São Paulo, segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

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02 Neurônio

@ - Jô Hallack, Nina Lemos, Raq Affonso

Meu Brasil brasileiro

NA SEMANA passada, fomos surpreendidas pela reportagem de capa deste caderno que dizia que os jovens não gostavam do Brasil. Que achavam nossa cultura péssima. Que eram contra o feijão e o cinema. Que, quando ouviam um som nacional, colocavam walkman. E onde é que está o juízo?!
Não somos ufanistas e não temos nada contra a cultura alheia. Ouvimos música em iPod, adoramos hambúrguer e os Beastie Boys. Mas ficamos tristes quando lemos isso. Essa juventude está precisando evocar o seu Hugo Chávez interior. Ou, no mínimo, ler mais um pouco antes de sair por aí falando asneiras.
A Austrália é melhor porque a cultura deles é mais bacana? Parece que os australianos também acham. Um arquivo "Folha de São Paulo" rápido. "Em dezembro de 2005, 5.000 jovens -vários enrolados em bandeiras australianas e cantando músicas de cunho racista contra árabes- invadiram uma praia e atacaram um grupo em Sydney."
Em janeiro de 2006, um brasileiro foi espancado por uma matilha de xenófobos. E parece que agora tem brasileiro praticando a autoxenofobia! Filhos da esquerda festiva que somos, nunca fomos à Disney. Nosso programa turístico familiar era conhecer a feira de Caruaru e o mercado do Ver o Peso. Em vez de um Mickey, ganhávamos um bonequinho do Mestre Vitalino. Em vez de bicho-papão, tínhamos medo do colonialismo cultural, uma espécie de monstro que vivia sob nossas camas.
Na época, achávamos nossos pais meio loucos. Pois queríamos uma Barbie, que, nos anos 70, tinha que ser importada. E a única boneca que ganhávamos era uma paraguaia de nome "Joaninha". Com o tempo, vimos que eles estavam certos. Mas no mundo de hoje em dia, ser de esquerda virou vintage (não temos problemas em usar palavras gringas). Por isso, são raros os pais que, quando vêem que os filhos estão cultuando os primeiro-mundistas, não colocam a criança "de castigo" ouvindo Chico Buarque e comendo banana!
Podemos citar 1.001 coisas brasileiras que a gente ama. De Cidadão Instigado a "Cinema, Aspirinas e Urubus". De feijoada a Eduardo Coutinho. Do Wander Wildner ao baile funk. Do samba ao futebol. Da tapioca à ginga. E um "viva" para a mandioca!

Momento de histeria

Ser macaquito é que é vintage


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