MARCUS VINICIUS MARINHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Domingo de futebol. Milhares de pessoas lotam o estádio para ver o time do coração jogar e, no meio da empolgação, a arquibancada treme. Parece normal? Bem, na verdade, não é. Nada deveria balançar. Isso só acontece, segundo um estudo da Universidade de São Paulo, porque a maioria dos estádios brasileiros não foi projetada para comportar milhares de torcedores pulando, todos ao mesmo tempo.
As torcidas organizadas, que apareceram no fim da década de 60, revolucionaram o comportamento das pessoas no estádio: os torcedores passaram a entoar cantos combinados e a pular, todos ao mesmo tempo, exercendo uma grande pressão sincronizada sobre a estrutura das arquibancadas.
Como muitos dos estádios brasileiros foram criados antes das organizadas (só para citar alguns exemplos, o Maracanã é de 1950, o Morumbi, de 1960, e o Mineirão, de 1965), o que se viu foi que eles começaram a tremer cada vez mais nos momentos de empolgação da torcida. Afinal, eles não tinham sido projetados para encarar essa realidade.
"As pessoas agora pulam, todas juntas, o que danifica a estrutura dos estádios que não estão preparados", disse à Folha o engenheiro José Fernando Sousa Rodrigues, 30, autor do estudo, sua tese de doutorado na Escola Politécnica da USP.
Rodrigues verificou as vibrações de arquibancada ocorridas em cem jogos, em quatro estádios diferentes: o Morumbi e o Ibirapuera (SP), o Maracanã (RJ) e o Castelão (CE). A conclusão foi que eles estavam, na época, adequados para suportar milhares de pessoas. Mas não milhares de torcedores que pulassem ao mesmo tempo.
Segundo Rodrigues, a queda da maioria dos estádios, a curto prazo, é bastante improvável. De qualquer forma, com o Estatuto do Torcedor em vigor (a lei que garante os direitos dos torcedores, promulgada em maio de 2003), o conforto dos frequentadores também tem de ser levado em conta. "A verificação desse novo efeito tem de ser feita, até porque o torcedor que vai assistir ao jogo se sente incomodado com aquela vibração", afirma Rodrigues. "Os estádios têm de ser readequados."
Os quatro estádios passaram por reformas no fim da década de 90 e foram adaptados à realidade das organizadas. Mas, segundo Rodrigues, centenas de outros no Brasil continuam tendo sua estrutura danificada e não oferecem o conforto que o torcedor merece. Se você for a um jogo de futebol e a arquibancada tremer, já sabe: é hora de exigir dos governantes e dos dirigentes mais conforto e segurança. Afinal, agora o seu direito é lei.


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