São Paulo, segunda-feira, 28 de maio de 2007

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Comportamento

Você já viu uma lolita fashion?

Moda urbana japonesa começa a aparecer em SP, apesar do preconceito e das dificuldades que suas seguidoras enfrentam

Julia Moraes/Folha Imagem
Rafaela Ryon, 23, lolita fashion, subgênero gothic lolita, subsubgênero Revolução Francesa, no parque do Ibirapuera


DIOGO BERCITO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Elas se vestem com roupas baseadas no século 19 europeu, tomam chá, passeiam em parques e gostam de se comportar com etiqueta. Há quem diga que essas garotas se parecem com bonecas. No Japão, fervem no bairro Harajuku, em Tóquio, e movimentam uma comunidade grande e bem articulada. No Brasil, ainda são um grupo pequeno e tímido. Elas são as lolitas góticas, ou lolitas fashion, ou simplesmente "lolis".
Mas... Lolitas? Góticas? Os nomes podem enganar. Não, não há muito do que conhecemos por gótico nesse estilo. A não ser, talvez, pela cor de algumas roupas, as meninas não se maquiam de preto como seres das trevas amantes de bandas como The Cure. E também não há nada de escancaradamente erótico nessas lolitas -aliás, a idéia é justamente parecer mais meiga do que sexy.
Lolita gótica é uma cultura que não se encaixa nos tempos atuais e une elementos de diversas épocas. É uma mistura de um monte de coisas: a tecnologia do movimento ciberpunk, os bons modos do período vitoriano, o requinte do barroco, a cultura japonesa e a dinâmica da vida urbana.
Os seguidores do estilo, em geral meninas de 12 a 18 anos, vestem-se como bonecas e gostam de cultuar valores de outras gerações, como a inocência e a elegância.

"Vai sair assim?"
O Folhateen procurou as gothic lolitas de São Paulo para conhecer melhor o estilo. Em comum, elas fazem parte das comunidades Gothic Lolita do Orkut, costuram as próprias roupas -ou as compram em brechós-, são fãs da cultura japonesa e usam vestidos longos repletos de babados, anáguas embaixo das saias e acessórios como coroas, luvas e meias .
Outra coisa em comum é ouvir o seguinte comentários dos pais: "Você vai sair de casa vestida assim?". "É comum sofrer preconceito por parte da família, dos amigos e do namorado", diz Stephanie Gonçalves, cujo namorado, punk, não gosta das roupas de boneca dela.
Stephanie (que usa o nick Cassini), 19, é estudante de educação artística e aderiu ao estilo há um ano e meio. Estava passeando no bairro paulista da Liberdade -parada obrigatória para toda loli- e viu, numa livraria japonesa, a revista importada "Gothic & Lolita Bible". Para ela, trata-se de uma busca por delicadeza. Hoje em dia, veste-se como gothic lolita na faculdade, em passeios nos parques e em casa.

"Maluca!"
Ana Claudia Ribeiro (Roxie, para os internautas) tem 17 e quer estudar moda. Conheceu as gothic lolitas há um ano por meio da internet e ainda não tem um guarda-roupa tão completo. Por isso, usa as suas roupas fashion apenas para sair. "Minhas amigas acham que sou maluca", diz Ana Claudia, que parece não se importar. Ela desenha e costura as próprias roupas.
Ananda Pinto (a Mia), 20, também não se veste como gothic lolita todo santo dia. Os momentos adequados, para ela, são os finais de semana -em que religiosamente vai à Liberdade. Ananda é loli há dois anos e só ouve música japonesa. Sua banda predileta é a Ancafe.
Nas comunidades virtuais, tenta sempre agitar os eventos, para que mais pessoas compareçam. Fez muitos amigos na internet, por perceber que seus amigos na escola achavam que as suas roupas eram fantasias, e não uma moda.
"Alguns me perguntam se o Carnaval começou mais cedo. Outros querem saber se sou emo." Para ela, o estilo é "como uma tribo qualquer que se junta por um gosto em comum".
Quando algumas das meninas relutaram em falar ao Folhateen, com medo que o gothic lolita fosse muito divulgado, Rafaela Ryon, 23, discordou. "Isso é síndrome de underground", brincou. "Minha mãe sempre me vestiu como uma bonequinha", conta.
Fascinada pela Revolução Francesa, desde pequena tenta adequar as suas roupas a um estilo mais antigo. Conheceu o gothic lolita em 2000 e logo se identificou. "Não sabia que tinha nome!" Para ela, trata-se apenas de uma moda, não de um modo de vida.
A maior dificuldade em ser uma lolita fashion, para as quatro, é encontrar artigos para comprar. Essa é razão, segundo elas, de estar demorando tanto para a moda ganhar outra dimensão no país.
Não existe nenhuma loja, exceto algumas virtuais. Por isso, Stephanie pretende começar, já no próximo mês, uma parceria com a loja Ultra Anime, na zona Norte de SP, para expor a sua marca "Sonho de Ametista", cujas roupas ela própria desenha e costura.

Anos 50
Darlene de Queiroz Cavalcante, 26, descobriu outro jeito de usar sua moda lolita fashion para trabalhar. Ela é dançarina profissional em clubes de rock, Astronete Bar, Vegas e Hangar 110. Sua inspiração são as adolescentes, mas as dos anos 50, não as do século 21.
"As mulheres se esqueceram de ter feminilidade", diz ela, que passa batom vermelho, usa saia e, às vezes, coloca uma peruca no estilo Marilyn Monroe. O ataque das lolitas fashion apenas começou.


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