São Paulo, segunda-feira, 27 de outubro de 2008

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carreira

Vida cantada

Febre das peças musicais estrangeiras no Brasil inspira jovens a buscar o sonho de chegar à Broadway

Patricia Stavis/Folha Imagem
O sonho dessa galera é a Broadway

LUANA VILLAC
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Se antigamente os brasileiros que gostam de assistir a teatros musicais como "Cats", "Miss Saigon" e "Les Misérables" tinham que ir à Broadway, em Nova York, ou ao West End, em Londres, hoje espetáculos como esses são produzidos em versões nacionais e atraem um público cada vez maior e mais cativo.
Mas não é apenas na platéia que a atração desses shows grandiloqüentes se exerce. Motivados pelo sucesso crescente do gênero no país, muitos jovens brasileiros sonham em seguir carreira no ramo e desde cedo se preparam com cursos que unem canto, dança e interpretação.
É o caso de Alexandre de Campos Carvalho, 17, que há três anos faz aulas específicas para musicais duas vezes por semana. "Fui assistir a um espetáculo e me apaixonei", conta. "Decidi: é isso que eu quero da minha vida."
O amor de Alexandre pelas peças cantadas é tão grande que contagiou a família toda.
"Meus pais não tinham noção do que era isso, mas agora são fãs e sempre me levam para assistir às novas montagens", diz. "Meu irmãozinho de dez anos já está querendo entrar nas aulas também."
Na casa de Hao Ping Lin, 18, a escolha do garoto não recebeu a mesma acolhida de Alexandre.
"Meus pais são contra", explica. "Eles dizem que as aulas são perda de tempo e de dinheiro". Apesar disso, o estudante, que nasceu em Taiwan, já freqüenta o mesmo curso que Alexandre há mais de dois anos.
"Essa é minha maior paixão", garante. "Talvez porque eu amasse tanto os teatros chineses que assistia em Taiwan quando era criança."
Para não contrariar os pais excessivamente, Hao faz faculdade de confeitaria e panificação e trabalha em um restaurante vegetariano. Mas continua a apostar nos musicais.
Depois de uma primeira audição malsucedida para o espetáculo "Peter Pan", quando caiu no palco no meio de uma dança, ele aguarda ansioso os resultados dos testes de "Miss Saigon", que fez há alguns meses. "Acredito que vou conseguir fazer disso minha profissão", espera.
Rodolpho Rodrigues Baptista, 15, que começou a se envolver com musicais na escola de inglês, tem receio de seguir carreira na área. "É um meio muito competitivo, e a renda é duvidosa, nunca se sabe quando vai aparecer um novo trabalho", pondera.
No entanto ele não se importou em encarar uma rotina de ensaios puxados para participar do elenco de dois musicais ao mesmo tempo, que ficaram em cartaz no Teatro Cultura Inglesa até o último final de semana. "É uma experiência única, inigualável", elogia. "Apesar da instabilidade, tenho vontade de continuar no meio."

Trabalhando na área
As amigas Bianca Silva Alencar, 14, e Michelle del Giudice, 13, já são profissionais do ramo, apesar da pouca idade. Ambas fizeram parte do elenco dos musicais infantis "Barney" e "Moranguinho" e até tiveram que aprender a cantar em espanhol para uma temporada de 50 dias em Buenos Aires.
"No começo foi difícil, mas logo nos acostumamos a cantar em outra língua", conta Bianca.
Fã de "High School Musical", "Grease" e "Hairspray", ela costuma deixar os pais loucos de tanto ensaiar em casa. "Mas eles me apóiam muito", diz. "Meu pai até fica ouvindo as músicas e me dizendo se estou cantando certo ou não."
Michelle também passa horas ensaiando em seu quarto. "Gosto de pegar coreografias difíceis no YouTube e ficar imitando", diz. "Minha mãe fica perguntando se eu não tenho lição de casa para fazer."
Para não ficar para trás na escola, Michelle conta com a ajuda dos professores, que mandam a matéria pela internet quando ela está em turnê, e das amigas, que repassam as lições e explicações para ela. "Nunca repeti de ano. Aprendi a conciliar trabalho e estudo."
Camila Pereira, 14, ainda não sabe se quer trabalhar com musicais ou balé clássico no futuro. Bailarina há dez anos, ela passou a seguir aulas de musical há dois, depois que as irmãs mais novas começaram.
"Amo dançar, e as duas áreas trazem possibilidades muito diferentes", reflete. "Acho que no balé tudo é mais marcado. No musical, você tem muito mais liberdade para se expressar e para brincar."


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