São Paulo, segunda-feira, 31 de outubro de 2005

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MÚSICA

Dos integrantes do Queen multiplicados ao leão guitarrista do Charlie Brown Jr., três décadas de videoclipe se passaram; veja como

30 anos num clipe

GUILHERME BRYAN
ESPECIAL PARA A FOLHA

Antes de 1975, quando foi realizado o que para muitos é considerado o primeiro videoclipe da história da música -"Bohemian Rhapsody", do Queen-, o que víamos pela TV era o artista cantando sua música no palco de um programa, fazendo caretas para a câmera, com imagens coloridas no fundo.
Hoje, 30 anos depois, é possível observarmos um leão guitarrista que foge de um circo, faz sucesso como músico, é perseguido pela polícia por aprontar confusões e volta feliz para o mesmo circo, em "Champanhe e Água Benta", do Charlie Brown Jr.
Vistos pela televisão, baixados no computador e comprados em DVDs, os clipes são tão importantes para o sucesso de uma música que há vários profissionais especializados em realizar superproduções. É só prestar atenção nos clipes de artistas como Britney Spears, Avril Lavigne e Maroon 5.
Ao mesmo tempo em que as gravadoras geralmente financiam essas superproduções, muitos garotos compram uma câmera digital e um computador e realizam seus próprios clipes. Esse foi o caso do desenhista e ilustrador Didiu Rio Branco. Ele adorava ver os vídeos na TV até que foi convidado para fazer o clipe de animação "Próximo Alvo", da banda Ratos de Porão.
O desenho envolvendo o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, e o terrorista Osama Bin Laden fez tanto sucesso que, desde então, Didiu não pára de dirigir novos clipes. Mas nem todos os diretores independentes têm a mesma sorte.
A grande maioria vê seus vídeos passarem uma única vez na televisão. A saída, então, é divulgar o trabalho entre os amigos e disponibilizá-lo para download na internet. É o caso do primeiro clipe da banda No Fununcia, dirigido por Wesley Theodoro Lambert, 18. Desde os 11 anos, Wesley é fascinado por videoclipes. Agora, como diretor de clipes, o garoto sente as dificuldades.
Mas dirigir videoclipes também tem suas vantagens, como explica Drico Mello, diretor de "Vou Estar", do Capital Inicial. "Há total liberdade de criação e seu nome aparece o tempo todo na televisão."
Só que, se você for atrás dessa liberdade de criação, preste atenção no que diz Maurício Vidal: "Apesar de o clipe dar ao diretor a possibilidade de fazer um trabalho mais autoral, ele possui um limitador ou um inspirador: a música". O rapaz é um dos sócios da produtora Conseqüência, criadora dos clipes de animação de Frejat.
Há 30 anos, "Bohemian Rhapsody", do Queen, foi o primeiro clipe a contar com uma série de efeitos de imagens, capazes, por exemplo, de multiplicar as cabeças dos membros da banda. Antes disso, porém, algumas músicas dos Beatles já haviam se transformado em pequenos vídeos. A diferença é que eles foram feitos para que a banda pudesse aparecer ao mesmo tempo em diferentes programas de TV.
No Brasil, os videoclipes foram exibidos pela primeira vez no "Fantástico", da TV Globo. É provável que o primeiro tenha sido "América do Sul", dirigido por Nilton Travesso para Ney Matogrosso.
O videoclipe só passou mesmo a chamar a atenção da maioria das pessoas a partir de "Thriller", dirigido por John Landis em 1983. Nele, Michael Jackson se transformava em lobisomem e dançava pelas ruas.
A partir daí, muitos trouxeram histórias criativas, que vão desde bonecos feitos de Lego ("Feel In Love With a Girl", do White Stripes), passando por extraterrestres ("In This World", do Moby), até chegar a caixinhas de leite que vivem uma história de amor ("Coffee and TV", do Blur).
No Brasil, as gravadoras começaram a ver o videoclipe como algo importante para a divulgação de um artista em 1990, quando houve uma grande melhora na qualidade técnica e foi inaugurada a MTV Brasil.
Mas não parou por aí. O videoclipe vem amadurecendo e conquistando jovens diretores dispostos a utilizar os recursos ao seu alcance para agradar um público cada vez mais exigente. "Os videoclipes transmitem, ou tentam transmitir, da melhor maneira, o espírito da música. O melhor elogio que um diretor pode receber é alguém que lhe diga que passou a gostar da música, ou a gostar ainda mais dela, depois de assistir ao clipe", explica Oscar Rodrigues Alves, diretor de "Vou Deixar", do Skank.


Guilherme Bryan, 30, é autor de "Quem Tem um
Sonho Não Dança" (ed. Record)


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