São Paulo, segunda, 31 de maio de 1999

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Epidemia mundial

FÁTIMA GIGLIOTTI
da Reportagem Local

É preciso muita falta de informação para se deixar incluir na lamentável média dos 50% de fumantes que morrem de doenças ligadas ao tabaco porque começaram a fumar antes dos 19 anos.
O tabagismo já é uma epidemia mundial pelo grande número de fumantes e pela variedade de doenças que causa.
Hoje comemora-se o Dia Mundial Sem Tabaco, promovido pela OMS (Organização Mundial da Saúde) para divulgar os dados atuais e os riscos do vício.
Você tem medo de Aids? É bom, mesmo, e mais ainda do cigarro. O fumo mata mais gente do que o HIV. Todo ano, morrem cerca de 3,5 milhões de pessoas de doenças relacionadas ao cigarro -cerca de 10 mil por dia. A OMS prevê que, em 20 anos, serão 10 milhões de mortes por ano, mais do que a soma das mortes por Aids, acidentes de carro, homicídio, suicídio, tuberculose e mortalidade infantil.
Se você pensa que isso tudo está distante do fumante jovem, confira os números: no Brasil, dos 33 milhões de fumantes, 5 milhões são jovens, afirma o pneumologista José Rosemberg, presidente do Comitê Coordenador de Controle de Tabagismo no Brasil. "Quem é dependente da nicotina até os 19 anos tem 90% de chance de se tornar fumante permanente", avisa.
"Cerca de 60% dos adolescentes que fumam por mais de 6 semanas vão fumar por mais de 40 anos", diz Ronaldo Laranjeira, psiquiatra da Uniad (Unidade de Álcool e Droga), da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). E por que tudo isso?
É a própria sociedade que leva o jovem a experimentar cigarro. Ele sofre a influência da família, dos amigos e, principalmente, da propaganda, que associa o cigarro à liberdade e aventura.
Para o psiquiatra, fumar acaba sendo um rito de passagem, como o primeiro beijo, a primeira experiência sexual. "Mas isso é totalmente artificial, o cigarro é o mal deste século, e o processo da adolescência existe desde que o mundo é mundo", protesta.
O supervisor do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, Montezuma Pimenta Ferreira, explica que "o tabaco é uma droga psicoativa, que modifica o funcionamento do cérebro, provoca aumento de atenção, inibe o apetite e tem efeitos estimulantes e sedativos, diminuindo a ansiedade em alguns momentos".
Mas o uso aumenta a tolerância e em dois anos, no máximo, vira dependência. Cada tragada é uma injeção de nicotina que acaba gerando outros efeitos bioquímicos e comportamentais, diz Ferreira. "Há fumantes que chegam ao limite de não conseguir se concentrar se não acendem um cigarro."
Por tudo isso, a OMS considera o tabagismo a maior causa de morte evitável do mundo. Afinal, qual é a vantagem de engrossar os 25% de jovens que morrem a partir dos 34 anos de doenças relacionadas ao cigarro porque começaram a fumar aos 15? Leia mais sobre as consequências do cigarro ao lado.





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