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Contra as regras
DA REPORTAGEM LOCAL
Em 1979, quando lançou "The Wall",
o disco, Roger Waters, líder do Pink
Floyd, imaginou uma história completa, com começo, meio e fim, sobre a vida
de um astro do rock, chamado Pink Floyd
(santa originalidade, Batman!), traumatizado pela morte do pai na Segunda Guerra
Mundial e sufocado pela educação superprotetora da mãe e ultra-autoritária dos
professores da escola.
Incompreendido, Pink começa a construir, tijolo por tijolo, no interior de sua cabeça, um muro que o isola do mundo real.
Cresce, enlouquece, troca a Inglaterra pelos
EUA e resolve usar a sua influência entre os
jovens para dominar o mundo, uma alusão
óbvia ao ditador Adolf Hitler.
A história estava tão clara na cabeça de
Waters que ele resolveu escrever um roteiro para traduzir em imagens a vida e os delírios de Pink. Toda a idéia foi concebida
durante a turnê do álbum anterior do grupo, "Animals", em que Waters se desiludiu
com a fama. Resolveu então unir fatos da
sua infância sem pai (que ele realmente
perdeu na guerra) com o estado de loucura
e o consumo de drogas de Syd Barrett, que
fazia parte do início do Pink Floyd.
Três anos depois do disco, estreava nos
cinemas "The Wall - O Filme", dirigido por
Alan Parker (de "Os Commitments") e estrelado pelo cantor Bob Geldof, vocalista
do grupo Boomtown Rats que nunca havia
trabalhado como ator. Geldof se tornaria o
idealizador do projeto Band Aid, em 1984,
e, no ano seguinte, no festival Live Aid, que
ganhou versão século 21 neste ano, o Live8.
Em "The Wall", cada problema enfrentado por Pink é um tijolo que vai, aos poucos,
levantando o muro imaginário: a infância
sem pai, a mãe dominadora, a ilusão da fama, um casamento fracassado...
Mas a história no filme é bem mais confusa do que a sua explicação por escrito e acaba ofuscada pela ótima mistura de cenas de
animação com atores filmados. Todo o delírio de Pink é mostrado pelo desenho psicodélico e surrealista de Gerald Scarfe, que
criou cenas clássicas como os martelos
marchando -símbolo de Pink, o ditador-, o sexo entre duas flores e o rosto que
salta do muro e ilustra esta página.
Desse jeito, "The Wall" expandiu os limites de divulgação de um álbum e empurrou
o conceito de videoclipe anos-luz para a
frente. E, é claro, traz em imagem as faixas
clássicas "Another Brick in the Wall", "Mother" e "Comfortably Numb" (que ganhou
versão dance do Scissor Sisters).
É uma pena que a versão que chega ao
Brasil não tenha legendas em português.
Mas há legendas em inglês, o que, vendo
pelo lado positivo apenas, pode ajudar você
a treinar a língua. (LF)
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