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Sexo & saúde
Jairo Bouer
Uma questão bi
"Tenho uma filha de 14, inteligente e madura e que, talvez
até por isso, sente dificuldade em se relacionar com os
meninos de sua idade. Agora ela tem dito que é bissexual e
que tem namorada. As opções são de cada um e não ficaria
extremamente infeliz caso ela fosse mesmo bi. Mas acho que
é uma fase passageira e gostaria que ela se permitisse mais
tempo antes de assumir essa posição (porque ela não tem o
menor constrangimento em falar sobre isso com a família
toda). Parece que esse tipo de comportamento é comum
entre os "emos", grupo a que ela diz pertencer."
Embora a maior parte dos jovens tenha
uma orientação heterossexual predominante desde cedo, uma parcela
dessa população ainda não se definiu sexualmente aos 14. Alguns porque percebem uma
orientação homossexual, mas ainda têm dificuldade em lidar com esse desejo distinto,
e outros porque estão confusos com as diversas possibilidades.
Com a flexibilização dos hábitos sexuais nas últimas décadas, muitas pessoas que tinham dúvida,
sentiam desejo ou estavam curiosas se permitiram
experimentar o mesmo sexo. Alguns especialistas
enxergam hoje até um certo "modismo" nessa tendência das múltiplas experiências. E esse fenômeno
apareceu de forma ainda mais comum entre as garotas, que, em geral, lidam com sua sexualidade de uma
maneira mais tranqüila do que os garotos.
Os emocores, ou emos, fazem parte de um grupo
com alguns códigos de identificação próprios, como
o visual meio punk, meio gótico, uma referência musical distinta e com uma certa androginia. Nesse contexto, muitos deles se dizem bissexuais.
Sua filha se diz bissexual e não esconde
essa situação de ninguém. É como se ela
não tivesse dúvidas e fizesse questão
de mostrá-la. Talvez, para uma adolescente inteligente e madura, assumir que tem dúvidas é mais difícil
do que afirmar uma "suposta" certeza.
É claro que isso pode ser apenas
uma fase. Mas também pode ser
que, no futuro, ela venha a ter um
comportamento homo ou bissexual. Difícil saber! Talvez o mais
importante neste momento seja
estar ao lado dela, mostrar que na
vida nem sempre a gente consegue certeza em relação a temas
complexos como afeto e sexualidade tão cedo e que isso geralmente exige trabalho e maturidade. Se ela quiser, uma terapia pode
ser importante neste momento.
jbouer@uol.com.br
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