São Paulo, segunda-feira, 31 de maio de 2004

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"O sexo de Catherine Millet é intelectual, o meu é instintivo"

DA REDAÇÃO

Leia abaixo trechos da entrevista que Melissa Panarello deu ao Folhateen, por telefone, de um hotel em Amsterdã, na Holanda, onde esteve na última semana para lançar seu livro. (SC)
 
Folhateen - O que você sente quando escreve sobre sexo?
Melissa Panarello -
Eu sempre fico excitada quando escrevo sobre qualquer assunto, não só quando falo de sexo. Para mim, escrever é sempre um processo muito emocional.
Folhateen - Você já havia escrito algo antes?
Melissa -
Sim, interessei-me muito cedo por poesia. Escrevi um pouco, depois fiz algumas pequenas histórias. Mas nunca pensei que o que escrevia um dia pudesse ser publicado.
Folhateen - Você fala muito de solidão no livro. Acha que o sexo é uma maneira de afastar a solidão?
Melissa -
Não. Sexo nunca foi para mim uma maneira de fugir da solidão. Na verdade, eu não tinha consciência sobre a solidão enquanto passava pelas experiências que relato. Só quando fui colocá-las no papel é que pude refletir e dei-me conta daquilo que procurava.
No momento em que vivi aquelas aventuras, não tinha claro por que estava fazendo tudo aquilo. Era mais um impulso.
Folhateen - Todas as experiências que você conta no livro são verdadeiras?
Melissa -
Sim, mas, durante o processo de escrita, algumas coisas foram dramatizadas ou personagens foram modificados para que eu pudesse construir a história de maneira literária.
Folhateen - Qual foi a reação de seus pais e de seus amigos depois que o livro foi publicado?
Melissa -
No começo, meus pais ficaram muito chocados e tentaram proibir a publicação. Depois aceitaram. A cidade onde eu vivia era muito pequena, e por isso as pessoas eram muito conservadoras. Mas meus amigos sempre encararam tudo numa boa.
Folhateen - Mas, hoje em dia, seus pais te apóiam?
Melissa -
Hoje eles vêem meu envolvimento com os livros como um trabalho.
Folhateen - Como você acha que seu livro se relaciona com o mundo em que vivemos?
Melissa -
Se eu tivesse escrito esse livro há cem anos, acho que teria sido muito diferente. Talvez a emoção fosse a mesma, mas as experiências seriam certamente outras. Hoje em dia, temos acesso a qualquer tipo de sexo, desde muito cedo, por meio da internet e de outros meios. É claro que fui influenciada por isso, como qualquer jovem hoje em dia é.
Folhateen - O que você acha das comparações que estão sendo feitas entre você e Catherine Millet?
Melissa -
Os dois livros são completamente diferentes. O sexo para Catherine Millet é muito intelectual. No meu caso, é puramente instintivo, até irracional. A única coisa que os dois livros têm em comum é o fato de falarem sobre sexo.
Folhateen - Você leu algo da literatura clássica sobre o tema, como o Marquês de Sade, por exemplo?
Melissa -
Leio muita literatura em geral. Mas gosto especialmente de Marquês de Sade, Anais Nin e Henry Miller [autores de clássicos da literatura erótica].


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