São Paulo, segunda-feira, 29 de junho de 2009

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Cinema

A favela por ela mesma

Mostra com filmes de moradores de periferia estreia amanhã no Rio

DA REPORTAGEM LOCAL

Colocar a favela na telona não é nenhuma novidade e costuma fazer sucesso.
Desde o cinema novo ela é retratada em filmes e, nos últimos tempos, virou algo pop. "Cidade de Deus" (2002) e o vencedor do Oscar 2009, "Quem Quer Ser um Milionário?", que o digam.
Mas nada disso se compara aos filmes feitos pela própria favela. E são essas as histórias que serão exibidas no CineCufa, festival que estreia amanhã no Centro Cultural do Banco do Brasil, no Rio de Janeiro.
"O primeiro critério para um filme entrar no festival é que seja feito por gente da favela. O segundo é a qualidade", diz Anderson Quak, curador da mostra e ele mesmo um morador da Cidade de Deus desde que nasceu, há 30 anos.
Entre as 161 obras selecionadas, também há filmes de autores que não são de favelas propriamente ditas, mas de outras "periferias sociais", como os subúrbios de Paris e lugares pobres da Itália, do México, dos EUA e de diversos países da América Latina.
Essa produção só é possível graças à popularização das tecnologias digitais -que tornaram o registro muito mais barato- e ao apoio de projetos sociais como a Cufa (Central Única das Favelas, que organiza o festival) e o Tela Brasil.
Além de oferecerem cursos de cinema, elas deixam à disposição dos alunos a infraestrutura necessária para realizar e finalizar os filmes, como câmeras e ilhas de edição.
Bender Arruda, 23, morador da favela da Prainha, em Duque de Caxias (RJ), é um exemplo de ex-aluno que chegou ao festival. Na edição do ano passado, ele inscreveu um filme feito com um celular emprestado e ganhou um prêmio do júri popular da mostra.
"Amarrei o celular na bike e saí pedalando pela comunidade onde moro. Nesse plano-sequência, mostro uma série de coisas que faltam na comunidade por falta de políticas públicas. Não queria fazer um filme perfeito, o importante era o cunho político."
Até hoje, o jovem cineasta não tem um celular com câmera, mas agora é aluno de cinema na PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica) com bolsa integral, e neste ano participa do CineCufa como palestrante.
"O tema mais recorrente no festival é a crítica social, porque, para os realizadores, é uma oportunidade para resolver um problema com o filme", diz Quak, acrescentando que essa tendência também aparece na produção internacional.
"O diferencial desses filmes é o comprometimento com a favela. O que "Cidade de Deus" fez pela favela? Nada. Foi só abrir a ferida e deixar sangrar", diz.
Mas não espere filmes meramente panfletários, e sim histórias contadas por quem sabe do que está falando. "Quem mora na favela fala sobre ela de um jeito muito mais autêntico e espontâneo." (TARSO ARAUJO)


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