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comportamento
Órfãos do tropicalismo
Fãs do movimento que mudou os
rumos da cultura brasileira em 1967
falam sobre a influência em suas vidas
Leo Caobelli/Folha Imagem
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Fãs teens do tropicalismo revivem a capa do clássico que reuniu Caetano, Gil, Tom Zé e os Mutantes, entre outros |
LETICIA DE CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL
Final dos anos 60, auge da ditadura militar no Brasil. Na música, os discursos políticos e a valorização
da cultura nacional dominavam o cenário. Em meio a isso,
um grupo que reunia músicos
baianos novatos, roqueiros
paulistas adolescentes, um
maestro erudito e uma musa da
bossa nova decidiram misturar
rock, guitarras psicodélicas, ritmos regionais e pérolas do cancioneiro brega nacional.
Criavam assim um dos mais
influentes movimentos artísticos brasileiros, a tropicália (leia
mais nas páginas 8 e 9).
Quarenta depois de sua ascensão e queda, ela ainda influencia e inspira adolescentes
-que nem eram nascidos na
época-, como o estudante André Lombardi, 17.
"Sempre gostei de rock de garagem e de punk e nunca consegui apreciar muito a música
nacional. Depois de conhecer a
tropicália, me abri para um
monte de coisas brasileiras",
diz o garoto, que toca na banda
de rock Arquiduques e passou a
compor músicas em português.
Mas a descoberta não foi tão
simples. Ele confessa que, na
primeira vez que ouviu o disco
"Tropicália ou Panis et Circenses", achou o som chato. "Tive
que ouvir umas três vezes para
começar a entender."
No extremo oposto, Paula
Montes, 18, que era defensora
ferrenha da MPB e tinha um
certo preconceito contra o pop
internacional, passou a se interessar também pelo rock estrangeiro quando conheceu
melhor a tropicália.
A mudança aconteceu depois
que ela leu um livro sobre o movimento. "Eles quebraram padrões e tabus quando misturaram a música brasileira com
elementos de fora", diz.
Amiga de Paula, Luiza Colonnese, 18, concorda: "Acho muito criativa essa mistura de ritmos. Foi um dos movimentos
artísticos mais inovadores."
Para o estudante Tomás Bastos, 17, -que está fazendo uma
monografia sobre o tropicalismo para a escola- o principal
mérito do movimento foi a
abertura para outras culturas.
"Hoje em dia, com a globalização e a internet, isso é meio
inevitável. Mas, naquela época,
aceitar influências externas foi
um rompimento", observa.
Críticas
Como conseqüência desse
rompimento, os tropicalistas
foram criticados por intelectuais, por artistas e pelo pessoal
adepto das canções de protesto.
"A galera mais de esquerda
começou a policiar, dizendo
que eles eram alienados. Mas
eles tinham uma consciência
política, só que não faziam parte de nenhuma doutrina. Colocavam a arte em primeiro plano. Para mim, essa é a parte
mais bonita", diz André Mourão, 17, que também estudou o
movimento na escola.
Para Pedro Cipis, 17, artistas
como Caetano, Gil e Tom Zé
souberam respeitar o legado
tropicalista ao longo de suas
carreiras. "Eles não têm preconceito com nenhum tipo de
música. Até hoje gravam canções consideradas bregas, se
apresentam com cantores populares", diz.
Jovens roqueiros
Tatá Aeroplano, 32, das bandas Cérebro Eletrônico e Jumbo Elektro, também reconhece
a influência do movimento na
música atual. "Ele marcou profundamente uma época e, ao
mesmo tempo, é contemporâneo. Sua essência parece que se
torna cada vez mais forte para
as novas gerações", diz.
Bonifrate, 26, da banda carioca Supercordas, destaca a
importância dos Mutantes.
"Fiquei chocado quando ouvi
pela primeira vez. Já me entusiasmavam timbres esquisitos
e estruturas imprevisíveis de
canções. Mas nunca havia imaginado algo assim".
Com GUILHERME BRYAN , colaboração para a
Folha .
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