Prêmio Nobel da Paz no
ano passado. Para isso, Ricardo pretende
prestar relações internacionais.
Ele tomou a decisão depois de participar
de um modelo de simulação da ONU organizado pela Faap (Fundação Armando Álvares Penteado). Nessa disputa verbal, cada
escola inscrita recebe um ou dois países para defender, e cada aluno defenderá um
desses países em um dos comitês.
"No primeiro Fórum Faap eu fui a Coréia
do Norte, no comitê de desarmamento e
segurança internacional", conta Ricardo.
"É uma experiência muito legal, organizada pelo pessoal de RI da Faap. Eu adorei.
Queria fazer jornalismo. Depois, decidi por
direito. Aí fui a esse modelo e descobri que
era isso. No ano passado, assistir a aulas de
diplomacia e de política no curso de RI da
PUC-SP. Adorei. Quero fazer tratados internacionais, e RI parece bastante útil para
isso e me dá alguma base", conta Ricardo.
Carolina Cavalcanti, 20, faz cursinho para
prestar direito na USP e RI na Unicamp e
na Unesp. "Muitas pessoas que pensavam
em fazer direito estão fazendo RI. Eu pretendo trabalhar no exterior, em um consulado. Espero sair pronta da faculdade para
atuar como cidadã, ajudar a sociedade e
dar uma outra visão da vida para as pessoas. Falta muito isso no Brasil."
A estudante quer ser procuradora internacional e pretende juntar as duas graduações para atuar na área pública. "Seguiria
carreira diplomática somente se, durante a
faculdade, eu me identificar."
Para o presidente do Instituto de Estudos
Econômicos e Internacionais e coordenador-geral do grupo de conjuntura internacional da USP, Gilberto Dupas, a opção de
Carolina é a mais indicada.
"Para mim, o grande dilema do curso de
RI é: "O que vocês vão fazer com a informação que receberam?". Procuro aconselhar
da seguinte maneira: quem faz um curso de
RI de graduação, deverá fazer um curso de
pós-graduação focado. Faça uma especialização para aplicar a generalidade. Outra
opção é fazer a graduação em direito e a especialização em RI, por exemplo", explica.
Gabriel Arce, 18, pretende prestar vestibular para duas faculdades. Mas não de
acordo com o conselho de Gilberto Dupas.
Ele vai tentar oceanografia e RI.
"RI é a segunda opção. Minha primeira
sempre foi oceanografia. Mas, por ser uma
carreira diferenciada, resolvi prestar RI.
Além disso, tenho cidadania americana e
quero morar nos EUA", conta. "As duas faculdades não têm nada a ver, mas gosto
muito de política internacional desde os 14
anos. Quero seguir carreira diplomática,
mas nunca pensei em fazer isso aqui."
Da cozinha para as relações internacionais. Em uma temporada de quatro meses
na Europa, o estudante Gabriel Leicand, 18,
decidiu que prestará vestibular para RI.
"Não entrei em nenhuma faculdade, então decidi passar um tempo em Paris. Queria ser cozinheiro. Nesse meio tempo conheci um grupo de RI que estava fazendo
intercâmbio. Vi que o curso se encaixou
exatamente nos meus interesses. Gosto
mais da discussão mais ampla do direito,
relacionada à ética. Quando eu descobri
que RI tinha tudo de economia, de direito e
de história atual, decidi prestar."
Leicand ainda tem dúvida sobre qual área
pretende atuar. "Sempre fiz projetos sociais. Não sei se vou acabar trabalhando numa ONG, numa empresa ou no governo,
mas eu sei que eu não quero ser diplomata.
Acho que em pequenas coisas a gente pode
mudar mais. Apesar de não ter abandonado por completo a idéia de ser cozinheiro."
A indecisão pode atrapalhar os planos de
quem não está preparado para encarar as
dificuldades que o curso de RI apresenta.
A aluna do primeiro semestre do curso da
USP Elisa Klüger, 18, já conhece o que vem
pela frente. "Há muita coisa interessante no
curso. É muito teórico e, para quem não está disposto a ler e resumir uma média de 50
páginas por dia, provavelmente não é aconselhável. Além disso, o curso tem muitas
palestras. O aluno que vai ingressar tem de
pensar que vai ficar praticamente todos os
dias em palestras. Um dia vem um francês,
outro dia vem um cara falar sobre jihad,
tem muito tema. Você vai ter de ler, resumir e entregar. Você vai fazer isso o tempo
inteiro", alerta.
(LEANDRO FORTINO)
Texto Anterior: Os internacionalistas Próximo Texto: Música: Rock para encontrar Índice
|