São Paulo, segunda-feira, 29 de agosto de 2005

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Contra as regras

DA REPORTAGEM LOCAL

Em 1979, quando lançou "The Wall", o disco, Roger Waters, líder do Pink Floyd, imaginou uma história completa, com começo, meio e fim, sobre a vida de um astro do rock, chamado Pink Floyd (santa originalidade, Batman!), traumatizado pela morte do pai na Segunda Guerra Mundial e sufocado pela educação superprotetora da mãe e ultra-autoritária dos professores da escola.
Incompreendido, Pink começa a construir, tijolo por tijolo, no interior de sua cabeça, um muro que o isola do mundo real. Cresce, enlouquece, troca a Inglaterra pelos EUA e resolve usar a sua influência entre os jovens para dominar o mundo, uma alusão óbvia ao ditador Adolf Hitler.
A história estava tão clara na cabeça de Waters que ele resolveu escrever um roteiro para traduzir em imagens a vida e os delírios de Pink. Toda a idéia foi concebida durante a turnê do álbum anterior do grupo, "Animals", em que Waters se desiludiu com a fama. Resolveu então unir fatos da sua infância sem pai (que ele realmente perdeu na guerra) com o estado de loucura e o consumo de drogas de Syd Barrett, que fazia parte do início do Pink Floyd.
Três anos depois do disco, estreava nos cinemas "The Wall - O Filme", dirigido por Alan Parker (de "Os Commitments") e estrelado pelo cantor Bob Geldof, vocalista do grupo Boomtown Rats que nunca havia trabalhado como ator. Geldof se tornaria o idealizador do projeto Band Aid, em 1984, e, no ano seguinte, no festival Live Aid, que ganhou versão século 21 neste ano, o Live8.
Em "The Wall", cada problema enfrentado por Pink é um tijolo que vai, aos poucos, levantando o muro imaginário: a infância sem pai, a mãe dominadora, a ilusão da fama, um casamento fracassado...
Mas a história no filme é bem mais confusa do que a sua explicação por escrito e acaba ofuscada pela ótima mistura de cenas de animação com atores filmados. Todo o delírio de Pink é mostrado pelo desenho psicodélico e surrealista de Gerald Scarfe, que criou cenas clássicas como os martelos marchando -símbolo de Pink, o ditador-, o sexo entre duas flores e o rosto que salta do muro e ilustra esta página.
Desse jeito, "The Wall" expandiu os limites de divulgação de um álbum e empurrou o conceito de videoclipe anos-luz para a frente. E, é claro, traz em imagem as faixas clássicas "Another Brick in the Wall", "Mother" e "Comfortably Numb" (que ganhou versão dance do Scissor Sisters).
É uma pena que a versão que chega ao Brasil não tenha legendas em português. Mas há legendas em inglês, o que, vendo pelo lado positivo apenas, pode ajudar você a treinar a língua. (LF)

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