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EDUCAÇÃO
Aula chata?! tô fora!
Muitos alunos não pensam duas vezes antes de aderir a um velho hábito escolar: cabular aula
ALAN DE FARIA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O tempo passou, as escolas melhoraram
sua vigilância -algumas usam câmeras e
catracas eletrônicas-, mas nada disso acabou com um velho
hábito dos alunos: matar aulas.
Apesar do risco de serem pegos, muitos não pensam duas
vezes em sair da sala (ou da escola) se a aula for "chata", "inútil" ou se a explicação do professor soar "confusa".
Para escapar do olhar atento
do inspetor que fica no portão
da Escola Estadual Elísio de
Oliveira Neves, em Guarulhos
(SP), Fernanda*, 14, tem um
plano. Nas aulas de matemática
e de história, ela se mistura aos
estudantes das 7ª e 8ª séries,
que saem 50 minutos antes.
"Não entendo muito bem a
explicação dos professores. Então, prefiro sair da sala", diz. Às
vezes, ela confessa, nem entra
no colégio e passa a manhã conversando com as amigas nas
ruas próximas à escola.
Paulo*, 18, atualmente no
cursinho pré-vestibular, utilizava outras táticas. "Às vezes,
fazia corpo mole fora da sala,
pedia para ir ao banheiro e não
voltava mais. Outras vezes, dizia que não estava me sentindo
bem para ir à enfermaria e ficar
por lá", conta. Durante o período fora da sala, o rapaz reunia
os amigos para jogar truco.
Estudante do colégio particular Elias Moreira, em Joinville (SC), Clarissa*, 15, afirma
que mata aulas cujos conteúdos
ela não conseguiu entender
muito bem durante a explicação do professor.
"Você nunca foi a uma aula
em que o professor explicava,
explicava... e, mesmo assim, você não entendia nada? Então,
qual a diferença entre estar
presente ou não?", defende-se.
Cabular aula é um ato comum na adolescência e na vida
escolar, diz Maria Beatriz Loureiro de Oliveira, professora da
Faculdade de Educação da
Unesp (Universidade Estadual
Paulista). "Quebrar regras é
importante para a autoafirmação do adolescente", fala.
"A cultura de matar aula já
está enraizada na vida escolar.
É provável que muitos dos pais
dos alunos já tenham cabulado
também", diz Alexandre Ari
Monich, coordenador dos ensinos fundamental e médio da escola catarinense Elias Moreira.
Nas escolas estaduais paulistas, quem não tiver 75% de presença ao longo do ano letivo é
reprovado, segundo a Secretaria Estadual de Educação. "O
jovem tem que assumir as consequências de seus atos", diz o
coordenador Alexandre.
Cabulei: e agora?
João*, 18, pulava os muros da
escola ou se escondia nos banheiros para não assistir a determinadas aulas. Certa vez, foi
pego no flagra matando aula
com um amigo, pelas câmeras
do Colégio Objetivo, em Sorocaba (SP), onde estudou durante todo o ensino médio.
"Não aconteceu nada comigo, mas meu amigo tomou advertência, e a mãe dele foi chamada pelo colégio", diz ele.
No entanto, medidas como
advertência e suspensão só são
aplicadas em casos extremos,
de acordo as escolas consultadas pelo Folhateen. Pais são
comunicados e chamados pela
direção a partir do momento
em que o ato de matar aula se
torna frequente.
"Quando cabular deixa de ser
um fato esporádico e passa a
ser rotineiro, é preciso investigar o que leva o jovem a não
querer assistir às aulas. E os
motivos podem ser vários, desde emocionais até mesmo intelectuais", diz Maria Beatriz.
* Nomes fictícios.
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