Nunca diga que está velho para isso

"Não sei se você vai levar isso como um elogio, mas você não parece o tipo de pessoa que vem a esse show", disse Nick, na apresentação do Morrissey, no London Palladium, na semana passada em Londres. Sim, uma de nós esteve lá! E, por mais estranho que pareça, sim, era um elogio de Nick. Porque os fãs de Morrissey presentes ao show eram muito estranhos. Havia muitas pessoas de cabelo branco. Com todos os cabelos brancos. Tinha a galera da bengala. E muitas mulheres muito gordas e com muita maquiagem.
Mas tudo bem. Afinal, conseguir entrar num dos primeiros show da turnê do disco novo do Morrissey, "Ringleader of the Tormentors", é incrível. Principalmente porque o show estava "sold out". E ainda mais se você não caiu no papo do cambista e conseguiu um ingresso pelo preço normal.
Quando ele entra no palco, as pessoas vão ao delírio. A banda toca uniformizada, com os homens de blazer preto, sem camisa por baixo, com uma medalha no peito nu. Só Morrissey estava com uma blusa de botão rosa clarinho, sem medalha nenhuma.
Já na segunda música, ele toca "How Soon Is Now?". Se você tem menos de 20 e nunca ouviu The Smiths, pense que essa música é uma similar de "Smells Like Teen Spirit", do Nirvana. Ou seja: a galera da bengala foi ao delírio.
"Vocês ainda gostam desses covers? Essas músicas deviam ser proibidas de tocar na rádio!", diz, depois de tocar outra dos Smiths.
Para as pessoas ali, sim, as novas canções de Morrissey eram boas. Ótimas. Só que, quando ele toca Smiths, mesmo sem o Johnny Marr, mesmo com o guitarrista de blazer preto sem camisa por baixo, você volta 20 anos atrás. E as coisas eram tão fáceis há 20 anos...
Última música do show. Morrissey tira a camisa. Joga para a platéia. As bengalas voam. Ele não volta para o bis. Tá cedo. Ainda dá tempo de tomar uma cerveja. Será que as coisas eram mesmo mais fáceis há 20 anos?
02neuronio@uol.com.br


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