São Paulo, segunda-feira, 27 de março de 2006

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TRABALHO

Conheça o que levou os estudantes ouvidos pelo Folhateen a tentar relações internacionais

Nobel da Paz inspira opção por RI

DA REPORTAGEM LOCAL

"Queria o cargo de Mohamed el Baradei", conta o estudante do segundo ano do ensino médio Ricardo Tenório, 16. Ele sonha um dia ocupar o cargo de diretor-geral da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), braço das Nações Unidas para questões de não-proliferação nuclear, ocupado hoje pelo vencedor do Prêmio Nobel da Paz no ano passado. Para isso, Ricardo pretende prestar relações internacionais.
Ele tomou a decisão depois de participar de um modelo de simulação da ONU organizado pela Faap (Fundação Armando Álvares Penteado). Nessa disputa verbal, cada escola inscrita recebe um ou dois países para defender, e cada aluno defenderá um desses países em um dos comitês.
"No primeiro Fórum Faap eu fui a Coréia do Norte, no comitê de desarmamento e segurança internacional", conta Ricardo.
"É uma experiência muito legal, organizada pelo pessoal de RI da Faap. Eu adorei. Queria fazer jornalismo. Depois, decidi por direito. Aí fui a esse modelo e descobri que era isso. No ano passado, assistir a aulas de diplomacia e de política no curso de RI da PUC-SP. Adorei. Quero fazer tratados internacionais, e RI parece bastante útil para isso e me dá alguma base", conta Ricardo.
Carolina Cavalcanti, 20, faz cursinho para prestar direito na USP e RI na Unicamp e na Unesp. "Muitas pessoas que pensavam em fazer direito estão fazendo RI. Eu pretendo trabalhar no exterior, em um consulado. Espero sair pronta da faculdade para atuar como cidadã, ajudar a sociedade e dar uma outra visão da vida para as pessoas. Falta muito isso no Brasil."
A estudante quer ser procuradora internacional e pretende juntar as duas graduações para atuar na área pública. "Seguiria carreira diplomática somente se, durante a faculdade, eu me identificar."
Para o presidente do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais e coordenador-geral do grupo de conjuntura internacional da USP, Gilberto Dupas, a opção de Carolina é a mais indicada.
"Para mim, o grande dilema do curso de RI é: "O que vocês vão fazer com a informação que receberam?". Procuro aconselhar da seguinte maneira: quem faz um curso de RI de graduação, deverá fazer um curso de pós-graduação focado. Faça uma especialização para aplicar a generalidade. Outra opção é fazer a graduação em direito e a especialização em RI, por exemplo", explica.
Gabriel Arce, 18, pretende prestar vestibular para duas faculdades. Mas não de acordo com o conselho de Gilberto Dupas. Ele vai tentar oceanografia e RI.
"RI é a segunda opção. Minha primeira sempre foi oceanografia. Mas, por ser uma carreira diferenciada, resolvi prestar RI. Além disso, tenho cidadania americana e quero morar nos EUA", conta. "As duas faculdades não têm nada a ver, mas gosto muito de política internacional desde os 14 anos. Quero seguir carreira diplomática, mas nunca pensei em fazer isso aqui."
Da cozinha para as relações internacionais. Em uma temporada de quatro meses na Europa, o estudante Gabriel Leicand, 18, decidiu que prestará vestibular para RI.
"Não entrei em nenhuma faculdade, então decidi passar um tempo em Paris. Queria ser cozinheiro. Nesse meio tempo conheci um grupo de RI que estava fazendo intercâmbio. Vi que o curso se encaixou exatamente nos meus interesses. Gosto mais da discussão mais ampla do direito, relacionada à ética. Quando eu descobri que RI tinha tudo de economia, de direito e de história atual, decidi prestar."
Leicand ainda tem dúvida sobre qual área pretende atuar. "Sempre fiz projetos sociais. Não sei se vou acabar trabalhando numa ONG, numa empresa ou no governo, mas eu sei que eu não quero ser diplomata. Acho que em pequenas coisas a gente pode mudar mais. Apesar de não ter abandonado por completo a idéia de ser cozinheiro."
A indecisão pode atrapalhar os planos de quem não está preparado para encarar as dificuldades que o curso de RI apresenta.
A aluna do primeiro semestre do curso da USP Elisa Klüger, 18, já conhece o que vem pela frente. "Há muita coisa interessante no curso. É muito teórico e, para quem não está disposto a ler e resumir uma média de 50 páginas por dia, provavelmente não é aconselhável. Além disso, o curso tem muitas palestras. O aluno que vai ingressar tem de pensar que vai ficar praticamente todos os dias em palestras. Um dia vem um francês, outro dia vem um cara falar sobre jihad, tem muito tema. Você vai ter de ler, resumir e entregar. Você vai fazer isso o tempo inteiro", alerta. (LEANDRO FORTINO)

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