São Paulo, segunda-feira, 27 de maio de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FOLHATEEN EXPLICA

Governo comemora, mas redução nos anos 90 foi inferior à dos 80

Taxa de mortalidade infantil cai menos na última década

RUBENS VALENTE
DO PAINEL

Mesmo com reconhecidas conquistas do governo federal e da sociedade civil no combate à mortalidade infantil no país, a redução do índice de crianças mortas entre os anos de 1990 e 2000 foi menor do que a redução verificada entre 1980 e 1990.
Segundo o Censo 2000 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), no ano 2000 morreram, antes de completar um ano de idade, 29,6 crianças a cada grupo de mil.
Em 1990, morreram 48,3 crianças a cada grupo de mil nascidas vivas. Isso significa uma redução de 38,3% entre 1990 e 2000.
Entre 1980 e 1990, no entanto, a queda foi de 41,6% -de 82,8 para 48,3 mortes de crianças por cada grupo de mil.
O presidente Fernando Henrique Cardoso e o pré-candidato à Presidência da República que conta com o apoio de FHC, o senador José Serra (PSDB-SP), têm usado a redução da mortalidade infantil no país como uma das principais propagandas de governo na área social. Mas vêm evitando fazer comparações entre as décadas de 90 e de 80. Eles não querem dar argumentos para os parlamentares e candidatos da oposição mostrarem que os feitos do governo não são tão formidáveis quanto diz a propaganda oficial.
Como estamos num ano eleitoral, todo o desempenho do governo nos últimos sete anos e meio -período que vem sendo chamado de era FHC- está sendo avaliado com mais atenção.
O governo federal não considera que a menor redução na década de 90 indique uma deficiência no combate à mortalidade infantil. De acordo com a coordenadora de Saúde da Criança do Ministério da Saúde, Ana Goretti Kalume Maranhão, "quanto menor a mortalidade, menor a velocidade da queda do índice".
Para Ana Goretti, a redução da mortalidade infantil tende a ser cada vez menor daqui para a frente porque o número de óbitos vem caindo ano a ano.
Ana Goretti destaca que o Brasil reduziu o número de crianças mortas na década de 90 "quase três vezes mais que o conjunto dos 160 países" da Cúpula Mundial em Favor da Infância, realizada em 1990 sob comando da ONU (Organização das Nações Unidas).
"Muito há para fazer, mas é injusto não reconhecer os avanços que já conseguimos nessa área", disse Ana Goretti.
Além das ações do governo, uma das principais responsáveis pela redução da morte de crianças no país é a Pastoral da Criança, uma organização não governamental ligada à Igreja Católica.
A Pastoral da Criança tem cerca de 150 mil voluntários no país e no exterior. Eles prestam orientação e apoio às famílias pobres, principalmente quanto a melhorias da alimentação do bebê.
De acordo com o pesquisador do IBGE Celso Simões, especialista no tema da mortalidade infantil, o Brasil encontra-se numa situação "intermediária" na América Latina. Está bem pior do que países vizinhos como a Argentina, que registra 19 mortes a cada grupo de mil crianças nascidas vivas, ou o Chile, com 10,5 óbitos por mil nascidas vivas.
Mas o Brasil está melhor do que outros países, como a Bolívia, que tem 67 mortes por grupo de mil, e o Peru, com 43 mortes por mil crianças nascidas vivas.
Se comparada com a de países mais desenvolvidos, a situação do Brasil está péssima. No Japão, são 3,5 mortes por mil nascidos vivos e, nos Estados Unidos, 6,5.


Texto Anterior: Internotas
Próximo Texto: Estante: A cor do mundo quando visto bem perto do abismo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.