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MÚSICA
Cordel do Fogo Encantado volta a se apresentar em SP
Cantadores de tempestades
GUILHERME WERNECK
DA REPORTAGEM LOCAL
"O meu cordel estradeiro/ Vem
lhe pedir permissão/ Pra se tornar verdadeiro/ Pra se tornar mensageiro/ Da força do meu trovão."
Permissão aceita, o Cordel do Fogo Encantado levantou a lona de
sua cidade natal -Arcoverde, no
sertão de Pernambuco- e deu início a sua sina estradeira, levando
poesia a quem esperava música,
música a quem previa teatro e teatro
a quem só ouvia poesia.
Parece confuso? Um pouco. Mas o
fato é que o Cordel do Fogo Encantado, embora tenha se cristalizado
na forma de uma banda de música,
não cabe apenas nesse papel.
"Cordel do Fogo Encantado" era
o nome do espetáculo montado em
1999 em Arcoverde. "O Cordel nasceu em um ambiente cênico. Era
um espetáculo de poesias em que a
música servia como uma ligação
entre os poemas.", explica o vocalista José Paes de Lira, 26. "No teatro, a
gente descobriu a possibilidade de
compor. A música foi ganhando
corpo e a poesia passou a ser colocada no meio das canções."
Ainda na esteira desse espetáculo,
que acabou por batizar a banda, o
Cordel começou a excursionar pelo
Brasil e incorporou dois recifenses
ao núcleo de Arcoverde. Os percussionistas Nego Henrique e Rafa Almeida juntaram-se a Lira, Clayton
Barros (violão) e Emerson Calado
(percussão).
O passo seguinte foi a gravação,
independente, do disco de estréia,
"Cordel do Fogo Encantado", de
2001. É um CD que retrata todo o
universo lírico do sertão nordestino, marcado pela intercalação de
poemas e de canções populares nas
composições da banda. É uma música repleta de acentos cênicos, em
que o violão e a percussão funcionam como um bloco sonoro a serviço das letras-poemas.
No final do ano passado, com a
ajuda de leis de incentivo, o Cordel
gravou seu segundo CD, "O Palhaço
do Circo sem Futuro", considerado
um dos dez melhores do ano pelo
Folhateen. Nesse trabalho, produzido pela própria banda, a força lírica e a agressividade percussiva seguem o mesmo caminho trilhado
no disco anterior, mas há um claro
afastamento da temática regional.
"O primeiro disco foi composto
em Arcoverde. Esse segundo é o encontro da banda com a sensação de
estar longe do conforto da cidade
original. É a tentativa de falar de
sentimentos universais: medo, saudade, dor", diz Lira.
Embora os dois discos sejam primorosos, é ao vivo que o Cordel
apresenta toda a sua exuberância.
Lira se entrega à música com uma
integridade que poucos cantores de
hoje cultivam. Barros surpreende
com o peso e o ritmo que consegue
tirar de seu violão. E os três percussionistas criam um volume e uma
tensão sem precedentes na música
brasileira.
Isso tudo é ajudado pelo perfeito
domínio de palco e pela transposição de técnicas de teatro para o
show. Em todas as apresentações,
há cenários montados e uma iluminação própria dos espetáculos teatrais. "Em vez de utilizar as cores no
ritmo da música, a gente trabalha
com os motivos do texto e com as
sensações. A luz funciona para criar
cenários, ambientes", diz Lira.
Quem estiver em São Paulo pode
conferir o Cordel ao vivo na quinta
(3/4), a partir da meia-noite, no
KVA (r. Cardeal Arcoverde, 2.978
-tel. 0/ xx/11/3816-8000). Ingresso:
R$ 16 (mulheres) e R$ 20 (homens).
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