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literatura
Do lado de lá
Jornada pós-morte da garota de 15 anos Liz rende história bem viva no livro "Em Outrolugar", que mistura religiões
CHICO FELITTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Gabrielle Zevin, 32,
sempre foi uma boa
garota. Filha única
exemplar e aluna
excepcional na universidade Harvard, levou a vida
nos conformes até matar por
atropelamento Elizabeth Hall,
uma menina de 15 anos.
Mas nada que sujasse sua ficha: o assassinato foi literário e
é o ponto de partida da jornada
de Liz no livro "Em Outrolugar" (ed. Rocco, 336 págs., R$
42, trad. de Sonia Coutinho).
Depois acordar no navio SS
Nilo, de onde vê como anda a
Terra sem ela, Liz faz amizade
com um roqueiro que sofreu
uma overdose. Estão mortos e
sendo levados para Outrolugar.
Ao chegar na cidade do além,
Liz vai morar com a avó, que
havia morrido há anos. Tudo lá
é igual ao mundo "daqui": há
carros, cachorros e museus. Só
que, lá, as pessoas remoçam ao
invés de envelhecer.
Mesmo morta, a jovem vai
batendo de frente com a vida
(ou a pós-vida): apaixona-se.
"Como todos nós", diz a autora
à Folha, por telefone.
Americana com feições de
coreana (por parte de mãe) e
olhos azuis (contribuição do
pai), Gabrielle diz que não
acredita em vida após a morte.
"É tudo ficção, garanto."
FOLHA - Em seu blog (gabrielleze
vin.blogspot.com), você aconselha
os jovens a não terem medo de desistir. Por que não desistiu de escrever "Em Outrolugar"?
GABRIELLE ZEVIN - Eu nunca sei
por que não desisto! Na realidade, eu desisto bastante. Tudo o
que você faz vai ser útil em algum momento da vida, então
não vale se prender tanto. É difícil para o jovem de hoje se
reinventar, mudar e crescer.
Como fazer isso quando se tem
o mesmo número de telefone
há dez anos? A internet faz com
que fiquemos ligados ao passado: você está ao alcance dos
seus amiguinhos de escola. Como perder o medo de ousar e
dar uma guinada, assim, com
todo mundo te olhando?
FOLHA - Lidar com a morte é lidar
com a mudança?
ZEVIN - Sim. É o drama principal de Liz. Ela tem de se convencer de que está morta e ainda tem que lidar com os problemas que teria se estivesse viva.
FOLHA - O livro tem elementos de
religiões como catolicismo, hinduísmo e judaísmo. Você é adepta de alguma religião?
ZEVIN - Não. Meu pai é judeu e
minha mãe é cristã. O que acho
fascinante nas religiões são
suas semelhanças. Fiz referências naturais, da minha vida,
que falam de muitas religiões.
FOLHA - Religiões são importantes
na juventude?
ZEVIN - Sem dúvida. Religiões
podem ser confortadoras.
Abraçam quem faz parte delas
quando essa pessoa necessita.
Não sou contra religiões. Só
não é "a minha".
FOLHA - Você tem medo da morte?
ZEVIN - Não. Temo mais ficar
como uma das minhas avós,
que tem mal de Alzheimer e
não se lembra de mim.
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