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carreira
Vida cantada
Febre das peças musicais estrangeiras no Brasil inspira jovens a buscar o sonho de chegar à Broadway
Patricia Stavis/Folha Imagem
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O sonho dessa galera é a Broadway
LUANA VILLAC
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Se antigamente os brasileiros que gostam de
assistir a teatros musicais como "Cats",
"Miss Saigon" e "Les
Misérables" tinham que ir à
Broadway, em Nova York, ou
ao West End, em Londres, hoje
espetáculos como esses são
produzidos em versões nacionais e atraem um público cada
vez maior e mais cativo.
Mas não é apenas na platéia
que a atração desses shows
grandiloqüentes se exerce. Motivados pelo sucesso crescente
do gênero no país, muitos jovens brasileiros sonham em seguir carreira no ramo e desde
cedo se preparam com cursos
que unem canto, dança e interpretação.
É o caso de Alexandre de
Campos Carvalho, 17, que há
três anos faz aulas específicas
para musicais duas vezes por
semana. "Fui assistir a um espetáculo e me apaixonei", conta. "Decidi: é isso que eu quero
da minha vida."
O amor de Alexandre pelas
peças cantadas é tão grande
que contagiou a família toda.
"Meus pais não tinham noção do que era isso, mas agora
são fãs e sempre me levam para
assistir às novas montagens",
diz. "Meu irmãozinho de dez
anos já está querendo entrar
nas aulas também."
Na casa de Hao Ping Lin, 18, a
escolha do garoto não recebeu a
mesma acolhida de Alexandre.
"Meus pais são contra", explica. "Eles dizem que as aulas
são perda de tempo e de dinheiro". Apesar disso, o estudante,
que nasceu em Taiwan, já freqüenta o mesmo curso que Alexandre há mais de dois anos.
"Essa é minha maior paixão",
garante. "Talvez porque eu
amasse tanto os teatros chineses que assistia em Taiwan
quando era criança."
Para não contrariar os pais
excessivamente, Hao faz faculdade de confeitaria e panificação e trabalha em um restaurante vegetariano. Mas continua a apostar nos musicais.
Depois de uma primeira audição malsucedida para o espetáculo "Peter Pan", quando
caiu no palco no meio de uma
dança, ele aguarda ansioso os
resultados dos testes de "Miss
Saigon", que fez há alguns meses. "Acredito que vou conseguir fazer disso minha profissão", espera.
Rodolpho Rodrigues Baptista, 15, que começou a se envolver com musicais na escola de
inglês, tem receio de seguir carreira na área. "É um meio muito competitivo, e a renda é duvidosa, nunca se sabe quando
vai aparecer um novo trabalho", pondera.
No entanto ele não se importou em encarar uma rotina de
ensaios puxados para participar do elenco de dois musicais
ao mesmo tempo, que ficaram
em cartaz no Teatro Cultura
Inglesa até o último final de semana. "É uma experiência única, inigualável", elogia. "Apesar
da instabilidade, tenho vontade
de continuar no meio."
Trabalhando na área
As amigas Bianca Silva Alencar, 14, e Michelle del Giudice,
13, já são profissionais do ramo,
apesar da pouca idade. Ambas
fizeram parte do elenco dos
musicais infantis "Barney" e
"Moranguinho" e até tiveram
que aprender a cantar em espanhol para uma temporada de
50 dias em Buenos Aires.
"No começo foi difícil, mas
logo nos acostumamos a cantar
em outra língua", conta Bianca.
Fã de "High School Musical",
"Grease" e "Hairspray", ela costuma deixar os pais loucos de
tanto ensaiar em casa. "Mas
eles me apóiam muito", diz.
"Meu pai até fica ouvindo as
músicas e me dizendo se estou
cantando certo ou não."
Michelle também passa horas ensaiando em seu quarto.
"Gosto de pegar coreografias
difíceis no YouTube e ficar imitando", diz. "Minha mãe fica
perguntando se eu não tenho lição de casa para fazer."
Para não ficar para trás na escola, Michelle conta com a ajuda dos professores, que mandam a matéria pela internet
quando ela está em turnê, e das
amigas, que repassam as lições
e explicações para ela. "Nunca
repeti de ano. Aprendi a conciliar trabalho e estudo."
Camila Pereira, 14, ainda não
sabe se quer trabalhar com musicais ou balé clássico no futuro. Bailarina há dez anos, ela
passou a seguir aulas de musical há dois, depois que as irmãs
mais novas começaram.
"Amo dançar, e as duas áreas
trazem possibilidades muito
diferentes", reflete. "Acho que
no balé tudo é mais marcado.
No musical, você tem muito
mais liberdade para se expressar e para brincar."
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