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São Paulo, segunda-feira, 31 de março de 2003

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MÚSICA

Cordel do Fogo Encantado volta a se apresentar em SP

Cantadores de tempestades

GUILHERME WERNECK
DA REPORTAGEM LOCAL

"O meu cordel estradeiro/ Vem lhe pedir permissão/ Pra se tornar verdadeiro/ Pra se tornar mensageiro/ Da força do meu trovão."
Permissão aceita, o Cordel do Fogo Encantado levantou a lona de sua cidade natal -Arcoverde, no sertão de Pernambuco- e deu início a sua sina estradeira, levando poesia a quem esperava música, música a quem previa teatro e teatro a quem só ouvia poesia.
Parece confuso? Um pouco. Mas o fato é que o Cordel do Fogo Encantado, embora tenha se cristalizado na forma de uma banda de música, não cabe apenas nesse papel.
"Cordel do Fogo Encantado" era o nome do espetáculo montado em 1999 em Arcoverde. "O Cordel nasceu em um ambiente cênico. Era um espetáculo de poesias em que a música servia como uma ligação entre os poemas.", explica o vocalista José Paes de Lira, 26. "No teatro, a gente descobriu a possibilidade de compor. A música foi ganhando corpo e a poesia passou a ser colocada no meio das canções."
Ainda na esteira desse espetáculo, que acabou por batizar a banda, o Cordel começou a excursionar pelo Brasil e incorporou dois recifenses ao núcleo de Arcoverde. Os percussionistas Nego Henrique e Rafa Almeida juntaram-se a Lira, Clayton Barros (violão) e Emerson Calado (percussão).
O passo seguinte foi a gravação, independente, do disco de estréia, "Cordel do Fogo Encantado", de 2001. É um CD que retrata todo o universo lírico do sertão nordestino, marcado pela intercalação de poemas e de canções populares nas composições da banda. É uma música repleta de acentos cênicos, em que o violão e a percussão funcionam como um bloco sonoro a serviço das letras-poemas.
No final do ano passado, com a ajuda de leis de incentivo, o Cordel gravou seu segundo CD, "O Palhaço do Circo sem Futuro", considerado um dos dez melhores do ano pelo Folhateen. Nesse trabalho, produzido pela própria banda, a força lírica e a agressividade percussiva seguem o mesmo caminho trilhado no disco anterior, mas há um claro afastamento da temática regional.
"O primeiro disco foi composto em Arcoverde. Esse segundo é o encontro da banda com a sensação de estar longe do conforto da cidade original. É a tentativa de falar de sentimentos universais: medo, saudade, dor", diz Lira.
Embora os dois discos sejam primorosos, é ao vivo que o Cordel apresenta toda a sua exuberância. Lira se entrega à música com uma integridade que poucos cantores de hoje cultivam. Barros surpreende com o peso e o ritmo que consegue tirar de seu violão. E os três percussionistas criam um volume e uma tensão sem precedentes na música brasileira.
Isso tudo é ajudado pelo perfeito domínio de palco e pela transposição de técnicas de teatro para o show. Em todas as apresentações, há cenários montados e uma iluminação própria dos espetáculos teatrais. "Em vez de utilizar as cores no ritmo da música, a gente trabalha com os motivos do texto e com as sensações. A luz funciona para criar cenários, ambientes", diz Lira.
Quem estiver em São Paulo pode conferir o Cordel ao vivo na quinta (3/4), a partir da meia-noite, no KVA (r. Cardeal Arcoverde, 2.978 -tel. 0/ xx/11/3816-8000). Ingresso: R$ 16 (mulheres) e R$ 20 (homens).

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