GUILHERME WERNECK
DA REPORTAGEM LOCAL

Os melhores remédios contra a monocultura promovida pelas grandes gravadoras, que tem tolhido a ousadia e a inovação na música brasileira, vêm da independência.
Sem muito dinheiro e tendo de se virar para gravar e distribuir os seus discos, os independentes parecem ser os únicos a desenvolver uma linguagem que segue a tradição da música brasileira, mas a atualiza e a subverte ao incorporar uma sonoridade contemporânea e nada conformista.
Assim, o CD "Sincerely Hot", de Domenico + 2 -trio formado pelos multiinstrumentistas Domenico Lancellotti, Moreno Veloso e Kassin-, é exemplar. Domenico + 2 é a nova encarnação do trio Moreno + 2, que, em 2000, lançou "Máquina de Escrever Música".
Em "Sincerely Hot", convivem sem dramas elementos de bossa nova, ecos da tropicália, a onda black setentista, muito da música instrumental brasileira dos anos 70 e também referências ao começo do jazz fusion, de discos como "Bitches Brew", de Miles Davis.
"Nos inspiramos bastante na sonoridade dos anos 70 para compor esse trabalho. Gostamos muito de Miles Davis, Marcos Valle, Eumir Deodato e queríamos trazer isso para o disco", explica Domenico, 30.
O detalhe é que esse uso da MPB e do jazz não é literal, e as faixas, ao receberem um tratamento eletrônico nada pasteurizado, alternam levadas impulsionadas por loops dançantes e texturas criadas delicadamente com beats e blips.
Mesmo sendo concebido pelo trio, "Sincerely Hot" é repleto de participações especiais, que vão de Arto Lindsay e Rodrigo Amarante, do Los Hermanos, ao trombonista Paulo Williams e o violonista Pedro Sá. "O CD foi gravado no estúdio do Kassin. Eu já tinha uma ou outra música, mas acabamos compondo o disco lá. Como o estúdio fica no Baixo Gávea [no Rio], as pessoas iam passando por lá e dando suas contribuições", diz Domenico.
Agora, é só esperar o que vem em Kassin + 2.