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Internets
Ronaldo Lemos - ronaldolemos09@gmail.com
Tiro pela culatra
A garota chega em casa depois do colégio e resolve
baixar algumas músicas para ouvir enquanto faz
a tarefa. De repente, começa a receber cartas do
provedor, que está espionando o que ela faz na rede. Na
terceira carta, a conexão é cortada, a família é banida da
internet e proibida de contratar outro provedor. E ainda
tem que continuar pagando o provedor "dedo-duro" por
um ano, mesmo sem ter acesso ao serviço.
Parece uma cena de ficção científica em que as pessoas são vigiadas e punidas sem julgamento ou processo. Mas é o que a França tentou tornar realidade, ao
aprovar a Lei Hadopi, que fazia exatamente isso.
Só que, dias depois de aprovada, ela foi julgada inconstitucional e invalidada pelo Conselho Constitucional. O
conselho considerou que a lei não servia para proteger
os direitos autorais, mas sim para eliminar garantias
fundamentais. De acordo com a decisão, a lei violava o
direito à privacidade, o princípio de que todos são inocentes até serem julgados culpados e o direito de ser julgado por um juiz antes de receber qualquer punição.
E o mais importante: o conselho entendeu que o acesso à internet é um direito universal que deve ser assegurado da mesma forma que o direito à educação. Queimação de filme para a França e para o presidente Sarkozy,
que se empenhou pessoalmente em aprovar a lei.
Só que agora, o que não deu certo na França corre o
risco de acontecer no Brasil. O deputado paulistano Bispo Gê Tenuta (DEM) acaba de propor uma lei que copia
a francesa. Por ela, os provedores tornam-se "polícia" e
ficam obrigados a cortar a conexão de quem compartilhar arquivos. E não para por aí. As associações que representam o cinema americano (MPA) e as gravadoras
multinacionais (ABPD) estão negociando com provedores no Brasil para fazer algo parecido.
É uma pena. Em vez de gastar energia construindo um
modelo econômico que possa competir com a pirataria,
gasta-se tempo e dinheiro enormes para criar medidas
que depois serão julgadas inconstitucionais, tal como na
França. Não é por menos que um movimento político
está surgindo em várias partes do mundo contra isso. O
Partido Pirata da Suécia acaba de conseguir dois deputados no Parlamento Europeu. E isso é só o começo.
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