São Paulo, segunda-feira, 28 de maio de 2007

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música

Saco de gatos

CD "MTV ao Vivo" mostra atual painel do rock nacional regado a clichês emo

MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O sucesso é real, e o público canta mesmo. No show "MTV ao Vivo - 5 Bandas de Rock", não faltou paixão no Via Funchal, SP.
E não adianta: o rock se criou com a juventude dando bananas para a opinião de coroas. Logo, é preciso ouvir o que se ruge no CD para sacar o painel.
Após acordes simples, rapidez e refrães empolgantes, intrigam a falta de personalidade e, pior, a satisfação que público, grupos e produtores têm no clichê. A tal ponto que só duas bandas, Moptop e Forfun, oferecem particularidades.
Sem o DVD, NX Zero, Fresno e Hateen se confundem: hardcore melódico, letras vagas, quase iguais, sobre angústia e dúvida. Compare, leitor:
"Se eu te disser que foi difícil te esquecer/ Seria o mesmo que dizer "não sou capaz'/ De me curar das surras que o mundo me dá." (Fresno, "Polo")
"Só eu sei/ O quanto é difícil aceitar/ Eu já tentei/ Mas não consigo acreditar/ Que tudo um dia tem um fim." (Hateen, "Minha Melhor Invenção")
"Ainda estou sentindo/ Tudo que você falou/ Da maneira mais difícil de entender." (NX Zero, "Mais e Mais")
Veja que, nas três letras, é "difícil" esquecer, aceitar, entender. Só que na minha vida e na sua, leitor(a), também é. Os sentimentos a que temos direito são os mesmos, só mudam as situações, as pessoas, as reações e, é claro, as impressões.
Sem esses detalhes, resta o lugar-comum. É como ler um diário: a sinceridade pode comover, mas não significa talento. Além do risco de dar vergonha, se lido anos depois. Enfim: no gênero, um Fresno bastaria.
O ForFun é mais cria dos Raimundos. Desbocados, menos sensíveis ("Juventude perdida é o c***/ Tenho muito a dizer", em "Good Trip"), que curtem filosofia surfe barata ("Nada brilha mais que a vibe da tua alma", em "Hidropônica").
No som, o ForFun se arrisca mais: alia reggae e rap metal ao seu hardcore. Mas fala de sintonia astral quando quer zoação. Tentar ser profundo em vez de ser "for fun"? Ah, divirtam-se.
Ao se politizar, a banda embrulha e vai: "Neoliberalismo, monocultura, padronização/ O aquecimento global já não é ficção/ Movidos pelo lucro, a vaidade e o poder/ Homens mortos pelo ego antes de nascer" ("Gruvi Quântico"). O empresário deles é Liminha, que produziu "Cabeça Dinossauro", dos Titãs. Que tem "Homem Primata" e "Bichos Escrotos".
No fim, é um bálsamo o Moptop, que busca outros sons e temas, como o eterno sonho de ter o melhor da vida adulta sem precisar crescer. E faz melodias menos previsíveis, interpretando emoções sem precisar citá-las. Mas as letras podem ser melhores e mais pessoais.
Criticada e elogiada por soar como os Strokes, ao menos não lembra nenhuma banda do CD e decreta o fim com "O Rock Acabou". A julgar por esse painel nacional, ironia profética.


MTV AO VIVO 5
BANDAS DE ROCK
Fresno, Hateen, Forfun, NX Zero e Moptop não tem site


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