São Paulo, segunda-feira, 28 de junho de 2004

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POLÍTICA

Conferência Nacional de Juventude é marcada por desorganização, brigas e discussões políticas em encontros paralelos; daqui a 15 dias, comissão especial deve apresentar projeto de lei ou emenda constitucional para deputados votarem

Bagunça na construção

DA REPORTAGEM LOCAL

Politicagem e discussões políticas, desorganização e rodas de violão, filas para comer, brigas e planos para o futuro. Tudo isso marcou a Conferência Nacional de Juventude, que terminou no dia 18, em Brasília. O objetivo do encontro, promovido pela Comissão de Políticas Públicas para a Juventude da Câmara dos Deputados, era discutir a elaboração de leis para definir os direitos dos jovens no país.
"A organização estava péssima. Havia filas de três horas para comer, que acabavam atrasando as discussões. Além disso, a conferência foi realizada em um clube, que funcionou normalmente durante o evento, com senhores ricos indo tomar seu banho de sol e fazer ginástica", diz Livia de Tommasi, 42, coordenadora do projeto Redes e Juventudes. "Houve muita politicagem. O que se ouvia era quem vai ocupar a Secretaria de Juventude, que o governo deve criar, quem vai ocupar o conselho, muitos e muitos nomes rolando", afirma.
Na sexta-feira, último dia da conferência, uma briga entre integrantes do movimento hip hop e da juventude partidária fez muitas cadeiras voarem.
"Acho que as brigas são sintomáticas de como é gigantesca a diversidade da juventude. Muitos disputam espaços como se estivessem numa guerra declarada", acha Áurea Carolina de Freitas e Silva, 20, do movimento hip hop de Belo Horizonte. "Mas não penso que essas brigas tenham colocado por terra tudo o que foi construído na conferência, talvez precariamente."
O presidente da comissão especial, deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), acredita que as críticas fazem parte do processo. "É com uma juventude participativa e crítica que vamos ter um país melhor."
Os milhares de jovens que estiveram em Brasília aproveitaram as pequenas oportunidades de diálogo. "A conferência não foi somente aquela planejada pelo Poder Legislativo, mas foram muitas outras que ocorriam nas reuniões paralelas, na fila do almoço, nos alojamentos", diz Gustavo Barhuch Bíscaro de Carvalho, 23, do projeto Observatório da Juventude.
O resultado mais imediato desses encontros é o movimento Pró-Fórum Nacional de Movimentos e Organizações Juvenis, que está começando a organizar um espaço autônomo para troca de idéias e articulação das organizações de jovens do país, com o objetivo de discutir, propor e acompanhar políticas públicas para a juventude.
"Acho que a conferência fez avançar a mobilização, especialmente através das articulações pró-fórum de organizações juvenis", afirma Áurea.
Agora, daqui a cerca de 15 dias, a comissão especial deve apresentar um projeto de lei ou emenda constitucional sobre os direitos da juventude para os deputados votarem. Haverá um prazo de 90 dias para que todos os movimentos e organizações juvenis opinem sobre o documento, que pode criar o Estatuto da Juventude. A comissão também vai enviar para o Executivo todas as sugestões que recolheu desde o ano passado de todos os Estados.
Da conferência, o único consenso que parece ter ficado é a sensação de que, no campo das políticas públicas para a juventude, ainda há muito a avançar.
(ALESSANDRA KORMANN)


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