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música
Saco de gatos
CD "MTV ao Vivo" mostra atual painel do rock nacional regado a clichês emo
MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O sucesso é real, e o
público canta mesmo. No show "MTV
ao Vivo - 5 Bandas
de Rock", não faltou paixão no Via Funchal, SP.
E não adianta: o rock se criou
com a juventude dando bananas para a opinião de coroas.
Logo, é preciso ouvir o que se
ruge no CD para sacar o painel.
Após acordes simples, rapidez e refrães empolgantes, intrigam a falta de personalidade
e, pior, a satisfação que público,
grupos e produtores têm no clichê. A tal ponto que só duas
bandas, Moptop e Forfun, oferecem particularidades.
Sem o DVD, NX Zero, Fresno
e Hateen se confundem: hardcore melódico, letras vagas,
quase iguais, sobre angústia e
dúvida. Compare, leitor:
"Se eu te disser que foi difícil
te esquecer/ Seria o mesmo que
dizer "não sou capaz'/ De me
curar das surras que o mundo
me dá." (Fresno, "Polo")
"Só eu sei/ O quanto é difícil
aceitar/ Eu já tentei/ Mas não
consigo acreditar/ Que tudo
um dia tem um fim." (Hateen,
"Minha Melhor Invenção")
"Ainda estou sentindo/ Tudo
que você falou/ Da maneira
mais difícil de entender." (NX
Zero, "Mais e Mais")
Veja que, nas três letras, é
"difícil" esquecer, aceitar, entender. Só que na minha vida e
na sua, leitor(a), também é. Os
sentimentos a que temos direito são os mesmos, só mudam as
situações, as pessoas, as reações e, é claro, as impressões.
Sem esses detalhes, resta o
lugar-comum. É como ler um
diário: a sinceridade pode comover, mas não significa talento. Além do risco de dar vergonha, se lido anos depois. Enfim:
no gênero, um Fresno bastaria.
O ForFun é mais cria dos
Raimundos. Desbocados, menos sensíveis ("Juventude perdida é o c***/ Tenho muito a dizer", em "Good Trip"), que curtem filosofia surfe barata ("Nada brilha mais que a vibe da tua
alma", em "Hidropônica").
No som, o ForFun se arrisca
mais: alia reggae e rap metal ao
seu hardcore. Mas fala de sintonia astral quando quer zoação.
Tentar ser profundo em vez de
ser "for fun"? Ah, divirtam-se.
Ao se politizar, a banda embrulha e vai: "Neoliberalismo,
monocultura, padronização/ O
aquecimento global já não é ficção/ Movidos pelo lucro, a vaidade e o poder/ Homens mortos pelo ego antes de nascer"
("Gruvi Quântico"). O empresário deles é Liminha, que produziu "Cabeça Dinossauro",
dos Titãs. Que tem "Homem
Primata" e "Bichos Escrotos".
No fim, é um bálsamo o Moptop, que busca outros sons e temas, como o eterno sonho de
ter o melhor da vida adulta sem
precisar crescer. E faz melodias
menos previsíveis, interpretando emoções sem precisar citá-las. Mas as letras podem ser
melhores e mais pessoais.
Criticada e elogiada por soar
como os Strokes, ao menos não
lembra nenhuma banda do CD
e decreta o fim com "O Rock
Acabou". A julgar por esse painel nacional, ironia profética.
MTV AO VIVO 5
BANDAS DE ROCK
Fresno, Hateen,
Forfun, NX Zero e
Moptop
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