São Paulo, segunda-feira, 31 de agosto de 2009

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EDUCAÇÃO

Aula chata?! tô fora!

Muitos alunos não pensam duas vezes antes de aderir a um velho hábito escolar: cabular aula

ALAN DE FARIA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O tempo passou, as escolas melhoraram sua vigilância -algumas usam câmeras e catracas eletrônicas-, mas nada disso acabou com um velho hábito dos alunos: matar aulas.
Apesar do risco de serem pegos, muitos não pensam duas vezes em sair da sala (ou da escola) se a aula for "chata", "inútil" ou se a explicação do professor soar "confusa".
Para escapar do olhar atento do inspetor que fica no portão da Escola Estadual Elísio de Oliveira Neves, em Guarulhos (SP), Fernanda*, 14, tem um plano. Nas aulas de matemática e de história, ela se mistura aos estudantes das 7ª e 8ª séries, que saem 50 minutos antes.
"Não entendo muito bem a explicação dos professores. Então, prefiro sair da sala", diz. Às vezes, ela confessa, nem entra no colégio e passa a manhã conversando com as amigas nas ruas próximas à escola.
Paulo*, 18, atualmente no cursinho pré-vestibular, utilizava outras táticas. "Às vezes, fazia corpo mole fora da sala, pedia para ir ao banheiro e não voltava mais. Outras vezes, dizia que não estava me sentindo bem para ir à enfermaria e ficar por lá", conta. Durante o período fora da sala, o rapaz reunia os amigos para jogar truco.
Estudante do colégio particular Elias Moreira, em Joinville (SC), Clarissa*, 15, afirma que mata aulas cujos conteúdos ela não conseguiu entender muito bem durante a explicação do professor.
"Você nunca foi a uma aula em que o professor explicava, explicava... e, mesmo assim, você não entendia nada? Então, qual a diferença entre estar presente ou não?", defende-se.
Cabular aula é um ato comum na adolescência e na vida escolar, diz Maria Beatriz Loureiro de Oliveira, professora da Faculdade de Educação da Unesp (Universidade Estadual Paulista). "Quebrar regras é importante para a autoafirmação do adolescente", fala.
"A cultura de matar aula já está enraizada na vida escolar. É provável que muitos dos pais dos alunos já tenham cabulado também", diz Alexandre Ari Monich, coordenador dos ensinos fundamental e médio da escola catarinense Elias Moreira.
Nas escolas estaduais paulistas, quem não tiver 75% de presença ao longo do ano letivo é reprovado, segundo a Secretaria Estadual de Educação. "O jovem tem que assumir as consequências de seus atos", diz o coordenador Alexandre.

Cabulei: e agora?
João*, 18, pulava os muros da escola ou se escondia nos banheiros para não assistir a determinadas aulas. Certa vez, foi pego no flagra matando aula com um amigo, pelas câmeras do Colégio Objetivo, em Sorocaba (SP), onde estudou durante todo o ensino médio.
"Não aconteceu nada comigo, mas meu amigo tomou advertência, e a mãe dele foi chamada pelo colégio", diz ele.
No entanto, medidas como advertência e suspensão só são aplicadas em casos extremos, de acordo as escolas consultadas pelo Folhateen. Pais são comunicados e chamados pela direção a partir do momento em que o ato de matar aula se torna frequente.
"Quando cabular deixa de ser um fato esporádico e passa a ser rotineiro, é preciso investigar o que leva o jovem a não querer assistir às aulas. E os motivos podem ser vários, desde emocionais até mesmo intelectuais", diz Maria Beatriz.


* Nomes fictícios.


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