|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Cinema
A favela por ela mesma
Mostra com filmes de moradores de periferia estreia amanhã no Rio
DA REPORTAGEM LOCAL
Colocar a favela na telona
não é nenhuma novidade
e costuma fazer sucesso.
Desde o cinema novo ela é retratada em filmes e, nos últimos tempos, virou algo pop.
"Cidade de Deus" (2002) e o
vencedor do Oscar 2009,
"Quem Quer Ser um Milionário?", que o digam.
Mas nada disso se compara
aos filmes feitos pela própria
favela. E são essas as histórias
que serão exibidas no CineCufa, festival que estreia amanhã
no Centro Cultural do Banco
do Brasil, no Rio de Janeiro.
"O primeiro critério para um
filme entrar no festival é que
seja feito por gente da favela. O
segundo é a qualidade", diz Anderson Quak, curador da mostra e ele mesmo um morador da
Cidade de Deus desde que nasceu, há 30 anos.
Entre as 161 obras selecionadas, também há filmes de autores que não são de favelas propriamente ditas, mas de outras
"periferias sociais", como os subúrbios de Paris e lugares pobres da Itália, do México, dos
EUA e de diversos países da
América Latina.
Essa produção só é possível
graças à popularização das tecnologias digitais -que tornaram o registro muito mais barato- e ao apoio de projetos sociais como a Cufa (Central Única das Favelas, que organiza o
festival) e o Tela Brasil.
Além de oferecerem cursos
de cinema, elas deixam à disposição dos alunos a infraestrutura necessária para realizar e finalizar os filmes, como câmeras e ilhas de edição.
Bender Arruda, 23, morador
da favela da Prainha, em Duque
de Caxias (RJ), é um exemplo
de ex-aluno que chegou ao festival. Na edição do ano passado,
ele inscreveu um filme feito
com um celular emprestado e
ganhou um prêmio do júri popular da mostra.
"Amarrei o celular na bike e
saí pedalando pela comunidade
onde moro. Nesse plano-sequência, mostro uma série de
coisas que faltam na comunidade por falta de políticas públicas. Não queria fazer um filme
perfeito, o importante era o cunho político."
Até hoje, o jovem cineasta
não tem um celular com câmera, mas agora é aluno de cinema
na PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica) com bolsa integral, e neste ano participa do
CineCufa como palestrante.
"O tema mais recorrente no
festival é a crítica social, porque, para os realizadores, é uma
oportunidade para resolver um
problema com o filme", diz
Quak, acrescentando que essa
tendência também aparece na
produção internacional.
"O diferencial desses filmes é
o comprometimento com a favela. O que "Cidade de Deus" fez
pela favela? Nada. Foi só abrir a
ferida e deixar sangrar", diz.
Mas não espere filmes meramente panfletários, e sim histórias contadas por quem sabe
do que está falando. "Quem
mora na favela fala sobre ela de
um jeito muito mais autêntico
e espontâneo."
(TARSO ARAUJO)
Texto Anterior: Cultura Pop: Sangue do meu sangue Próximo Texto: Sexo & Saúde - Jairo Bouer: Esqueci a pílula! E agora? Índice
|