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música
Tempos negros
Banda gótica carioca Maldita tira da escuridão o movimento musical que encheu a Inglaterra de tristeza na década de 80
DA REPORTAGEM LOCAL
Algumas coisas parecem impossíveis de
coexistir. Neve no
Saara, vida na Lua,
góticos no Rio de Janeiro... Opa, esse último caso é
possível, sim. Na ensolarada
"cidade maravilhosa" há pelo
menos um representante atual
do obscuro movimento musical
inglês dos anos 80. Ele atende
pelo nome Erich, 23, e lidera a
banda Maldita.
Sangue e cadáveres estão por
todo o CD de estréia do grupo,
que leva o pertinente título
"Mortos ao Amanhecer". O disco foi concebido por Erich.
"Foi uma coisa que evoluiu
de uma série de poesias e atos
teatrais performáticos para um
álbum", explica. "O disco conta
a história de um garoto que matou sem querer a pessoa que era
mais importante para ele. Então, a gente aborda esse remorso, esse ódio... Tem uma coisa
psicopata e homicida."
O encarte segue o espírito
mórbido. "É uma desovação.
São os corpos dos membros da
banda sendo largados no mato", explica Erich, que, apesar
das dezenas de coincidências,
não se considera gótico.
"Nosso estilo é clínico. É
doente mental. Não é gótico,
apesar de ter muita coisa gótica
no meu comportamento, nos
meus atos, na minha filosofia
de vida. Há uma semelhança,
essa coisa da solidão, de eu não
gostar de sair muito de casa, de
eu viver dentro da cripta."
Cripta? Isso não é supergótico? "O comportamento tem
uma coisa gótica", assume o estudante de psicologia, que prefere se trancar em casa a sair
para dar umas bandas pelo ensolarado Rio de Janeiro.
E a praia? "Não curto contato
com pessoas, muito menos na
praia, num lugar todo quente e
pegajoso que não tem uma
sombra para eu me esconder."
Musicalmente a banda soa
como Marylin Manson com um
toque de elementos do estilo
industrial (adorado pelos góticos) e, é claro, da música gótica
inglesa dos anos 80, como o
som produzido por bandas que
marcaram aquela década: Bauhaus, Siouxsie and the Banshees e The Cure, entre outras.
"Escuto Depeche Mode, Joy
Division, Alien Sex Fiend e
Skinny Puppy, que é uma grande influência da Maldita."
"Meu quarto é todo decorado
com velas vermelhas, tenho caveiras e coisas afins, mas não
sou gótico. Acho que eu tenho
distúrbios psicologicamente
não resolvidos."
Filmes de terror clássicos,
como o que inspirou o primeiro
hino do gótico inglês, a música
"Bela Lugosi's Dead" (homenagem ao grande Drácula do cinema), do Bauhaus , estão por toda a música da Maldita.
"A gente usa trechos de filmes no disco. Pegamos umas
coisas que o Damien fala em "A
Profecia" e gritos de mulheres
que estão em "O Massacre da
Serra Elétrica" e em "Uma Noite
Alucinante"."
E o sangue não está apenas
nos filmes que inspiram as músicas cheias de sofrimento da
banda. Erich se banha em sangue quando está no palco. "No
início, usávamos sangue de boi,
mas fiquei com vários problemas de pele. Hoje, eu uso sangue cinematográfico", explica.
(LEANDRO FORTINO)
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