São Paulo, segunda-feira, 30 de outubro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

... e mais livros

Ferréz, 30, autor de "Capão Pecado" (Objetiva, 2005), é um dos escritores da turma do hip hop

Meu primeiro contato com a literatura foi em uma banca de gibis, quando vi um livro de Edgar Rice Burroughs sobre as aventuras de Tarzan. Comprei na hora. Li também muito Monteiro Lobato, principalmente as 'Reinações de Narizinho', que comprei meio por acaso e adorei -o livro, além de muito divertido, foi o primeiro que me ensinou algo novo

Marcelino Freire, autor de "Contos Negreiros" (Record, 2005). Seus livros são lidos por adultos e jovens. "Mas seria muita pretensão achar que vou continuar fazendo parte da vida deles, porque eles ainda vão viver muito"

A minha família não tinha tradição de leitura. A primeira coisa que eu li foi o poema 'O Bicho', de Manuel Bandeira. Bandeira me doutrinou a ser doente. Tudo o que eu queria era ser tuberculoso. Comecei muito novo a inventar umas tosses. Depois, ele foi a porta de entrada para outros autores: Drummond, João Cabral de Melo Neto. O primeiro prosador foi Graciliano Ramos, aos 11 anos. Depois, veio o Cortázar, com temas que faziam parte de um universo muito diferente do que eu conhecia, em uma linguagem muito mágica, com um humor muito peculiar

Ruy Castro, 58, é autor de "Carmen - Uma Biografia". Traduziu e adaptou obras para o público jovem, como "Frankenstein", de Mary Shelley

Aos 12 ou 13 anos, eu já tinha centenas de livros -o que era natural, porque comecei a comprá-los quando comecei a ler, aos cinco anos. Dediquei-me nos últimos 15 anos a reconstituir minha biblioteca de infância e de adolescência. Isso significou procurar e encontrar, em sebos de todo o país, o Tarzan da Coleção Terramarear, o Arsène Lupin da editora Vecchi, o Shell Scott das Edições de Ouro e dezenas de outros romances - as coleções completas, com os livros descobertos um a um, e as mesmíssimas edições que tive na juventude. Estão todos numa estante que visito regularmente em minha casa e, só de manusear esses livros, volto no tempo quase 50 anos! Com isso, sinto-me também irmão dos meninos que, na mesma época que eu, foram donos daqueles livros. Para um filho único como eu, é a maior trip!

Antonio Prata, 29, autor de "O inferno atrás da pia" (Objetiva, 2004), entre outros livros. É filho de um outro Prata escritor, o Mário, e tem uma coluna mensal na revista "Capricho", na qual gosta de falar sobre sua adolescência -principalmente falar que a adolescência passa

Com 16, 18 anos, eu lia livros de adulto, que eu pegava dos meus pais. Acho que cada tipo de pessoa encontra uma coisa diferente na literatura. O jovem vive um mundo muito restrito -escola, família- e, na literatura, encontra uma expansão. Quando escrevo para o meu público jovem, deixo claro o lugar de onde estou falando. Não tento falar como eles, porque sei que é muito grande o risco de virar aqueles pais que falam para a turma de adolescentes: 'E aí, galerinha, tudo supimpa? Vamos fazer um programa chocante?'

Rogério de Campos, 44, jornalista e editor-chefe da editora Conrad, que aposta no gosto dos jovens pelos quadrinhos

Quatro livros me marcaram muito: 'Kaos', do Jorge Mautner, 'Os Demônios de Loudun', de Aldous Huxley, 'Vinte Mil Léguas Submarinas', de Júlio Verne, e 'Sugar Blues', de Willian Dufty. O primeiro eu descobri por acaso em uma biblioteca, e foi a minha porta de entrada para a literatura beatnik, que eu não conhecia até esse momento. O segundo me mostrou o quanto determinadas crenças, como a bruxaria, fazem lógica em seu contexto histórico. O terceiro me revelou como a tecnologia pode ser fascinante. E o quarto fala sobre todos os males causados pelo açúcar. Depois de lê-lo, nunca mais consumi açúcar na minha vida!

Texto Anterior: Livros, livros, livros...
Próximo Texto: + obras que mexeram com a juventude
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.