São Paulo, segunda-feira, 27 de abril de 2009

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literatura

Do lado de lá

Jornada pós-morte da garota de 15 anos Liz rende história bem viva no livro "Em Outrolugar", que mistura religiões

CHICO FELITTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Gabrielle Zevin, 32, sempre foi uma boa garota. Filha única exemplar e aluna excepcional na universidade Harvard, levou a vida nos conformes até matar por atropelamento Elizabeth Hall, uma menina de 15 anos.
Mas nada que sujasse sua ficha: o assassinato foi literário e é o ponto de partida da jornada de Liz no livro "Em Outrolugar" (ed. Rocco, 336 págs., R$ 42, trad. de Sonia Coutinho).
Depois acordar no navio SS Nilo, de onde vê como anda a Terra sem ela, Liz faz amizade com um roqueiro que sofreu uma overdose. Estão mortos e sendo levados para Outrolugar.
Ao chegar na cidade do além, Liz vai morar com a avó, que havia morrido há anos. Tudo lá é igual ao mundo "daqui": há carros, cachorros e museus. Só que, lá, as pessoas remoçam ao invés de envelhecer.
Mesmo morta, a jovem vai batendo de frente com a vida (ou a pós-vida): apaixona-se. "Como todos nós", diz a autora à Folha, por telefone.
Americana com feições de coreana (por parte de mãe) e olhos azuis (contribuição do pai), Gabrielle diz que não acredita em vida após a morte. "É tudo ficção, garanto."

 

FOLHA - Em seu blog (gabrielleze vin.blogspot.com), você aconselha os jovens a não terem medo de desistir. Por que não desistiu de escrever "Em Outrolugar"?
GABRIELLE ZEVIN
- Eu nunca sei por que não desisto! Na realidade, eu desisto bastante. Tudo o que você faz vai ser útil em algum momento da vida, então não vale se prender tanto. É difícil para o jovem de hoje se reinventar, mudar e crescer. Como fazer isso quando se tem o mesmo número de telefone há dez anos? A internet faz com que fiquemos ligados ao passado: você está ao alcance dos seus amiguinhos de escola. Como perder o medo de ousar e dar uma guinada, assim, com todo mundo te olhando?

FOLHA - Lidar com a morte é lidar com a mudança?
ZEVIN
- Sim. É o drama principal de Liz. Ela tem de se convencer de que está morta e ainda tem que lidar com os problemas que teria se estivesse viva.

FOLHA - O livro tem elementos de religiões como catolicismo, hinduísmo e judaísmo. Você é adepta de alguma religião?
ZEVIN
- Não. Meu pai é judeu e minha mãe é cristã. O que acho fascinante nas religiões são suas semelhanças. Fiz referências naturais, da minha vida, que falam de muitas religiões.

FOLHA - Religiões são importantes na juventude?
ZEVIN
- Sem dúvida. Religiões podem ser confortadoras. Abraçam quem faz parte delas quando essa pessoa necessita. Não sou contra religiões. Só não é "a minha".

FOLHA - Você tem medo da morte?
ZEVIN
- Não. Temo mais ficar como uma das minhas avós, que tem mal de Alzheimer e não se lembra de mim.


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