São Paulo, segunda-feira, 29 de maio de 2006

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música

Tempos negros

Banda gótica carioca Maldita tira da escuridão o movimento musical que encheu a Inglaterra de tristeza na década de 80

DA REPORTAGEM LOCAL

Algumas coisas parecem impossíveis de coexistir. Neve no Saara, vida na Lua, góticos no Rio de Janeiro... Opa, esse último caso é possível, sim. Na ensolarada "cidade maravilhosa" há pelo menos um representante atual do obscuro movimento musical inglês dos anos 80. Ele atende pelo nome Erich, 23, e lidera a banda Maldita.
Sangue e cadáveres estão por todo o CD de estréia do grupo, que leva o pertinente título "Mortos ao Amanhecer". O disco foi concebido por Erich.
"Foi uma coisa que evoluiu de uma série de poesias e atos teatrais performáticos para um álbum", explica. "O disco conta a história de um garoto que matou sem querer a pessoa que era mais importante para ele. Então, a gente aborda esse remorso, esse ódio... Tem uma coisa psicopata e homicida."
O encarte segue o espírito mórbido. "É uma desovação. São os corpos dos membros da banda sendo largados no mato", explica Erich, que, apesar das dezenas de coincidências, não se considera gótico.
"Nosso estilo é clínico. É doente mental. Não é gótico, apesar de ter muita coisa gótica no meu comportamento, nos meus atos, na minha filosofia de vida. Há uma semelhança, essa coisa da solidão, de eu não gostar de sair muito de casa, de eu viver dentro da cripta."
Cripta? Isso não é supergótico? "O comportamento tem uma coisa gótica", assume o estudante de psicologia, que prefere se trancar em casa a sair para dar umas bandas pelo ensolarado Rio de Janeiro.
E a praia? "Não curto contato com pessoas, muito menos na praia, num lugar todo quente e pegajoso que não tem uma sombra para eu me esconder."
Musicalmente a banda soa como Marylin Manson com um toque de elementos do estilo industrial (adorado pelos góticos) e, é claro, da música gótica inglesa dos anos 80, como o som produzido por bandas que marcaram aquela década: Bauhaus, Siouxsie and the Banshees e The Cure, entre outras. "Escuto Depeche Mode, Joy Division, Alien Sex Fiend e Skinny Puppy, que é uma grande influência da Maldita."
"Meu quarto é todo decorado com velas vermelhas, tenho caveiras e coisas afins, mas não sou gótico. Acho que eu tenho distúrbios psicologicamente não resolvidos."
Filmes de terror clássicos, como o que inspirou o primeiro hino do gótico inglês, a música "Bela Lugosi's Dead" (homenagem ao grande Drácula do cinema), do Bauhaus , estão por toda a música da Maldita.
"A gente usa trechos de filmes no disco. Pegamos umas coisas que o Damien fala em "A Profecia" e gritos de mulheres que estão em "O Massacre da Serra Elétrica" e em "Uma Noite Alucinante"."
E o sangue não está apenas nos filmes que inspiram as músicas cheias de sofrimento da banda. Erich se banha em sangue quando está no palco. "No início, usávamos sangue de boi, mas fiquei com vários problemas de pele. Hoje, eu uso sangue cinematográfico", explica.
(LEANDRO FORTINO)

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