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LIVROS
Editoras apostam em escritores jovens e suas aventuras sexuais para causar polêmica e movimentar vendas
Através do espelho
SYLVIA COLOMBO
EDITORA DO FOLHATEEN
Quando as avós italianas recomendavam a suas netas que escovassem o cabelo cem vezes antes de irem
dormir, acreditavam que, assim, elas
ficariam mais bonitas, como as princesas dos livros de história. A italiana
Melissa Panarello, 18, entretanto,
sempre identificou esse gesto como
uma espécie de busca pela pureza.
Por isso, quando publicou um diário em que contava suas aventuras sexuais do período em que tinha apenas
16 anos, escolheu como título "Cem
Escovadas Antes de Ir para a Cama".
"É um gesto que me remete ao mundo dos contos de fadas e da inocência.
Eu também queria um título que fosse
misterioso e que não desse dicas sobre
o que o livro contém", disse Melissa
ao Folhateen .
E o que o livro contém está causando susto e escândalo em várias línguas e sotaques. Já traduzido para 18
idiomas -ao Brasil chega em julho,
pela Objetiva-, o diário mistura relatos de experiências sexuais diversas
(sexo em grupo, lesbianismo, voyeurismo e outras) com reflexões típicas
de uma garota da idade dela. O corpo,
a solidão, o medo e a vontade de amar
e as notas em matemática surgem entre suas preocupações constantes.
Depois de ter o coração partido pelo
namorado, ela passa a procurar
amantes na internet e a vagar pelas
ruas da cidade de Catania, na Sicília,
onde mora, a bordo de sua scooter. Os
destinos vão de encontros às cegas a
festas fechadas de sexo. Depois de cada uma de suas experiências, entretanto, acaba concluindo que só o que
quer é amar e ser amada.
O livro dessa "lolita" já vendeu mais
de um milhão de cópias só na Itália e é
parte de um fenômeno recente, que
tem despejado nas livrarias vários títulos de conteúdo "quente", escritos
por gente muito jovem.
Algo parecido já havia acontecido
nos anos 80, quando Bret Easton Ellis
lançou livros cheios de sexo e drogas
-"Abaixo de Zero" foi publicado
quando ele tinha 21 anos-, que retratavam aquela geração.
Os autores de hoje não parecem interessados em buscar uma identidade
coletiva, mas é certo que estão alimentando uma imensa avidez do mercado
por temas desse tipo.
De certa maneira, esses livros pegam carona em outro sucesso de vendas, "A Vida Sexual de Catherine M.",
da francesa Catherine Millet. Lançado
em 2001, a obra logo atingiu a marca
de 2 milhões de cópias vendidas.
Os exemplos se multiplicam. Nos últimos meses, pelo menos três títulos
do gênero foram lançados no Brasil.
"Hell-Paris 75016" (ed. Intrínseca), da
francesa Lolita Pille, 21, com um enredo carregado também de elogios ao
consumismo, "Doze" (Geração), de
Nick McDonell, 17, que narra aventuras dos adolescentes niilistas ricos de
Nova York, e "Política" (Companhia
das Letras), do mais velho, mas não
menos barulhento, Adam Thirlwell,
25, que fala de sexo a três.
Por onde são lançados, esses livros
têm causado intenso burburinho,
quando não protestos inflamados.
Nenhum deles, entretanto, provocou
-pelo menos não até agora- a reação que, na China, teve "Shangai
Baby" (ed. Globo), da jovem Wei Hui,
em 2002. Sua autobiografia sexual foi
proibida pelo governo chinês, e 40 mil
exemplares do romance foram queimados em praça pública.
Um dos lançamentos mais interessantes é "Generation S.L.U.T." (MTV
Books), de Marty Beckerman, 21, inédito no Brasil. "Slut" quer dizer "puta" em inglês, e, como sigla (S.L.U.T.),
significa "adolescentes urbanos sexualmente liberados". No livro, Beckerman mescla ficção, autobiografia,
entrevistas com jovens e estatísticas
para radiografar o comportamento
sexual da juventude americana hoje.
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